Pesquisadores argentinos e americanos relataram, nesta terça-feira, ter encontrado a segunda paciente que, possivelmente, foi curada do HIV (vírus da imunodeficiência humana) pelo próprio sistema imunológico. Nos exames feitos pela mulher de 30 anos, moradora da cidade de Esperanza, na Argentina, não foram encontrados vírus do HIV com genoma intacto — condição que possibilita sua replicação no corpo — mesmo sem que ela tenha feito tratamento.
As análises mostraram apenas sete provírus defeituosos — uma forma de vírus que é integrado ao material genético de uma célula hospedeira como parte do ciclo de replicação. O caso foi publicado na revista Anais de Medicina Interna.
Para os cientistas, os resultados sugerem que a "paciente Esperança", como passou a ser chamada, pode ter alcançado naturalmente a cura esterilizante — ausência de vírus circulante sem terapia antirretroviral e eliminação dos reservatórios virais (o DNA pró -viral não é encontrado na matriz do DNA humano).
A mulher havia recebido o diagnóstico de HIV em 2013. Os cientistas analisaram exames de sangue feitos por ela entre 2017 e 2020. Em março do ano passado ela teve um bebê, o que permitiu a análise também de seu tecido placentário.
Os pesquisadores não sabem explicar como seria possível o corpo humano se curar sozinho da infecção pelo vírus HIV. No entanto, eles acreditam que seja uma combinação de diferentes mecanimos imunologicos envolvendo células T citotóxicas e o sistema imune inato.
Pessoas que conseguem manejar bem a replicação viral do HIV sem o uso de medicação são chamados de "controladores de elite". Outro caso igual à mulher argentina já havia acontecido uma única vez. Uma paciente americana identificada como Loreen Willenberg, de 66 anos, foi a primeira a apresentar uma cura esterilizante sem tratamento para o HIV.
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Apesar de raros, os cientistas acreditam que estes dois casos mostram que é possível encontrar a cura para o HIV e não apenas o controle que impeça a infecção progredir para a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).
Cura via transplante
Outros casos de cura do HIV já foram relatados na literatura médica. No entanto, eles estavam associados ao transplante de células-tronco. Dois homens que além de HIV desenvolveram leucemia e linfoma de Hodgkin foram submetidos ao transplante de medula óssea para tratar de seus cânceres e observaram, como consequência, a cura do HIV. Ambos receberam células-tronco de doadores que apresentam uma mutação genética resistente ao HIV.
No entanto, este tipo de terapia não se mostrou eficaz em outros pacientes que também estavam infectados pelo vírus. O transplante de medula óssea produz novas células de defesa do paciente transplantado, o que pode trazer riscos, como o reconhecimento de órgãos saudáveis como corpos estranhos que precisam ser combatidos.