Médicos e cientistas estão investigando o motivo de pacientes recuperados de Covid-19 sofrerem de “névoa cerebral” e outros problemas relacionados ao cérebro, que podem durar por vários meses. Novas descobertas, apresentadas à Associação de Alzheimer na última quinta-feira (29), sugerem uma relação preocupante entre o coronavírus e as doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Os especialistas enfatizam, porém, que mais pesquisas são necessárias para confirmar a conexão. Alguns desses estudos já estão em andamento.
De acordo com a Medical Xpress, uma pesquisa recente, realizada na Argentina, descobriu uma quantidade surpreendente de mudanças cerebrais semelhantes ao Alzheimer em pacientes recuperados de Covid-19. O experimento acompanhou 300 adultos mais velhos (com 60 anos ou mais) por cerca de seis meses após a infecção pelo coronavírus – independentemente da gravidade da doença.
Entre três e seis meses após a infecção pelo vírus, cerca de 20% dos idosos tiveram problemas de memória de curto prazo. Outros 34% apresentaram comprometimento mais profundo, incluindo dificuldade em encontrar palavras e falhas na memória de longo prazo.
“É bastante assustador, se eu tiver que ser franco”, disse o Dr. Gabriel de Erausquin, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, que está liderando o estudo.
Muitas pesquisas têm analisado a atuação do coronavírus no cérebro devido a perda de olfato ser um dos sintomas mais relatados. Segundo o Dr Erausquin, a região olfativa do cérebro está diretamente ligada a áreas críticas para a memória. Nesse sentido, a incapacidade de distinguir cheiros pode ser um sinal precoce de doenças degenerativas como Alzheimer ou Parkinson.
Foi exatamente a relação de proximidade das áreas do cérebro relacionadas ao olfato e à memória que motivou a pesquisa que vem sendo realizada na Argentina. O estudo ainda não foi concluído, mas já aponta indícios importantes para a comunidade médica. As próximas etapas do experimento vão acompanhar pacientes mais jovens.
Uma pesquisa análoga, da Universidade de Nova York, observou amostras de plasma de 310 pessoas que deram entrada no hospital universitário e testaram positivo para Sars-CoV-2. Dessas, 158 apresentavam sintomas neurológicos.
Após análise, os pesquisadores encontraram biomarcadores relacionadas ao Alzheimer no sangue desses pacientes. Isso significa aqueles que se recuperaram da doença infecciosa podem apresentar sinais do mal neurodegenerativo.
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“As possibilidades são reais e preocupantes, mas é muito cedo para saber se isso realmente resultará em uma mudança cognitiva de longo prazo”, advertiu o Dr. Richard Hodes, diretor do National Institute on Aging (NIA), instituto que lidera esforços científicos para compreender a natureza do envelhecimento. A NIA, inclusive, já começou seu próprio estudo para desvendar a relação entre Covid-19 e Alzheimer.
Pesquisas anteriores sugeriram que certos vírus podem desempenhar um papel no Alzheimer. “A pandemia nos deu uma oportunidade indesejável para tentar finalmente entender melhor o porquê disso” disse Heather Snyder, da Alzheimer’s Association.
Diante de incertezas, especialistas reiteram que proteger o cérebro do coronavírus e também de uma possível tendência a desenvolver doenças neurodegenerativas é mais uma razão para as pessoas se vacinarem.