Covid-19: entenda quando menores de 5 anos serão vacinados
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Covid-19: entenda quando menores de 5 anos serão vacinados

Nesta semana, a farmacêutica Moderna solicitou à FDA, agência regulatória dos Estados Unidos, o aval para aplicação da versão pediátrica de sua vacina contra a Covid-19 para bebês a partir de 6 meses de idade no país. A Pfizer também já deu início ao envio de dados para o órgão em fevereiro, mas espera informações sobre a eficácia de uma terceira dose nesse público. No mundo, ao menos oito países já imunizam crianças com menos de 5 anos, utilizando as vacinas Soberana 02, o imunizante do laboratório Sinopharm e a CoronaVac – que no Brasil tem o pedido para aplicação em crianças a partir de 3 anos sob análise da Anvisa.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO explicam que a autorização para o imunizante produzido pelo Instituto Butantan é a única perspectiva a curto prazo de ampliação da faixa etária na campanha de vacinação contra a Covid-19 no país. As vacinas para os menores que essa idade não devem chegar aos braços dos brasileiros antes do fim do ano, uma vez que o imunizante da Pfizer para esse público, até mesmo nos Estados Unidos, deve demorar ao menos dois meses para receber um aval.

Recentemente, o imunologista responsável pela resposta da Casa Branca contra a Covid-19, Anthony Fauci, disse em entrevista à CNN que o órgão regulatório americano deve esperar até junho para analisar junto o pedido da Moderna com os novos dados enviados pela Pfizer de uma terceira dose para os pequenos. Isso porque estudos indicaram que, assim como acontece para os mais velhos, apenas duas doses do imunizante também ofereceram uma eficácia reduzida contra a Ômicron na faixa etária de 6 meses a 5 anos.

Procurada, a Pfizer disse não ter ainda previsão para iniciar a submissão desses dados no Brasil. O Ministério da Saúde informou que aguarda a análise da Anvisa para avaliar a inclusão de novos públicos e imunizantes no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.

Ampliar faixas etárias é essencial

Os especialistas destacam que, embora o cenário epidemiológico atual inspire um maior relaxamento em relação à Covid-19, é imprescindível que eventualmente os imunizantes cheguem também aos bebês de 6 meses até as crianças de 4 anos.

"Esse grupo é extremamente suscetível a infecções virais, e isso é esperado porque é um período em que eles estão em maturação imunológica, então o sistema ainda está em formação. Antes dos seis meses, tem a proteção da passagem de anticorpos da mãe para o filho, tanto pelo cordão umbilical, como pela amamentação, mas depois isso diminui. Por isso, essa é uma época conhecida pelas viroses", explica o doutor em imunologia e pesquisador departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Gustavo Cabral.

A pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que a flexibilização atual graças à melhora do cenário epidemiológico precisa vir acompanhada da manutenção dos esforços para combater o vírus e do cuidado com aqueles que ainda não têm acesso aos imunizantes.

"Nós flexibilizamos (as medidas) porque graças à vacinação estamos protegidos. Só que junto com essa liberação a gente leva essas crianças que ainda não foram vacinadas. E como a circulação não é zero, essas crianças que não estão vacinadas e acompanham os que estão vacinados passam a ser um grupo de maior risco, sem dúvida", afirma a pediatra.

Eles afirmam que, embora a mortalidade seja de fato reduzida nesse público, os números de internações e casos graves ainda são muito maiores que os causados por outros vírus respiratórios, e lembram que as vacinas também ajudam a impedir sequelas conhecidas como Covid longa.

"Além do risco de morte, a gente precisa levar em consideração o dano que a Covid pode causar no corpo. Esse vírus tem uma característica que a maioria dos vírus não tem, ele infecta praticamente todas as partes do nosso corpo", explica Cabral.

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Veja 8 países que já vacinam crianças com menos de 5 anos:

  • Argentina: Crianças de 3 a 11 anos são vacinadas com o imunizante do laboratório Sinopharm desde outubro;
  • Bahrein: Aprovou o uso da vacina da Sinopharm para crianças de 3 a 11 anos em outubro;
  • Chile: Ampliou a vacinação para crianças entre 3 a 6 anos com a CoronaVac em novembro;
  • China: Aprovou o uso da CoronaVac e da vacina da Sinopharm para crianças de 3 a 17 anos em junho;
  • Colômbia: Começou a vacinar crianças de 3 a 11 anos com a CoronaVac em outubro;
  • Cuba: Deu início à vacinação de crianças a partir dos 2 anos – menor faixa etária do mundo – com a vacina Soberana 02, produzida no país, em outubro;
  • Emirados Árabes: Anunciou a ampliação da vacina da Sinopharm para crianças de 3 a 17 anos em agosto;
  • Venezuela: Em novembro, o país anunciou a vacinação de crianças de 2 a 11 anos com a vacina cubana Soberana 02.

Imunização de crianças segue a passos lentos no Brasil

Além da eventual ampliação das faixas etárias, Isabella ressalta a necessidade de se intensificar a cobertura em crianças de 5 a 11 anos, que ainda não chegou a 30% do público-alvo com as duas doses do imunizante no Brasil.

"É muito importante que os pais entendam que, se não imunizados, seus filhos pequenos correm risco e casos graves podem sim acontecer. A vacinação é segura, é o que mostram não só os estudos, como os dados na prática de todos os países que já vacinam crianças. E, se definida pela Anvisa a aprovação de uma vacina para menores de 5 anos, então sim, todos devem buscá-la", defende a vice-presidente da SBIm.

No último dia 14, a Anvisa solicitou dados complementares sobre estudos em andamento com a CoronaVac para crianças a partir de 3 anos ao Butantan. Procurado, o Instituto afirmou que enviará “o mais brevemente possível” as informações solicitadas com dados complementares sobre segurança, imunogenicidade e farmacovigilância. Em nota, a instituição ressaltou que “o diálogo entre os técnicos do instituto e do órgão regulatório é constante”.

Isabella acredita que a postura da Anvisa é importante pois mostra que os imunizantes não são experimentais, como movimentos antivacina defendem, e passam por critérios rigorosos antes de serem distribuídos para a população.

"A gente vê tanta gente dizendo que as vacinas são novas, experimentais, e são exatamente atitudes assim que mostram que a realidade não é essa, que a vacina só vai ser autorizada para quem quer que seja quando tivermos dados robustos que permitam que isso seja efetivo e seguro", afirma a especialista.

Cabral concorda, mas vê uma urgência para a liberação da CoronaVac e chama a atenção para o fato de países como Chile e China, que também têm um forte controle regulatório, terem aprovado a vacina para esse público ainda em 2021. Ele defende que é preciso um empenho das autoridades para um maior compartilhamento desses dados, e acredita ser muito importante que o aval avance no Brasil.

"A CoronaVac é uma tecnologia que já conhecemos há muito tempo, de vírus inativado, e nós temos países com agências reguladoras muito confiáveis, como o Chile, que tem uma conexão muito boa com o Brasil, e aplicam em crianças com menos de 5 anos. Além disso, é uma vacina que a gente já tem disponível", diz Cabral.

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