O Ministério da Saúde fez um levantamento a pedido do GLOBO e concluiu que 46 milhões dos brasileiros adultos ainda não foram aos postos receber as aplicações de terceira dose contra a Covid-19. Estão, portanto atrasados com a conclusão do esquema vacinal — em três etapas — fundamental para barrar a variante Ômicron e suas derivadas.
A pasta ainda diz que outras 17 milhões de pessoas não foram nem, ao menos, receber a segunda dose de imunização contra o coronavírus. Em nota, o Ministério da Saúde diz querer reforçar a importância da população completar o esquema vacinal “para garantir a máxima proteção contra o vírus e conter o avanço de novas variantes”. No mesmo documento, o Ministério da Saúde pede que os municípios, responsáveis por aplicar as doses na população, realizem busca pelos vacinados.
Especialistas alertam que a falta das três doses compromete a resposta imune de quem contrai a Covid-19 em meio a disseminação da variante Ômicron — preocupação que deve ser levada em conta sobretudo em um cenário de alta de casos, como agora, onde o risco de infectar-se é maior. Daí a importância que essas pessoas se apressem para ir aos postos de saúde.
"Precisamos mudar a terminologia. Hoje sabemos que o esquema primário é composto de três doses de vacina. Duas, quando falamos do início da imunização com a vacina da Janssen. Aprendemos que esse esquema é o básico, sobretudo para a variante Ômicron. Não se trata de uma dose somente de reforço, ela é necessária para chegarmos ao nível de proteção requisitado para essa variante", diz Renato Kfouri, médico pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Paralelamente ao levantamento do Ministério da Saúde, O GLOBO buscou todos estados brasileiros para saber qual fatia da população ainda não se imunizou com a dose adicional. Em São Paulo — estado em que, nesta semana, os especialistas em saúde voltaram a recomendar a retomada das máscaras por conta de um novo avanço de internações — são 10 milhões de pessoas. Outros 2,7 milhões nem mesmo a segunda dose foram tomar. Em Minas Gerais, são 4,8 milhões que ainda não estenderam o braço para a dose de reforço. E a Bahia, por sua vez, tem 3,5 milhões de faltosos.
O Estado do Rio, porém, não conta com um levantamento próprio de doses faltantes. O ex-secretário de Saúde da cidade do Rio de Janeiro e médico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Daniel Soranz levantou a pedido do GLOBO o número de pessoas na capital com o atraso do reforço. São 1,9 milhão, ele diz, baseado em bancos de dados públicos.
"Estamos em um cenário epidemiológico muito melhor que o anterior devido a alta cobertura vacinal, mas essa proteção não dura para sempre. Se a população não fizer a dose de reforço podemos abrir a chance do retorno de uma situação gravíssima", afirmou Soranz.
Não faltam vacinas
Se no começo da vacinação a escassez de doses levava ao rodízio das aplicações por idade, apreensão da população no aguardo do no lançamento de calendários do público elegível e demora no avanço da aplicações de doses, agora os estados e o Ministério da Saúde têm doses reservadas aos que demoraram para buscar as agulhadas. Sob a guarda do Ministério da Saúde, por exemplo, são 15 milhões.
A rede de frio – nome dado à organização de freezers para imunização – do estado do Mato Grosso e do Pará, por exemplo, ultrapassam meio milhão de doses acondicionadas cada. Já o estado de Roraima têm 335 mil doses. O estado do Goiás, por sua vez, têm 945 mil doses reservadas. Portanto, os faltosos que desejarem buscar imunização não devem encontrar problemas para receber as doses.
Os estados ainda esclarecem que, para não perder doses por conta de vencimento do lote, fazem o rodízio de uso, colocando para aplicação as doses próximas ao prazo de expirar, para evitar o disperdício.
Número de faltosos pode ser maior
Médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, Leonardo Weissmann alerta, porém, que o número de faltosos pode ser ainda maior. Isso porque o consórcio dos veículos de imprensa, do qual o GLOBO faz parte, aponta que pouco mais da metade dos brasileiros adultos tomaram doses de reforço. Seguindo a lógica do número disponibilizado pelo Ministério da Saúde – os 46 milhões –, porém, a taxa de adesão seria maior, de 70% dos adultos vacináveis.
Independentemente do quantitativo total de atrasados, Weissmann alerta que é preciso que essas pessoas busquem a vacinação, sobretudo diante de um novo aumento de casos.
"Está claro que a vacina é segura. E é preciso lembrar que a vacina tem o importante papel de reduzir os riscos diante de uma infecção. Além disso, quanto mais gente vacinada, menor é a circulação o vírus', diz o infectologista.
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