Câmara de Japeri
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Câmara de Japeri

A epidemia de gripe, que atinge a capital, chegou à Baixada Fluminense. Japeri divulgou que a cidade vem registrando um grande número de pessoas com sintomas da gripe e confirmou que acredita viver uma epidemia. A contaminação já pode ter se espalhado. Um documento da Secretaria estadual de Saúde (SES), obtido pelo GLOBO, mostra que houve crescimento expressivo de atendimentos de casos de síndrome gripal em Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de pelo menos seis municípios: Queimados, Itaboraí, São Gonçalo, Niterói, Mesquita e São Pedro da Aldeia.

De acordo com a SES, Belford Roxo, Duque de Caxias e São João de Meriti — todas na Baixada — também comunicaram, por meio do Sistema de Agravos Notificáveis (Sinan), do Ministério da Saúde, uma maior circulação da influenza.

Para o pesquisador Leonardo Bastos, do Observatório Covid-19 BR, um dos criadores do boletim InfoGripe, da Fiocruz, o estado inteiro já vive uma epidemia de gripe — embora o governo estadual tenha rejeitado, a princípio, atribuir esse rótulo à situação epidemiológica do Rio.

"Eu diria que o estado está numa epidemia, sim. Mesma lógica que na capital, os casos e hospitalizações aumentaram e se espalharam", diz.

A professora de epidemiologia da UERJ Gulnar Azevedo concorda que a região metropolitana do Rio já está em uma situação de epidemia, que pode rapidamente se estender para todo estado. Ela explica que não existe um ponto exato para considerar o estado de epidemia, mas que pontos no caso da influenza são chaves: a crescente de casos, o número de cidades que percebem o aumento do atendimento de pessoas com suspeitas de gripe e a taxa de positividade alta para a doença:

"É um momento não esperado para a quantidade de casos de influenza A. Vemos a cada dia o número de cidades com casos confirmados aumentando, o que indica que o vírus está circulando rapidamente. O risco de virar uma epidemia em todo estado é muito grande", diz a especialista.

Nesta semana a Fiocruz emitiu um alerta de que a tendência é que o vírus se alastre pelo país. Procurada, a secretaria estadual de Saúde diz que considera haver uma epidemia apenas na capital e no restante da região metropolitana observa um aumento de casos. A pasta ainda diz ter colocado em prática um plano de contingência para atender os pacientes nas UPAs administradas pelo estado.

Início pela capital

A apresentação “Atualização do Cenário Epidemiológico Covid-19 e Influenza”, documento do governo estadual obtido pelo GLOBO, mostra, em gráficos, a evolução do número de casos de síndrome gripal em algumas UPAs estaduais — um fenômeno que, segundo o relatório, começou a acontecer no dia 22 de novembro, na cidade do Rio.

Entre as unidades de fora da capital mencionadas no texto, a primeira a registrar uma alta na demanda por casos de gripe foi a São Gonçalo I, no dia 26. No dia 29, um aumento de fluxo semelhante foi percebido na UPA São Gonçalo II (Santa Luzia). As unidades de Itaboraí, Mesquita e Niterói começaram a receber mais pacientes no dia 1º de dezembro. Em seguida, foi a vez das UPAs de Queimados e São Pedro da Aldeia de registrar um crescimento no número de casos de síndrome gripal, no dia 2.

Com 54,1% de cobertura vacinal para a influenza na última campanha, Duque de Caxias teve uma alta que em algumas unidades chegou a um patamar de 300%, informa a prefeitura. Já Niterói teve uma alta de cerca de 30%, de acordo com o município. A maior parte das pessoas apresentou casos leves; entre os testados, predominou o diagnóstico negativo para a Covid-19.

De acordo com a apresentação do estado, a taxa de positividade para influenza A nas amostras analisadas pelo Laboratório Central Noel Nutels (Lacen-RJ) saltou de 10,19%, na semana de 14 a 20 de novembro, para 53,11% entre 1º e 6 de dezembro. No primeiro período de referência, foram analisadas 432 amostras; no segundo, 1013.

Enquanto isso, a taxa de positividade para SARS-Cov-2, o vírus da Covid-19, caiu de 5,5% entre 14 e 20 de novembro para 2,6% entre 29 de novembro e 5 de dezembro. Foram analisadas 3234 amostras no primeiro período e 6270 no segundo, informa o documento.

Maior alta foi em crianças

O relatório da SES foi inscrito na pauta da reunião ordinária de dezembro da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que aconteceu na quinta-feira. Ela reúne representantes do Sistema Único de Saúde (SUS) do estado e dos municípios e costuma abordar assuntos emergentes do ponto de vista epidemiológico, como a Covid-19, cujos indicadores seguem em queda.Segundo o documento, a média móvel do número de atendimentos a casos de síndrome gripal em toda a rede estadual de UPAs cresceu 239,53% nos últimos 14 dias. Nesse período, a média de atendimentos por dia saltou de 167 para 4 mil.

Na última semana, destaca o relatório, a alta foi maior entre crianças, cuja média, hoje, é de 826 atendimentos por dia — 1695% a mais do que a média de quatro semanas atrás, que girava em torno de 46 atendimentos. Entre adultos, o aumento foi de 2515% em um mês. Já o número médio de casos mais severos que acabam indo parar na chamada sala vermelha foi de 22 para 19, uma queda de 14%.

A título de exemplo, a apresentação inclui dados de movimentação de algumas unidades frente ao avanço da influenza pelo Rio de Janeiro. Ela também cita UPAs onde não foi notado aumento de demanda, como Campos dos Goytacazes, Magé e Nova Iguaçu. O documento não mostra, porém, a situação de todas as UPAs estaduais. O GLOBO pediu à SES esses dados, mas não obteve resposta.

Em relação à cidade do Rio, epicentro da explosão de casos, o relatório da SES corrobora o cenário de contaminação veloz. Das oito UPAs estaduais citadas no estudo, Botafogo e Jacarepaguá foram algumas das que tiveram um aumento de demanda mais acentuado — não à toa estão na lista das unidades que receberam ou receberão tendas para auxiliar no acolhimento à população. Além delas, as UPAs Copacabana e Campo Grande II também se destacam pelos altos índices.

No dia 22 do mês passado, quando foi registrado o primeiro crescimento súbito nos atendimentos, o alerta se concentrou nas UPAs Engenho Novo, Copacabana e Jacarepaguá. Nessas últimas duas unidades, o total de atendimentos alcançou um pico no início de dezembro.

No dia 23, as UPA de Botafogo e Penha também tiveram alta perceptível. Pouco mais de uma semana depois, a unidade de Botafogo chegou a uma das maiores marcas de atendimentos diários do município em todo o ano, se não a maior entre as enumeradas no estudo, com aproximadamente 500 registros. A UPA Campo Grande II alcançou um patamar próximo.

Na UPA Tijuca, um salto repentino no número de atendimentos diários foi notado no dia 25. Já a UPA Ilha do Governador vem mantendo um crescimento sustentado desde o início de dezembro.

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