Dois meses após o Ministério da Saúde anunciar que todos os idosos a partir de 60 anos poderiam tomar a dose de reforço da vacina contra a Covid-19, só 34,2% deles a receberam. Segundo dados do vacinômetro da pasta, só 10.403.093 tomaram o reforço até esta sexta-feira, dos 30.357.524 que compõem a população estimada da faixa etária.
Nesse cenário, há maior risco para internações e mortes diante do maior número de infectados, seja pela flexibilização de medidas restritivas, seja pela Ômicron.
A nova cepa pode figurar como um desafio para a pandemia, mas ainda faltam estudos para verificar se há maior taxa de transmissão e escape vacinal. Dessa forma, o reforço da imunização atuaria como uma barreira para o avanço dela pelo país.
"Esse dado (de 34,2%) é muito preocupante, porque esse público é preferencial para receber o reforço, porque a idade influencia na efetividade das vacinas. Então, ter uma dose de reforço é fundamental para garantir, para esse público que já tem maior risco para hospitalização e óbito, proteção contra esses desfechos mais graves", avalia o professor de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda.
Entre os gargalos para alavancar a cobertura entre idosos, especialistas avaliam que faltam campanhas de comunicação e de conscientização sobre a importância da dose de reforço para idosos, o que pode levar à menor procura nas revacinações. Nessa esteira, o pesquisador avalia que uma taxa de 95% seria satisfatória para o reforço dos idosos:
"Como esse público acima de 60 anos é de maior risco e foi o primeiro a receber vacina no início de 2021, é fundamental que estejam completamente vacinados e com a dose de reforço para que a gente não tenha impacto da chegada da Ômicron", continua o pesquisador.
Além disso, há hesitação diante de eventos adversos, como dor no braço e no corpo. Pesquisadores reiteram a segurança e a eficácia do reforço no combate à Covid-19, sobretudo para o grupo — que tem menor imunidade devido ao envelhecimento natural do sistema imunológico — diante da Delta, já alastrada pelo país, e da Ômicron, detectada em São Paulo e no Distrito Federal.
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"Ainda temos poucos dados conclusivos sobre a Ômicron, mas muitos indicativos apontando que as vacinas podem conferir algum grau importante de proteção mesmo considerando essa variante. Por isso, é extremamente relevante fazer a busca por quem ainda não se vacinou, ampliar a cobertura vacinal para a segunda dose, e também para o reforço, em especial nessas populações mais vulneráveis", ressalta a biomédica e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise COVID-19.
Em novembro, o órgão reduziu de seis para cinco meses o intervalo para o reforço e realizou campanha de megavacinação, mas a cobertura segue em baixa. Motivada pelos 21 milhões de “faltosos” da segunda dose e pela baixa procura pelo reforço para idosos, a iniciativa realizada de 20 a 26 de novembro viu a baixa cobertura se manter. São Paulo diminuiu em mais um mês o intervalo na última quinta-feira, o que vai na contramão da pasta — que não estuda medida semelhante até o momento.
Para o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Renato Kfouri, o desafio é manter o interesse pela vacinação com o passar do tempo:
"Criar ‘pool’ de suscetíveis (quantidade de pessoas vulneráveis) aumenta o risco de novas ondas", afirma.
A pasta estendeu a dose de reforço a toda a população adulta que tenha completado o ciclo de imunização há pelo menos cinco meses. Estados e municípios, contudo, têm autonomia para definir os cronogramas de vacinação.
Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Saúde informou que já enviou todas as doses necessárias para o reforço da população apta a recebê-la. Contudo, a pasta não respondeu, até o fechamento desta publicação, a população estimada por mês de idosos que podem tomar essa dose e nem quais medidas estuda adotar para reverter a baixa cobertura.