Durante ato pelo 7 de Setembro, ontem, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro puxou um coro de “Imbrochável”. Para especialistas, a expressão é uma mentira que tenta mostrar superioridade num modelo masculino ultrapassado.
A psicanalista Regina Navarro Lins, autora de 14 livros sobre sexualidade e relacionamento, é categórica: todo homem brocha. E é normal. Isso só passa a ser considerado um problema — a disfunção erétil — quando a perda de ereção ocorre com frequência.
"Dizer ‘imbrochável’, é como dizer que essa pessoa é superior, tem um poder sexual acima de todos. É uma coisa machista, de uma mentalidade patriarcal que já deveria ter saído de cena. Lamentável que as pessoas valorizem tanto o homem não ser uma pessoa normal", afirma.
A psicanalista chama atenção para a mistura entre sexualidade e um desfile de Independência.
"É como se isso fosse um ideal que todos os homens desejam atingir e colocam na figura dele. É nosso ídolo porque é imbrochável. É uma dificuldade de aceitar que podem brochar, como se fossem menos homens por isso. Mas alguém que usa isso para garantir sua masculinidade está inseguro, tenta provar alguma coisa."
Em agosto de 2021, quando a pandemia estava provocando muitos casos e mortes, Bolsonaro já havia dito que era “imorrível, imbrochável e incomível”.
Para a antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg, naquele momento a intenção era mostrar que quem estava preocupado com a Covid não era “homem de verdade”.
"Homem que diz que é imbrochável, incomível e imorrível tenta se colocar como superior a todos os outros que não estão na mesma situação. Esse modelo oprime não apenas as mulheres, mas também os homens que não querem mais isso. Não dá para dizer que estava superado, mas há muito tempo é questionado", afirma.
"A questão não é que todo homem brocha, é por que reforçar o discurso do imbrochável depois de tantos avanços, quando finalmente os homens podiam se sentir mais confortáveis sendo homens?", acrescenta.
De acordo com a antropóloga, até os anos 1970, os homens precisavam esconder um eventual desinteresse sexual como forma de corresponder a um modelo. Na década de 1980 ela escrevia sobre como eles ainda se sentiam inferiores pelo tamanho do pênis ou se transavam menos. Questões que traziam muito sofrimento.
"Quando começamos a quebrar isso, com tantas conquistas para as mulheres, mas que libertam também os homens, vêm essa postura autoritária de que os homens não podem brochar, ser frágeis, chorar. Por que reforçar esse modelo mentiroso?"
Para Goldenberg, é um pacote de uma masculinidade “alguns graus além da tóxica”, que envolve também a paixão por armas e as piadas depreciativas constantes com as mulheres.
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