A exposição prolongada à poluição causa problemas que vão além das doenças respiratórias e pouco imaginadas. Ela contribui para a obesidade. Foi o que mostrou um trabalho conduzido pela Fundação Lung Care e pela Fundação Pulmocare de Pesquisa e Educação (Pure, na sigla em inglês), em Nova Déli, na Índia, que estabeleceu a relação entre a qualidade do ar e o metabolismo humano.
O estudo analisou cerca de 3.000 crianças de 12 escolas indianas localizadas em Nova Déli, uma das cidades mais poluídas do mundo, e também em Kottayam e Mysore.
As duas últimas possuem qualidade de ar melhor. Em Déli, que atinge níveis alarmantes de poluição todos os anos, 39,8% das crianças estavam acima do peso; já nas outras cidades mais afastadas, 16,4% eram consideradas obesas. As crianças são mais sensíveis à ação da poluição. A pesquisa também isolou outros fatores de risco para o ganho de peso entre elas.
Segundo o diretor da Pure, Sundeep Salvi, os poluentes do ar contêm os chamados obesogênicos. Criado pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o termo refere-se a substâncias responsáveis por contribuir no ganho de peso sem que a pessoa tenha consciência de que está engordando. Embalagens de alimentos, remédios, tubos de PVC, por exemplo, contêm esses compostos. A ingestão crônica desregula regiões do cérebro que controlam a saciedade e preferências alimentares.
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Doenças respiratórias
Havia uma suspeita dessa associação, mas agora o trabalho comprova. Estudos anteriores, como da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, apontavam para uma relação entre a poluição nas cidades e problemas de resistência à insulina e hipertensão.
Conforme também observado no estudo, a interferência na insulina, o hormônio que atua no controle do nível de glicose no sangue, pode provocar uma série de distúrbios no metabolismo, levando a diabetes, problemas cardiovasculares e obesidade. O motivo disso são as partículas poluentes que, quando inaladas, são capazes de causar irritações nos tecidos, gerando reações em cadeia que alteram o funcionamento normal do organismo.
As doenças respiratórias também foram analisadas no estudo da Fundação Pulmocare de Pesquisa e Educação. A pesquisa mostrou que as crianças têm um risco 79% maior de ter asma, em decorrência dos poluentes presentes no ar, além de estarem mais propensas a desenvolver outros sintomas de alergia respiratória.
Ao menos 29,3% da meninas e meninos de Nova Déli apresentaram algum problema nos testes de respiração, contra 22,6% daquelas que moram em Kottayam e Mysore.