Congo confirma novos casos de Ebola
Divulgação/ Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Congo confirma novos casos de Ebola

Em meio a um novo surto de Ebola , os profissionais de saúde da República Democrática do Congo começaram a vacinação contra o vírus na última semana em Mbandaka, capital da província de Equateur. O terceiro óbito em decorrência da doença foi confirmado na cidade pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nessa quinta-feira (5).

A primeira morte ocorreu em 21 de abril , a segunda no dia 26 e a terceira foi um contato de alto risco do primeiro paciente, de acordo com a OMS. Os óbitos marcam o 14º surto de Ebola no país da África Central, sendo que o que ocorreu entre 2018 e 2020 matou quase 2,3 mil pessoas, o segundo maior número de óbitos registrado da doença.

Somente a cidade de Mbandaka já enfrentou dois surtos. O centro comercial às margens do rio Congo é um local populoso, onde as pessoas vivem próximas a ligações rodoviárias, marítimas e aéreas para a capital Kinshasa.

O último surto de Ebola registrado também atingiu o Leste, infectou 11 pessoas e matou seis delas entre outubro e dezembro de 2021, na província de Kivu do Norte. O fim do último surto foi detectado após 42 dias sem novos casos. Este ciclo representa dois períodos de incubação da doença e é o tempo necessário de espera para que as autoridades saibam que não há mais casos ativos e possam decretar o fim da epidemia.

Mas e agora? O vírus pode se espalhar?

Entre 2014 e 2016, principalmente, o Ebola já causou estragos severos no continente africano, matando quase 11 mil pessoas na África Ocidental. De acordo com Flávio Fonseca, virologista da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), o risco de um novo surto sempre existe.

"Os surtos de Ebola estão intimamente vinculados às particularidades das populações, aos hábitos alimentares, econômicos, de caça, de extrativismo nas regiões naturais, nas regiões de floresta, onde o vírus circula em animais", explica o médico. "Portanto, a população continua suscetível para que um surto maior possa acontecer."

Fonseca, porém, chama a atenção para uma grande diferença em relação ao último grande surto: em 2014 ainda não existia uma vacina para a doença. O problema é que o fato de existir um imunizante para o vírus não significa que toda a população tem acesso a ele. "Sabemos muito bem que a África é um continente onde os pais têm extrema dificuldade de acesso a esses insumos de saúde."

"É necessário que haja a produção da vacina, acesso à vacina, até por meios econômicos dos países afetados, a distribuição correta e a infraestrutura de distribuição nesses países, o que é muitas vezes comprometido", afirma. "O Brasil, por exemplo, tem sucesso na distribuição de imunizantes porque o SUS é extremamente competente na distribuição e na capilarização."

O acesso às vacinas ainda é muito limitado em pequenas vilas, povoados e cidades que ficam mais próximos das principais fontes do vírus, já que ele é uma zoonose, isto é, circula em animais e eventualmente chega aos seres humanos que entram em contato com esses bichos infectados.

"Normalmente os surtos epidêmicos africanos acontecem primeiro nos locais próximos às regiões de floresta, onde o vírus circula. Então fazer com que a vacina chegue nesses povoados muitas vezes de difícil acesso é um desafio muito grande para essas populações", diz o virologista.

Como evitar a contaminação?

A principal aliada no combate à disseminação do vírus que causa a febre hemorrágica é a vacinação. No entanto, caso uma pessoa já esteja infectada, ela deve ser isolada das outras. A fonte de transmissão mais comum do Ebola é por meio do contato com fluidos orgânicos contaminados, ou seja, sangue, plasma, soro, urina, entre outros.

"O vírus é bastante infeccioso nesse contexto, porque ele permanece viável nesses fluídos orgânicos, mas se comparado, por exemplo, com o vírus que causa a Covid-19, ele é menos infeccioso, porque não é transmissível com a mesma eficiência pelo ar ou por gotículas respiratórias", explica Fonseca.

O vírus da Covid-19, assim como o da Influenza, que responsáveis pelas pandemias, apresentam a particularidade de serem transmitidos pelo ar. "Então uma pessoa infectada ao falar, espirrar, tossir, emite gotículas e o vírus se multiplica nas vias respiratórias dessas pessoas, fazendo com que ele seja transmitido."

O vírus do Ebola, por outro lado, é transmitido por outros tipos de fluidos e não está limitado às vias respiratórias, segundo o virologista. Os meios de transmissão se tornam, então, menos 'eficientes'.

O que é o Ebola?

O vírus recebeu esse nome porque foi descoberto no Congo em 1976, próximo ao rio Ebola. O agente infeccioso é do gênero Ebolavirus e a letalidade pode atingir até 90% em alguns casos, tratando-se de uma doença muito grave.

Entre os sintomas mais comuns estão febre, dores de cabeça intensas, vômito, diarreia e hemorragias. 

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** Letícia Moreira é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. No Portal iG, trabalha nas editorias de Último Segundo e Saúde, cobrindo assuntos como cidades, educação, meio ambiente, política e internacional.

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