Adolescentes com pais fumantes têm uma probabilidade 55% maior de experimentar cigarros eletrônicos. A conclusão é de um estudo apresentado no Congresso Internacional da Sociedade Respiratória Europeia, realizado em Barcelona, na Espanha. O trabalho, conduzido por uma equipe do Instituto para Pesquisa Livre de Tabaco da Irlanda (TFRI, da sigla em ingês), chama atenção ainda para o crescimento na adesão aos dispositivos pelos jovens no país. No Brasil, embora a venda dos chamados “vapes” seja proibida, o uso também está em alta entre os adolescentes.
O novo estudo analisou dados de um questionário feito com 6.216 adolescentes irlandeses com 17 e 18 anos. Os resultados mostraram que aqueles com pais fumantes eram 51% mais propensos a experimentarem o cigarro convencional, porém a probabilidade chegou a 55% em relação aos modelos eletrônicos, que são mais atrativos para os mais jovens.
Além disso, os pesquisadores analisaram informações de outros bancos de dados sobre o tema, com relatos de mais de 10 mil adolescentes de 16 e 17 anos, e descobriram que a proporção dos jovens da faixa etária que já utilizaram os “vapes” na Irlanda – país em que a comercialização dos dispositivos é legal – aumentou de 23%, em 2014, para 39%, em 2019.
No Brasil, onde a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização dos cigarros eletrônicos em 2009, decisão que foi mantida em deliberação neste ano, 22,7% dos adolescentes de 16 a 17 anos já experimentaram os dispositivos. De acordo com a última edição da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do IBGE, esse percentual é de 13,6% em relação aos jovens de 13 a 15 anos. Entre a população adulta, uma pesquisa do Datafolha estima que 3% fazem uso do produto.
Fatores que estimulam o uso
O estudo irlandês também apontou que os principais motivos que têm levado os jovens a utilizarem os dispositivos – também conhecidos como “pods” – foram curiosidade, para 66% dos entrevistados, e por influência de amigos que já usavam os cigarros eletrônicos, para 29% dos adolescentes.
Somente 3% relataram ter aderido ao produto para substituir o modelo convencional – estratégia que é utilizada pelas empresas como argumento para a liberação dos aparelhos. Além disso, enquanto em 2015, apenas 32% dos jovens disseram nunca ter experimentado o cigarro tradicional antes do modelo eletrônico, esse número cresceu para 68% em 2019.
“Encontramos um uso crescente de cigarros eletrônicos em adolescentes irlandeses e esse é um padrão que está surgindo em outras partes do mundo. Há uma percepção de que os “vapes” são uma alternativa melhor para fumar, mas nossa pesquisa mostra que isso não se aplica a adolescentes que geralmente não experimentaram cigarros tradicionais antes dos eletrônicos. Isso indica que, para os adolescentes, os aparelhos são um caminho para o vício em nicotina, e não para fora dele”, defende o diretor geral do TFRI e professor da Universidade Trinity, na Irlanda, Luke Clancy, em comunicado.
Por evitarem o desconforto causado pela queima do cigarro à combustão e adotarem sabores variados, os “vapes” têm tido uma forte adesão entre os mais jovens. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo apontam que isso leva a uma preocupação com a criação de quadros de dependência de nicotina e pedem medidas regulatórias mais eficazes para proteger crianças e adolescentes dos dispositivos.
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