Um grupo de entidades acadêmicas e da sociedade civil divulgou nesta quarta-feira uma lista de dez medidas que devem ser adotadas imediatamente pela cidade de São Paulo e região metropolitana para conter a variante Delta , que fez nesta terça-feira sua primeira vítima no estado .
A variante Delta do novo coronavírus, comprovadamente mais transmissível, ainda não é predominante no estado, mas já corresponde a 86% das cepas genotipadas no vizinho Rio de Janeiro, aumentando número de internações.
“Lamentavelmente, um clima irresponsável de “liberou geral” é promovido pelas autoridades do estado de São Paulo e da capital paulista. Enquanto isso, a temível variante Delta do Sars-Cov-2 continua avançando em todo o território brasileiro”, afirma o texto.
As propostas foram revisadas por cientistas do Observatório Covid-19 BR e discutidas por representantes da Coalizão pela Vida, Frente São Paulo pela Vida e Plenária de Saúde da Cidade de São Paulo, que reúnem mais de 500 entidades. Tem como objetivo, além de conter a variante tentar reverter a desigualdade nos efeitos da pandemia.
Segundo Beto Gonçalves, um dos coordenadores da Coalizão pela Vida, as medidas seguem cinco eixos principais: alinhamento com a Agenda Municipal 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, transparência nos dados e participação social, campanha de prevenção, controle e proteção, vacinação para populações mais vulneráveis e apoio socio econômico às vítimas diretas ou indiretas.
“A desigualdade foi aprofundada por uma gestão da crise sanitária que acaba protegendo os moradores das áreas mais ricas da cidade e abandona os mais pobres à própria sorte, que se veem obrigados a correr risco de vida em transporte público lotado e sem ventilação natural para poder buscar diariamente seus meios de sobrevivência. Defendemos que o poder público priorize a prevenção e os mais vulneráveis na gestão da pandemia”, diz o manifesto.
As medidas são:
1- Campanha de comunicação de massa sobre a variante Delta do novo coronavírus
O objetivo seria alertar sobre a maior capacidade de transmissão e a necessidade de cuidados preventivos, inclusive por quem já está com o esquema vacinal completo. O grupo também pede divulgação diária de testagem, internações e vacinação, com séries históricas;
2 - Ampla testagem populacional
Campanha de testes de antígeno RT-PCR ou RT-LAMP orientada por estudos epidemiológicos e combinada com rastreamento de contatos para busca ativa de casos, incluindo assintomáticos. O grupo também pede a testagem do esgoto, que “permite identificar declínio ou subida de casos com alguns dias de antecedência na comparação com a testagem”;
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3 - Distribuição de máscaras PFF2 e similares
Distribuição gratuita e permanente de kits individuais (contendo de 7 a 10 máscaras cada um), com orientações de uso. Além disso, “a prefeitura deve indicar o uso obrigatório em todos os ambientes de alto risco (locais fechados, mal ventilados ou com muita gente), inclusive no transporte público;
4- Plano emergencial para melhorar a ventilação natural em ambientes fechados
O plano deve conter medidas de melhoria da ventilação em todos os transportes coletivos, nas escolas, unidades de saúde e prédios privados e públicos com janelas precárias, inexistentes ou ineficazes para oferecer segurança sanitária, seguida por fiscalização dos órgãos públicos responsáveis;
5 - Ampliação da frota de transportes públicos
Limitar o número de passageiros para evitar superlotação e estimular ações voluntárias e determinar normas compulsórias para o escalonamento dos horários de entrada e saída das empresas por setores econômicos (indústria, serviços e comércio). O grupo também pede que o poder público avance na expansão da malha cicloviária acoplada a estacionamentos públicos de bicicletas;
6 - Investimento na atenção primária em saúde
Apoio material e institucional para aprimorar o treinamento técnico dos agentes comunitários de saúde, em especial no enfrentamento da variante Delta. Isso inclui atendimento de grupos vulneráveis, testagem e orientação da população a respeito de sintomas, prevenção, tratamento, vacinação e sequelas pós-Covid (Covid longa).
7 - Intensificação da vacinação, priorizando a periferia e os mais vulneráveis
Iniciar imediatamente um programa de unidades móveis. Ampliar a rede de postos de vacinação e realizar busca ativa de pessoas faltantes à vacinação e/ou vacinadas apenas com a primeira dose. Seria também uma oportunidade para realizar testagem com antígeno e distribuir máscaras de boa qualidade;
8 - Cuidado integral das vítimas
O programa deve incluir medidas de apoio à população pobre afetada direta e indiretamente pela pandemia. Deve contemplar a saúde física e mental e ações socioeconômicas, como apoio alimentar e de renda aos mais pobres, além de reforço escolar para crianças e adolescentes das escolas públicas e do uso de áreas verdes públicas e privadas para a recuperação da população afetada pela pandemia, sobretudo os mais pobres;
9 - Suspensão de todos os desalojamentos
Suspender despejos, reintegrações de posse e, também, a cobrança das prestações de moradores de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda durante a pandemia (Sehab, Cohab e CDHU, por exemplo). Ampliar o programa de aluguel/locação social de famílias em situação de alta vulnerabilidade.
10 - Expansão dos programas de segurança alimentar
Assegurar o fornecimento de cestas básicas a famílias de alunos que não retornaram às aulas presenciais e ampliar a rede de restaurantes populares e cozinhas comunitárias para além do centro expandido.