Uma vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está pronta para começar a ser testada em humanos. Chamado de SpiN-TEC, o imunizante teve bons resultados em fases pré-clínicas, com camundongos, que demonstraram segurança e indução das células de defesa T contra o novo coronavírus, inclusive em relação à variante Ômicron. Os dados foram publicados na revista científica Nature Communications.
Hoje, há apenas um imunizante brasileiro para a Covid-19 na fase 1 dos estudos clínicos com humanos, o desenvolvido pelo Senai Cimatec, na Bahia, em parceria com a empresa americana HDT Bio Corp. Agora, a SpiN-TEC aguarda o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para se tornar o próximo candidato à primeira vacina 100% idealizada e fabricada no Brasil.
O professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, e pesquisador do CTVacinas, da universidade, Ricardo Gazzinelli, explica que o imunizante se mostrou promissor no experimento com animais. Com isso, ele espera que a Anvisa autorize no próximo mês o início das fases clínicas, em que a vacina começa a ser avaliada em humanos. Os estudos serão conduzidos na própria UFMG, e as doses já estão prontas para chegarem aos braços dos voluntários.
“Já temos o lote clínico e concluímos todos os testes necessários para obter a aprovação na Anvisa. Por isso, temos a esperança de começar o ensaio clínico em meados de setembro”, explica o pesquisador, em comunicado, e acrescenta: “Será uma dose de reforço. Os voluntários do grupo-controle vão receber a vacina da AstraZeneca. Depois vamos comparar a produção de anticorpos neutralizantes, anticorpos totais contra o Sars-CoV-2 (vírus causador da Covid-19) e a resposta de linfócitos T (células de defesa). A expectativa é que a nossa formulação induza uma resposta celular ainda mais forte (que a da AstraZeneca)”.
A estratégia será aplicar o reforço em indivíduos previamente vacinados, com qualquer um dos imunizantes utilizados no Brasil, pelo menos seis meses após a última dose. Os pesquisadores acreditam que a SpiN-TEC pode proporcionar uma proteção maior contra novas variantes do coronavírus por envolver duas proteínas do patógeno, em vez de apenas uma.
“As vacinas para a Covid-19 atualmente em uso têm como objetivo principal induzir a produção de anticorpos neutralizantes contra a proteína S, que impedem o vírus de infectar as células humanas. Essa é a chamada resposta imune humoral. Mas, à medida que foram surgindo variantes com muitas mutações na proteína S, os anticorpos foram perdendo a capacidade de reconhecer esse antígeno. Já a proteína N se manteve mais conservada nas novas cepas”, explica a doutoranda Julia Castro, que conduziu os ensaios pré-clínicos sob a orientação de Gazzinelli, em comunicado.
Por isso, os cientistas desenvolveram a nova vacina a partir da junção das duas proteínas, a S e a N, em uma molécula que recebeu o nome de Spin. Para Gazzinelli, a perspectiva de que a estratégia leve o imunizante a oferecer uma resposta imune mais completa contra o vírus é importante, uma vez que novas variantes têm conseguido escapar com mais facilidade da proteção induzida pelas vacinas atuais e por infecção prévia.
Além dos pesquisadores da UFMG e da Fiocruz, também estão envolvidos cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho recebe o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), da Prefeitura de Belo Horizonte e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
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