O caminho a ser percorrido ainda é longo, mas esperançoso. Um estudo liderado pelo pesquisador Ricardo Diaz, da Escola de Medicina da Unifesp, busca a erradicação de vírus do HIV de pessoas soropositivas.
O projeto começou em 2014, com o objetivo de "aproximar as pessoas da cura", conta Diaz. "omeçamos a desenhar um estudo para associar intervenções, tratamentos, medicamentos, terapia celular, tudo para diminuir a quantidade de vírus que as pessoas tem dentro do corpo e estão 'dormindo'", conta.
Na primeira fase do estudo, que ainda não foi publicado, 30 pessoas - todos homens - receberam a combinação de medicamentos e vacinas personalizadas, feitas com base na genética de cada participante. No tratamento tradicional, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente recebe três medicamentos, o chamado coquetel, que inibe a reprodução do vírus.
A grande questão, segundo o especialista, é que mesmo que fique indetectável, o HIV não é eliminado do organismo. Se o tratamento parar, o vírus pode voltar.
"Nós administramos cinco medicamentos. Fazemos o que se chama de terapia celular, um tratamento que é mais intenso do que o que temos hoje em dia", conta. "O tratamento tradicional é suficiente para as pessoas terem uma expectativa de vida igual ou maior do que quem não tem a doença, com expectativa de vida maior ou superior. O que estamos tentando fazer é um tratamento que aproxime as pessoas da cura".
"Já vimos pacientes curados com transplantes de medula óssea, já sabemos que isso é uma coisa possível. Temos que tentar achar algo que não seja tão agressivo, que possa cumprir o objetivo de livrar o corpo das pessoas do vírus", completa.
O estudo vai entrar na chamada "fase 2" até o final do ano, que incluirá 70 pessoas - desta vez, com mulheres, que segundo o especialista são menos afetadas pela doença.
A expectativa para o futuro é fazer com que as pessoas não precisem tomar medicamentos de forma "crônica".
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"Do jeito que está hoje, está bom, mas a gente pode avançar, deixar as pessoas com o que chamamos de cura funcional, tirando o medicamento e o que sobrou de vírus, se é que sobrou algum, em um lugar onde não seja possível sair do corpo, além da imunidade fortalecida."
Segundo Diaz, não há estudo com a mesma lógica sendo conduzido em outro país no mundo. "Existem outros estudos, com outras estratégias, outros medicamentos, e às vezes com o memso fim. Por exemplo, terapias para melhorar a imunidade. Mas não igual ao nosso, com nossos medicamentos, nossa administração."
"Filme de trás para frente"
Há 30 anos, falar sequer em um tratamento para o HIV soaria impossível. Com o avanço da ciência, o pesquisador afirma que a doença é um "filme visto de trás para frente".
"No início da década de 80, vimos muita gente morrendo. Mas com o passar do tempo, começamos a entender o que causava a infecção, o que era o vírus, e começamos a detectar os infectados assintomáticos sem entender ocmo o vírus vivia dentro das pessoas", conta.
"Os medicamentos começaram a fazer com que a imunidade não se deteriorasse por causa do vírus, e cada vez mais a expectativa de vida das pessoas foi aumentando a ponto de que hoje, temos tratamentos tão mais amistosos e eficientes".
"A gente não enxerga mais o vírus se multiplicando, e normalizamos que a expectativa de vida das pessoas com HIV, nos estudos, é igual - ou até maior - que quem não tem, porque vão mais ao médico, conseguem descobrir comorbidades com maior rapidez."