Na sexta-feira (18), um dia após registrar um recorde no número de novos casos de Covid-19, a Coreia do Sul decidiu relaxar as medidas de restrição que estavam em vigor para conter a doença.
A decisão pegou até mesmo especialistas de surpresa. Kim Woo Joo, professor de doenças infecciosas da Korea University Guro Hospital, afirmou ao jornal norte-americano "Stripes" que se tratava de uma "insanidade". "Há muitos pacientes na UTI, muitas mortes", afirmou. Situação semelhante vive a China, que passa pelo seu maior surto desde a descoberta do Sars-CoV-2 .
A brasileira Carla Dariuch de Souza, 37, pesquisadora na área de física nuclear que há dois anos mora no país, falou ao iG sobre o clima de insegurança que paira em Daejeon, cidade onde ela mora, e também nos outros cantos do país.
Citando uma reportagem do "The New York Times" onde uma coreana afirmava temer uma situação semelhante a "um filme de terror", ela é direta: "É assim que nos sentimos. Estamos confusos, com medo e queremos nossa vida de volta."
Carla chegou na Coreia há cerca de dois anos, e na época, o país apertava o cerco para tentar inibir uma grande onda de infecções por Covid-19.
"Quando cheguei no aeroporto, fizeram um teste PCR, e de lá te colocavam em um hotel até que o resultado saísse. Tudo de graça. Como meu visto é de trabalho, me liberaram para a quarentena em casa. O sistema para o transporte foi exatamente bem pensado, em um vagão exclusivo", relembra.
"Havia um app onde fazíamos o reporte sobre a saúde duas vezes ao dia. Ele usava o GPS do celular, então se alguém saía de casa, eles te ligavam na hora. Enviavam comida para ajudar, tudo muito organizado. E assim conseguiram 'segurar' a onda de Covid-19".
Após o período de isolamento, a brasileira conta que havia um sistema onde era possível registrar o nome em todos os estabelecimentos frequentados. Assim, era mais simples rastrear possíveis contatos de quem testasse positivo. A política, no entanto, se mostrou insustentável a longo prazo.
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"O problema é que o sistema acabou ficando muito caro para o governo sustentar. E eles pensaram ser possível relaxar um pouco já que a maioria da população já estava vacinada".
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Por conta da demora na chegada das vacinas à Coreia, Carla conta que houve uma corrida aos postos de saúde para tomar a primeira e a segunda dose. A procura pela terceira, no entanto, precisa ser motivada pelo governo.
"Temos mais de 90% da população com as duas doses, criou-se uma mentalidade de que 'esperamos tanto por isso, agora vamos tomar'. Já não é o caso da terceira… Tem menos pessoas imunizadas com ela, e eles insistem muito para que as pessoas tomem."
Carla conta que quando medidas mais rigorosas estavam em vigor, 20% dos funcionários das empresas estavam em home office; o sistema de rastreamento de contatos estava em vigor. Em restaurantes, até as 18h, era permitido apenas quatro pessoas, no máximo, em cada mesa. Após esse horário, o limite era de duas pessoas. Após as 21h, apenas os entregas poderiam funcionar.
Agora, todos os funcionários podem voltar ao trabalho. O limite em restaurantes subiu para oito pessoas, e os comércios funcionam até as 23h. A política do uso de máscaras, no entanto, segue em vigor.
Em sua entrevista ao "Stripes", o especialista Kim aponta que a pressão política e o protesto de alguns empresários podem ter contribuído para o relaxamento das medidas. A fala da brasileira reitera a possibilidade.
"O impacto nos pequenos negócios foi brutal. Vários estabelecimentos fecharam, especialmente o que era voltado para os imigrantes. O país está fechado para turismo. Muitos com medo de perder dias de trabalho — aqui, se não trabalhar, não recebe. O interesse da vacina diminuiu. Um colega coreano hoje falou: 'Nos disseram que com a vacina ia a acabar… não acabou'. A população está com medo", finaliza.
Enquanto isso, no Brasil, ao menos dez estados já flexibilizaram o uso de máscaras
e, no último levantamento divulgado, outras 103 pessoas morreram por Covid-19 no país
, elevando o número de óbitos para mais de 657 mil.
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