Covid-19: Por que alguns remédios podem reduzir resposta à 3ª dose da vacina?
Tomaz Silva/Agência Brasil
Covid-19: Por que alguns remédios podem reduzir resposta à 3ª dose da vacina?

Estudos sobre a aplicação da terceira dose de vacinas contra a Covid-19 em pacientes imunossuprimidos devido a transplantes recentes têm movimentado os periódicos científicos.

Enquanto uma pesquisa publicada neste fim de semana no New England Journal of Medicine mostra que uma terceira dose de reforço demonstrou uma proteção substancialmente melhor em pacientes transplantados, um outro estudo feito por pesquisadores do hospital universitário Charité, de Berlim — e ainda não revisado por pares —, indicou que pacientes que recebem medicação imunossupressora do tipo antimetabólito não conseguiram produzir resposta imunológica suficiente mesmo a uma terceira dose de reforço.

Pessoas que passam por transplantes precisam tomar remédios imunossupressores porque o corpo, via sistema imunológico, pode não se adaptar ao novo órgão recebido e começar a combatê-lo.

No estudo alemão foram avaliados 25 pacientes transplantados que haviam recebido as duas doses da vacina da Moderna com 21 dias de intervalo. Metade deles recebeu a terceira dose do mesmo imunizante cerca de 127 dias depois da primeira, enquanto a outra metade recebeu uma dose de reforço da AstraZeneca, dias após o imunizante "original".

Nenhum paciente conseguiu desenvolver resposta imunológica suficiente de imunoglobulina G (IgG) — que demonstra a imunidade — da proteína anti-Sars-CoV-2 antes da administração da terceira vacina. Apenas um dos voluntários do estudo não estava fazendo uso de remédio antimetabólito, tipo de medicamento que demonstrou diminuir a resposta imune em relação ao coronavírus.

Os níveis de anticorpos dos voluntários foram medidos em vários momentos, e apenas três dos 25 pacientes apresentaram níveis detectáveis de proteção uma semana após a aplicação da terceira dose. Outros nove mostraram evidências de produção imunológica em momentos posteriores.

Os níveis de IgG específico para Sars-CoV-2 foram significativos apenas entre três pacientes: dois que receberam a vacina da Moderna e outro que foi vacinado com AstraZeneca. A capacidade de neutralização do vírus atingiu o pico cerca de três semanas depois da aplicação da terceira dose.

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Diante dos resultados, os pesquisadores sugerem que a prescrição de remédios antimetabólitos em pacientes transplantados deva ser reduzida durante a pandemia de Covid-19, principalmente naqueles cujo transplante esteja estável e sem histórico de rejeição.

Estudo canadense obteve resultados positivos

Já outro estudo conduzido por cientistas do Centro de Transplante Ajmera na University Health Network (uma rede pública de pesquisa e ensino de hospitais em Toronto, no Canadá) mostrou que a dose de reforço apresentou uma melhora substancial da proteção contra a Covid-19. Este foi o primeiro ensaio clínico randomizado e controlado por placebo sobre o assunto.

O estudo envolveu 120 pacientes transplantados entre 25 de maio e 3 de junho. Nenhum deles teve Covid-19 anteriormente, e todos haviam recebido duas doses da vacina Moderna. Metade dos participantes recebeu uma terceira injeção da vacina (dois meses após a segunda dose) e a outra metade recebeu placebo.

Os pesquisadores perceberam um aumento na imunidade de ambos os grupos analisados. Aqueles que receberam a terceira dose do placebo apresentaram um aumento de 18% na presença de anticorpos, enquanto os que receberam as três doses do imunizante da Moderna apresentam uma resposta de 55%.

Os cientistas analisaram também os níveis de anticorpos neutralizantes e observaram que 60% dos pacientes que receberam a terceira dose da Moderna desenvolveram este tipo de proteção, contra 25% do grupo placebo.

O estudo randomizado duplo-cego controlado por placebo é considerado o padrão ouro em medicina, por mostrar se algo realmente funciona ou não. Esse estudo mostrou uma resposta definitivamente positiva do sistema imunológico contra o coronavírus.

A terceira vacina de reforço foi bem tolerada com apenas efeitos colaterais leves e não causou rejeições agudas de órgãos — um resultado importante, pois havia preocupações de que vacinações repetidas poderiam aumentar a incidência de rejeição de órgãos em receptores de transplantes.

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