Rio: Estoque de vacina tem discrepância em relação a dados estaduais e federais
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Rio: Estoque de vacina tem discrepância em relação a dados estaduais e federais

Um levantamento do GLOBO a partir de dados do Ministério da Saúde e da Secretaria estadual de Saúde (SES) indica uma discrepância de 342 mil doses entre a quantidade de doses da vacina do Instituto Butantan recebidas pela  cidade do Rio até agora e o número de doses do imunizante de fato aplicadas no município. A SMS diz que seu estoque atual de CoronaVac é de apenas 3.200 doses e atribui a diferença a possíveis  atrasos na atualização dos registros de vacinados, provavelmente decorrentes de falhas no banco de dados nacional, o Sistema de Informações do Plano Nacional de Imunizações (SI-PNI).

A discrepância entre o dado informado pela secretaria e o das demais fontes oficiais é de 338.800 doses. A distribuição da segunda dose da CoronaVac na cidade,  interrompida nesta quinta-feira, segue suspensa pelo segundo dia seguido.

Segundo o governo estadual, a cidade do Rio recebeu até agora 2.981.593 doses da CoronaVac. Contudo, de acordo com a mais recente atualização do LocalizaSUS, plataforma do Ministério da Saúde alimentada pelos municípios por meio do SI-PNI, o Rio aplicou até o dia 1º de setembro, véspera da interrupção da distribuição de segunda dose da CoronaVac na cidade, 2.639.312 doses da vacina produzida pelo Butantan.

Uma diferença de 342.281 doses, que estariam todas disponíveis para aplicação imediata, apesar da suspensão da aplicação de segunda dose do imunizante nesta quinta-feira.

Conforme orientação da SES, 1.369.088 das doses de CoronaVac recebidas pelo Rio até agora eram destinadas à primeira dose. O restante, 1.612.505 doses, deveria ser reservado à injeção de reforço. No entanto, de acordo com o LocalizaSUS, o Rio aplicou, desde o início da campanha até esta quarta-feira, 1.525.540 primeiras doses de CoronaVac. Isso indica que, ao longo da vacinação, 156.452 segundas doses da vacina foram usadas como D1. Um número menor do que o informado pela SMS (191.059).

Segundo a pasta, as discrepâncias nas contas podem ainda ter acontecido no início da campanha, quando o Instituto Butantan passou a distribuir frascos multidoses (cinco ou dez doses por frasco). Assim, a depender do lote, o número de doses da CoronaVac realmente aplicadas pela cidade pode ter sido cinco ou dez vezes maior do que a contagem do governo federal.

O Ministério da Saúde não respondeu à reportagem.

Mudança de orientação

Ao longo do último mês, a Prefeitura do Rio redirecionou para a aplicação de primeira dose cerca de 191 mil doses da CoronaVac originalmente reservadas para a segunda, de acordo com a Secretaria municipal de Saúde (SMS). A pasta reconhece que essas doses estavam previstas para serem distribuídas, a título de injeção de reforço, nas próximas quatro semanas. A distribuição da segunda dose da CoronaVac na cidade, interrompida nesta quinta-feira, segue suspensa pelo segundo dia seguido.

A decisão de privilegiar a aplicação da primeira dose em detrimento da segunda vai de encontro a posicionamentos antigos do prefeito Eduardo Paes, que no passado já chegou a garantir que a cidade mantinha uma reserva permanente de vacina para evitar que as doses de reforço se esgotassem. Em abril, quando o Ministério da Saúde liberou que os municípios usassem o estoque de D2 para a D1, Paes disse que o Rio “sempre tem uma gordura”:

"A gente sempre tem uma cobertura, uma gordura que, mesmo que haja algum atraso, a gente não tem que parar o processo de vacinação", disse o prefeito na ocasião, segundo o G1.

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Em nota, a SMS diz que “a cidade do Rio de Janeiro organiza seu calendário para aplicar as doses de vacina no menor tempo possível” e “conforme os contratos do Ministério da Saúde, não reservando vacinas para a segunda dose por mais de uma semana”. Com isso, a pasta afirma conseguir “manter o maior número de pessoas imunizadas no menor tempo possível”.

Ainda segundo a secretaria, o encerramento do ciclo vacinal das 191 mil pessoas que ainda não têm a garantia da segunda dose estaria assegurado caso o Ministério da Saúde já tivesse enviado a remessa mínima de 300 mil doses de CoronaVac que o Rio aguarda do Ministério da Saúde, ainda em estoque nos aposentos do governo federal. “O saldo de CoronaVac é insuficiente para a manutenção regular de aplicação da segunda dose das 4.312 pessoas agendadas para esta sexta-feira”, escreve a pasta.

Alguns postos da cidade ministraram a injeção de reforço da vacina do Instituto Butantan normalmente nesta quinta-feira, como a unidade do Museu da República, na Zona Sul, conforme o GLOBO registrou. Em grupos nas redes sociais, cariocas relataram terem conseguido tomar a segunda dose da CoronaVac também na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca; no Imperator, no Méier; e na Policlínica Hélio Pellegrino, na Praça da Bandeira.

À reportagem, SMS disse que as doses de CoronaVac aplicadas nesta quinta-feira foram ministradas para “oportunizar” a imunização, ou seja, para não desperdiçar a ocasião do comparecimento daqueles que desejavam tomar a D2.

Nos ofícios de distribuição de vacinas, a Secretaria estadual de Saúde vem alertando os municípios a não redirecionar doses reservadas para a D2 da CoronaVac, já que não há previsão de repasse de frascos extras pelo Ministério da Saúde. Nesse contexto, o uso de CoronaVac para a aplicação da D1, suspenso em abril no município do Rio devido à redução na previsão de entregas do Instituto Butantan, foi retomado em junho.

Entre os dias 18 e 19 daquele mês, o número diário de primeiras doses da CoronaVac aplicadas saltou de 345 para 7.640. Em 17 de agosto, a SMS chegou a aplicar 58.900 primeiras doses da vacina do Butantan num único dia.

Ao GLOBO, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, atribuiu o aumento de aplicações da primeira dose da CoronaVac ao efeito dos decretos que estabelecem o chamado “passaporte da vacina”:

"Na última sexta-feira e no sábado, sentimos um desequilíbrio devido ao aumento de procura. Mas, como a gente tinha notícia de que o Butantan faria novas entregas, mantivemos a aplicação de D1 da CoronaVac durante a semana. Na segunda-feira, 26 mil pessoas foram atendidas só de repescagem da primeira dose".

Na noite desta quinta-feira, a SMS informou ter recebido novas previsões de entrega da CoronaVac do Ministério da Saúde, e a aplicação da segunda dose da vacina na cidade deve ser retomada até o sábado de manhã.

No entanto, a vacinação de adolescentes com o imunizante da Pfizer, que também está suspensa, ainda não tem previsão de retomada, já que, segundo a secretaria, as doses disponbilizadas até agora são suficientes apenas para a aplicação da injeção de reforço na semana que vem.

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