Cérebro
Robina Weermeijer / Unsplash
Cérebro

O medo é uma resposta natural do organismo a situações e elementos que são interpretados como uma ameaça pelo cérebro. Já se sabia que esse processo de transformação dos sinais de alerta no medo acontece na amígdala, região cerebral que controla as emoções. Porém, agora pesquisadores foram além e identificaram moléculas que carregam as imagens, os sons e os odores considerados ameaçadores até ela. A descoberta, acreditam os cientistas, abre caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos para problemas de saúde relacionados ao medo, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) ou até mesmo distúrbios de hipersensibilidade, como o autismo.

Os achados foram publicados na revista científica Cell Reports por pesquisadores do Instituto Salk, um centro de pesquisas biológicas localizado na Califórnia, nos Estados Unidos. Eles explicam que trabalhos anteriores já haviam mostrado que a amígdala recebe fortes estímulos de regiões do cérebro que estão carregadas com uma substância química associada à aversão, o neuropeptídeo CGRP.

Além disso, os cientistas também sabiam que as ameaças externas envolvem percepções multissensoriais, e por isso são interpretadas em diferentes regiões do cérebro, como as ligadas à audição, à visão e ao olfato. Eles buscaram identificar então se o neuropeptídeo CGRP seria o caminho responsável por reunir essas pistas de diferentes áreas do órgão e levá-las até à amígdala – e confirmaram a hipótese.

“A via cerebral que descobrimos funciona como um sistema de alarme central. Ficamos empolgados ao descobrir que os neurônios CGRP são ativados por sinais sensoriais negativos de todos os cinco sentidos - visão, audição, paladar, olfato e tato. A identificação de novos caminhos de ameaça fornece novas informações para o tratamento de distúrbios relacionados ao medo", diz o autor sênior do estudo Sung Han, professor nos Laboratórios da Fundação Clayton de Salk para Biologia de Peptídeos, em comunicado.

Para chegar à confirmação, os cientistas conduziram uma série de experimentos em que registravam a atividade do CGRP em camundongos. Eles projetaram situações que envolviam ameaças para os animais e acompanharam a trajetória da proteína. Eles observaram que duas populações distintas de neurônios CGRP – uma no tálamo e outra no tronco cerebral – se projetaram para a amígdala formando dois circuitos distintos. Ambos codificavam visões, sons, cheiros, sabores e toques ameaçadores para formar memórias aversivas, do tipo que diz ao cérebro: “fique longe”.

"Embora os camundongos tenham sido usados ​​neste estudo, as mesmas regiões do cérebro também expressam abundantemente CGRP em humanos. Isso sugere que os circuitos relatados aqui também podem estar envolvidos em distúrbios psiquiátricos relacionados à percepção de ameaças", diz Han.

Os autores acreditam que os circuitos podem estar envolvidos em anormalidades no processamento de estímulos multissensoriais, como nos casos de autismo, em que determinados elementos podem provocar a sensação de aversão de forma equivocada.

"As drogas que bloqueiam o CGRP têm sido usadas para tratar enxaquecas, então espero que nosso estudo possa ser uma âncora para usar esse tipo de droga no alívio de memórias de ameaças no TEPT, ou hipersensibilidade sensorial no autismo também", defende Han.

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