A malária, doença parasitária transmitida por mosquitos, chegou a matar cerca de 627 mil pessoas em 2020, a maioria das vítimas eram crianças africanas. Apenas no ano passado uma vacina, produzida pela farmacêutica britânica GSK, tornou-se a primeira vacina contra a malária a ser recomendada para a utilização generalizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entretanto, segundo recentes estudos publicados na Lancet, isso pode estar prestes a mudar.
A dose de reforço de uma nova vacina produzida pela Oxford teve um alto resultado no nível de proteção contra a doença aumentando as esperanças de que, se aprovada, possa ser produzida em larga escala em poucos anos.
No ano passado, uma vacina apresentada pelo grupo, a R21/Matrix-M, mostrou ser 77% eficaz na prevenção da malária. Foi a primeira vez que uma vacina superou a meta de eficácia estabelecida pela OMS (75%). Como medida de comparação, o imunizante da GSK, que já foi distribuída para mais de um milhão de crianças na África, tem eficácia de 60% e cai drasticamente com o tempo.
Para o estudo feito com a nova vacina, 450 crianças com idades entre 5 e 17 meses, residentes do país africano, Burkina Faso, onde a malária é responsável por cerca de 22% de todas as mortes, receberam três doses em 2019.
Elas foram divididas em três grupos: dois receberam doses diferentes do auxiliar Matrix-M, ingrediente da vacina patenteado pela Novavax e também utilizado na vacina contra a covid-19 da empresa americana de biotecnologia; e o terceiro grupo de controlo recebeu uma vacina antirrábica.
Um ano depois, antes da estação de chuvas em 2020, quando os casos de malária aumentam, 409 crianças retornaram para tomar a dose de reforço. A eficácia da vacina para o grupo que recebeu a maior dose de apoio aumentou para 80% e as crianças que receberam a dose mais baixa tiveram um índice de proteção em torno de 70%.
Assim como a dose do imunizante da GSK, um mês após receber a dose de reforço, os anticorpos antimaláricos regressam a um nível idêntico ao observado após as primeiras doses recebidas um ano antes, de acordo com o estudo.
“Podemos estar olhando para uma redução muito substancial neste fardo horrível da malária, um declínio nas mortes e doenças nos próximos anos, certamente até 2030”, afirmou o especialista em vacinas em Oxford e coautor do estudo Adrian Hill.
O cientista afirma que uma redução de até 70% nas mortes por malária neste mesmo período “pode ser alcançada”, visto que o instituto fez uma parceria com a maior fabricante de vacinas do mundo, Serum Institute of India, no intuito de produzir os imunizantes de forma mais rápida.
Estima-se que a vacina da Oxford custe menos da metade dos nove dólares da versão da GSK. Os resultados de um estudo de fase 3 com 4.800 participantes de quatro países são aguardados ainda este ano, o que poderá já levar à aprovação da vacina.
“O objetivo é que, com a aprovação, a fabricação já comece em 2023 com mais de 200 milhões de doses por ano”, diz Hill.
Imunizantes brasileiros
O Brasil deve começar em 2023 os testes em humanos de uma nova vacina contra a malária desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP). O imunizante está sendo produzido em parceria com a Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos. A novidade foi revelada pelo Jornal da USP.
Testes em camundongos mostraram que a vacina foi capaz de controlar a atividade do parasita responsável pelo tipo de malária mais comum no Brasil, o Plasmodium vivax. Segundo o Ministério da Saúde, só em 2020, foram notificados mais de 145 mil casos da doença, a maioria deles na Amazônia.
Profissionais da saúde veem a nova vacina como uma esperança, visto que, os imunizantes existentes não englobam a espécie parasita que se encontra no Brasil.
Em abril deste ano, a Fiocruz informou que também está desenvolvendo uma vacina contra a malária. O trabalho visa criar um imunizante capaz de atacar o Plasmodium vivax na fase sanguínea da infecção e também impedir sua transmissão para o vetor.
Entenda a malária
Segundo a Fiocruz, o Plasmodium vivax é responsável pela maioria dos casos da doença no Brasil, que é endêmica no Amazonas. Segundo o Ministério da Saúde, só em 2020, foram notificados mais de 145 mil casos da doença, a maioria deles nessa região.
Esse parasita, de modo geral, causa um tipo de malária mais branda, que não atinge mais do que 1% das hemácias do corpo humano, e é raramente mortal.
No entanto, seu tratamento pode ser mais complicado, já que ele se aloja por mais tempo no fígado, dificultando sua eliminação. Além disso, pode haver diminuição do número de plaquetas (plaquetopenia), o que poderia confundir esta infecção com a dengue, retardando o diagnóstico.
Os principais sintomas da malária causada pelo Plasmodium vivax são mal-estar, calafrios, febre diária no começo que pode evoluir para um padrão febril no intervalo de a cada dois dias, suor intenso e prostração.
A principal causa de morte por malária é o diagnóstico tardio e a falta de profissionais familiarizados com o quadro da doença fora da região endêmica. Segundo a Fiocruz, no Brasil ocorrem cem vezes mais óbitos nas áreas fora da Região Amazônica do que na região endêmica propriamente.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG.