Índice de mamografia caiu no país
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Índice de mamografia caiu no país

A cada quatro pessoas diagnosticadas com  câncer no mundo, uma tem câncer de mama. No Brasil, os especialistas chamam atenção para um dado preocupante, e que se agravou durante a pandemia, a queda no número de mulheres que faz a mamografia como exame preventivo.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), no primeiro semestre de 2020, quando o número de casos de covid-19 explodiu no Brasil, apenas 1,1 milhão de exames foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa uma queda de 45% em relação ao mesmo período em 2019, quando registrou-se 2,1 exames.

A quantidade representa apenas 20% do público de mulheres de 50 a 69 anos no país, faixa etária em que a mamografia é recomendada. Para efeito comparativo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 70% das mulheres passem pelo procedimento.

“Atualmente, a mamografia é o exame mais indicado para a detecção precoce do câncer de mama, já que permite a identificação de tumores muito pequenos e, consequentemente, nos estágios iniciais da doença. A agilidade no diagnóstico é o que determina como será o tratamento, as possibilidades de cura e o tempo de sobrevida da mulher", explica Carlos dos Anjos, oncologista clínico do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

Para o médico, é preciso entender o que faz com que essas mulheres não procurem pelo exame preventivo nos serviço público de saúde.

Em busca de respostas, especialistas analisaram 22 estudos publicados de 2006 a 2020 no periódico especializado Nursing Open, e listaram 41 motivos que podem influenciar no afastamento dessas mulheres da mamografia.

A desigualdade econômica é apontada como um dos principais fatores. Segundo a SBM, mulheres com uma condição social mais elevada, maior renda e grau de instrução tentem à aderir ao exame com mais facilidade.

Países em desenvolvimento, como o Brasil, já representam 62% das mortes por câncer de mama em todo mundo. E os números continuam crescendo.

A falta de informação e a dificuldade em acessar um dos 4,2 mamógrafos dispostos pelo país pesa - lembrando que, pelo SUS, é necessário passar por um serviço de acolhimento e consulta até receber o encaminhamento para o exame. Segundo o estudo, mulheres que passam por consulta médica e acompanhamento tem maior predisposição a realizá-lo.

O fato de já ter histórico de câncer de mama na família, ter nódulos benignos ou apresentar fatores de risco, como ser tabagista ou estar na menopausa, não interfere nessa busca, segundo o Dr. Carlos.

“É possível indicar que uma parcela da população não tenha conhecimento sobre quais são os comportamentos e características de saúde que podem contribuir para o surgimento do tumor e que por isso orientam para a indicação de realização do exame", alerta o Dr. Carlos.

Falta de tempo, desconfiança, fatores étnicos, culturais, religiosos. Estigmas, vergonha, medo, falta de confiança nos profissionais de saúde, e até mesmo o sexo do profissional: tudo contribui para que as mulheres se afastem da mamografia no Brasil, segundo um outro levantamento, publicado pela Spandidos Publication após a análise de 19 estudos publicados em todo o mundo, feitos com mais de 250 mil mulheres.

O oncologista reforça que essa queda nos índices pode causar 4 mil novos casos de câncer de mama nos próximos anos.

"Com o início da retomada das atividades, é imprescindível que as mulheres priorizem a sua saúde e busquem pela mamografia. Esses casos precisam ser diagnosticados o quanto antes, pois a cada dia que passa, o câncer avança", diz.

"Culturalmente, a brasileira coloca o cuidado com o companheiro, a família e os amigos em primeiro lugar, mas isso precisa mudar. Essa rede de apoio pode e deve priorizar a saúde da mulher e auxiliá-la nessa jornada, seja para o diagnóstico precoce ou apoio durante o tratamento do câncer”, reforça o oncologista.

A mamografia é indicada para mulheres a partir dos 40 anos. Quanto mais rápido o diagnóstico, maiores as chances de uma recuperação.

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