Os medicamentos existentes para o tratamento da varíola não estão disponíveis para comercialização no Brasil. Remédios como brincidofovir, tecovirimat e cidofovir não têm aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que impede o seu uso e venda no país.
Não há casos registrados da doença no Brasil até agora, mas o Ministério da Saúde já criou uma sala de situação para monitorar a evolução dos casos pelo mundo e os riscos da entrada da varíola do macaco no Brasil.
Segundo a Anvisa, o registro mais recente de medicamento contra a doença expirou em 2010 — era o antiviral cidofovir. A falta de tratamentos aprovados pode expor a população a riscos caso a doença, já confirmada em 19 países, chegue ao Brasil. Integrantes da agência ouvidos em caráter reservado pelo GLOBO afirmaram monitorar a situação, mas, por ora, nenhuma decisão foi tomada.
Questionada pelo GLOBO, a Anvisa afirmou que só existe autorização para um medicamento indicado para uso em um outro tipo de varíola, que não serviria para a variante dos macacos. “Não há medicamentos com indicação pra tratamento de varíola no Brasil. Existe registro para a substância doxiciclina que é indicada para 'varíola por riquétsia', que se trata de uma outra variação da doença. Não há registro de brincidofovir (ou só o cidofovir) e tecovirimat. Para cidofovir já houve registro, mas está caduco desde 2010”, diz a nota.
A autorização para uso emergencial, modalidade criada pela Anvisa para acelerar a análise durante a pandemia, se restringe a vacinas e a remédios contra a Covid-19. Esse cenário, contudo, pode mudar diante da avaliação do cenário epidemiológico e das possibilidades de enfrentamento à varíola dos macacos, sustenta a agência.
Segundo o Ministério da Saúde, não há casos suspeitos ou confirmados no Brasil. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que há mais de 250 infecções confirmadas e suspeitas de varíola dos macacos no mundo. A maioria se concentra na Europa, mas existem registros nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, em Israel e nos Emirados Árabes Unidos. República Tcheca e Eslovênia relataram os primeiros diagnósticos nesta terça-feira.
Segundo especialistas, as vacinas disponíveis contra a varíola humana, que teve a erradicação declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1980, também fornecem proteção contra essa versão da doença. Os Orthopoxvirus — nos quais se inclui o Varíola vírus — são capazes de promover a chamada imunidade cruzada, quando o sistema imunológico usa defesas prévias desenvolvidas contra um micro-organismo para combater outro parecido. Não há, contudo, um imunizante específico contra a varíola dos macacos.
Endêmica na África, o espalhamento da doença por países que não tiveram contato com o continente ainda é um mistério para cientistas. Possíveis surtos podem ser controlados por medicamentos
A transmissão ocorre, geralmente, de animais para pessoas em florestas da África Central e Ocidental. Entre humanos, o ministério aponta que o contágio é considerado moderada e ocorre, sobretudo, por meio do contato com secreções respiratórias, lesões de pele ou objetos contaminados. Quanto a gotículas respiratórias, deve haver maior proximidade com o paciente. Além disso, há a possibilidade de infectar através de fluidos corporais.