A raiva voltou a ser um dos assuntos mais comentados da área da saúde no último mês. Em Minas Gerais, três crianças foram vítimas da doença viral, transmitida para humanos por animais domésticos ou silvestres. Os casos deixaram a população em alerta para um eventual surto.
Carla Kobayashi, infectologista do hospital Sírio-Libanês, explica as características da doença.
"Esses animais infectados transmitem para humanos através de mordedura, arranhadura e até lambedura, dependendo da carga viral e do contato do humano - se em uma ferida aberta, por exemplo. Uma vez infectado, a letalidade é de quase 100%. São casos muito pontuais onde há sobrevida", explica.
"É um virus de tropismo no sistema nervoso central, um acometimento muito sério. Começa com sintomas como febre, cefaleia, dor no corpo, mas evolui rapidamente para sintomas neurológicos graves, como uma encefalite, e por conta disso a letalidade é bem alta", afirma ela.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), as crianças moravam em uma mesma comunidade rural. Ao menos duas delas tinham tido contato com morcegos. Há ainda um quarto caso em investigação - uma menina de 11 anos, que apresentou sintomas, está internada em observação.
A especialista Melissa Valentini, epidemiologista do Grupo Pardini, alerta para o perigo que pode ser trazido pelo animal.
"O Ministério da Saúde faz algumas vigilâncias com capturas de morcegos para avaliar se o vírus da raiva está circulando em determinados locais. Em caso de mordedura, orientamos que o paciente procure imediatamente o posto de saúde para que seja administrado o soro e tratamento profilático o mais rápido possível".
A primeira avaliação é feita com base no vínculo epidemológico - a partir dos sintomas, como dor de cabeça ou formigamento no local da mordida, os médicos passam a investigar se o paciente teve ou não contato com esses animais.
"O período de incubação pode ser de poucos dias ou meses, depende muito da onde foi a mordedura", conta a Dra. Melissa. Há também um exame que detecta a presença do vírus. Se o paciente não for rapidamente socorrido, no entanto, as chances de sobrevivência são pequenas.
"Precisamos orientar a população. Mordedura de animal que você não conhece, procure o sistema de saúde. De preferência, prenda o animal, o cachorro ou o gato, para observá-lo. Dependendo do local da mordedura, das reações do animal, o protocolo correto será determinado. É importante lembrar que existe raiva e que ela está presente em algumas situações, principalmente no ambiente rural, e que a profilaxia tem que ser iniciada o mais rápido possível", completa.
A Dra. Carla lembra que há uma vacina para a doença, mas as doses só estão disponíveis para quem está mais exposto ao risco.
"A prevenção se dá principalmente na vacinação de animais domésticos, campanhas de vacinação para reduzir a infecção dos animais pelo vírus e consequentemente uma transmisssão. A segunda forma é a prevenção pré-exposição, com a vacina anti-rábica em pessoas de risco, quem tem contato com esses animais frequentemente, como veterinários e pessoas muito expostas a animais silvestre".
Por conta da alta letalidade da doença, ela afirma que o número de vítimas relatado em Minas Gerais é esperado. "Nessa faixa etária, é esperado que o quadro seja muito mais grave, ainda mais se há o contato com morcegos, animais silvestres com uma carga viral provavelmente mais intensa".
Há risco de surto? Michelle acredita que não. "Toda vez que há uma infecção viral do meio animal que pode contaminar humanos, se esse vírus circula animais silvestres, em algum momento essa infecção vai acontecer".
"O Ministério da Saúde e as secretarias observam esses animais, vacinam, e se o risco é grande, vacinam essa população. Não é habitual vacinar para raiva, mas tem. Não precisa se preocupar com um surto de raiva. É necessário fazer avaliação desses animais, avaliar a necessidade de vacina da população mais exposta aos morcegos e reforçar a vacinação de cães e gatos, que já faz parte do nosso cotidiano."