Vacina da Pfizer
Reprodução: BBC News Brasil
Vacina da Pfizer

O intervalo ideal entre as duas doses da vacina contra a Covid-19 da Pfizer é de oito semanas, mostra novo estudo da Universidade de Oxford realizado com 503 profissionais de saúde. No Brasil, o intervalo entre as doses da Pfizer é de 12 semanas, estratégia que vem sendo questionada com o avanço da variante Delta no país. A redução do intervalo de aplicação aumentaria o número de pessoas totalmente imunizadas mais rapidamente.

A pesquisa analisou a resposta imunológica à vacina Pfizer variando de um intervalo de dosagem de três a 10 semanas. O intervalo mais longo mostrou algumas vantagens: os níveis de anticorpos neutralizantes foram duas vezes mais altos com o intervalo de 10 semanas do que com o de três semanas para todas as variantes, incluindo a Delta; o regime mais prolongado também melhorou a resposta das células T auxiliares, que suportam a memória imunológica.  Uma desvantagem, porém, para o intervalo mais longo, foi um declínio nos níveis de anticorpos entre a primeira e a segunda doses, em particular contra a variante Delta, deixando as pessoas mais desprotegidas entre a D1 e a D2.

De acordo com Susanna Dunachie, a principal pesquisadora do estudo, “oito semanas é provavelmente o ponto ideal” para a segunda dose, para conseguir o equilíbrio entre obter o máximo de pessoas totalmente vacinadas o mais rápido possível e com os níveis mais elevados de anticorpos.

A bula hoje registrada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) preconiza um intervalo entre doses, preferencialmente, de 21 dias. Segundo a Pfizer, a “segurança e eficácia da vacina não foram avaliadas em esquemas de dosagem diferentes”, mas “as indicações sobre regimes de dosagem ficam a critério das autoridades de saúde e podem incluir recomendações seguindo os princípios locais de saúde pública”.

Estudos anteriores mostraram que só com as duas doses a vacina da Pfizer tem efeito protetor significativo contra a variante Delta. Por isso o Reino Unido anunciou que passaria a vacinar seus cidadãos em intervalo de 8 semanas, e não mais 12, como no Brasil, afim de oferecer a mais pessoas proteção alta contra a Delta. O estudo de Oxford indica que a estratégia é correta.

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Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde informou que “acompanha a evolução das diferentes variantes do SARS-CoV-2 no território nacional e está atento a possibilidade de alterações no intervalo recomendado entre doses” das vacinas Covid-19. Segundo o ministério, o tema foi discutido em reunião da Câmara Técnica Assessora em Imunizações, no dia 16 de julho, mas ficou decidido manter o intervalo orientado.

Para a professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, que tem pós-doutorado em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins, a adoção de um intervalo de 12 semanas no Brasil não é correta pois nunca foi respaldada cientificamente: 

"Entendo que a decisão foi tomada num cenário de escassez de vacinas, mas deveríamos ter usado o intervalo aprovado pela Anvisa (de 21 dias). Se tivéssemos evidências sobre 12 semanas, o Ministério da Saúde deveria ter enviado para a Anvisa analisar e aprovar esse outro intervalo. Fazendo do jeito que fez, mudando o intervalo a despeito da aprovação da agência regulatória, foi ruim. Quando a gente foge do que foi apontado pelo estudo clínico, está num cenário de incerteza".

 Segundo a epidemiologista, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA foi muito crítico quando o Reino Unido resolveu adotar 12 semanas de intervalo entre as doses, depois reduzidas para oito. Ela espera que o Brasil ajuste sua estratégia. 

"A gente está sempre fazendo essas escolhas para corrigir o erro do atraso na compra de vacinas em 2020. Se tivermos um cronograma de entrega mais confiável, porque até hoje ele nunca foi cumprido, seria importante fazer essa mudança. Como o intervalo determinado pelos ensaios clínicos foi de 21 dias, tenho dúvidas sobre a eficácia da vacina até contra a Gama. Ainda mais contra a Delta".

(Com agências internacionais)

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