Uma vacina nasal contra a Covid-19 em desenvolvimento por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte e da Universidade Duke, nos Estados Unidos, teve resultados promissores em testes com camundongos, afirmam os cientistas. Em estudo publicado na revista científica Nature Biomedical Engineering, a nova tecnologia, aplicada em duas doses, induziu a produção de anticorpos e de células de defesa que protegeram os animais contra a infecção pelo Sars-CoV-2 – vírus causador da Covid-19. Além disso, foi mais eficiente em levar a proteção ao pulmão.
“Uma vacina inalável confere imunidade tanto na mucosa quanto sistêmica, é mais conveniente de armazenar e distribuir e pode ser autoadministrada em larga escala. Portanto, embora ainda existam desafios associados ao aumento da produção, acreditamos que esta é uma vacina promissora digna de mais pesquisa e desenvolvimento”, explica o autor do estudo Ke Cheng, professor de medicina regenerativa na Universidade de Carolina do Norte, em comunicado.
As vacinas nasais têm sido encaradas como uma aposta para o futuro dos imunizantes contra a Covid-19. Isso porque, de forma diferente das intramusculares aplicadas hoje, as administradas pelo nariz induzem não somente a resposta imune de forma geral, como também especificamente na mucosa da região. Por se tratar do local de entrada mais comum do vírus no organismo, os pesquisadores explicam que a presença de anticorpos ali atua como uma barreira mais forte para evitar a contaminação.
Há no momento uma série de imunizantes inaláveis em desenvolvimento, incluindo uma versão da vacina já utilizada da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com o laboratório AstraZeneca, em testes clínicos desde 2021. No Brasil, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo, também criou uma versão nasal e solicitou à Anvisa o início dos estudos em humanos no último ano. Porém, com as novas variantes do vírus, os pesquisadores estão avaliando a resposta do imunizante em laboratório às cepas antes de avançar para as etapas com voluntários.
O novo modelo estadunidense, desenvolvido com apoio dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) e da Associação Americana do Coração, teve a patente provisória da tecnologia registrada e o direito licenciado para a empresa Xsome Biotech, mas ainda não entrou em testes clínicos com humanos.
Segundo os pesquisadores, a tecnologia em questão tem potencial por envolver um mecanismo que se mostrou mais eficaz em levar a proteção ao pulmão.
“Tomar a vacina por injeção intramuscular é menos eficiente em levá-la ao sistema pulmonar e, portanto, pode limitar sua eficácia. As vacinas inaladas aumentariam seu benefício contra o Covid-19”, afirma Cheng.
Para isso, utilizaram partículas chamadas de exossomos (Exo), que são secretadas por células pulmonares e já foram reconhecidas como um bom meio de liberação de fármacos no organismo.
Os cientistas explicam que, nos modelos intramusculares das vacinas de RNA mensageiro (RNAm), como as da Pfizer/BioNTech e da Moderna, são utilizadas nanopartículas lipídicas para carregar o material pelo corpo. Eles avaliaram, então, se os exossomos poderiam substituí-las na entrega do RNAm ao organismo.
Em estudo publicado anteriormente na revista científica Extracellular Vesicle , os pesquisadores constataram que as nanopartículas derivadas do pulmão foram mais eficazes em levar o RNAm aos bronquíolos e ao tecido pulmonar profundo do que as partículas sintéticas de lipossomas utilizadas hoje.
Com isso, embora o novo imunizante desenvolvido nos EUA seja uma vacina de partículas semelhantes a vírus (VLP), baseada em partes da proteína Spike do coronavírus para induzir a resposta imune, o conhecimento com os testes envolvendo o RNAm levou à decisão de incluir a tecnologia dos exossomos para ser mais eficaz em levar a proteção ao pulmão.
“As vacinas podem funcionar por vários meios. Por exemplo, as vacinas de mRNA entregam um roteiro à sua célula que a instrui a produzir anticorpos para a proteína Spike. Esta vacina VLP, por outro lado, introduz uma porção da proteína Spike no corpo, fazendo com que o sistema imunológico produza anticorpos para ela”, explica Cheng.
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