Ansiedade
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Ansiedade



A ansiedade, apesar de comum em situações pontuais da vida cotidiana, pode se tornar um obstáculo significativo quando deixa de ser passageira e passa a interferir no funcionamento físico e mental de forma persistente. 

Em entrevista cedida ao Portal iG, a médica psiquiatra e química Gabriela Goldstein explica que a ansiedade afeta diretamente a forma como as pessoas pensam, se comportam e reagem ao ambiente — tanto no trabalho quanto na vida pessoal.

“Uma pessoa ansiosa tende a ficar mais acelerada, confusa e desatenta. Ela até vê e entende o que acontece, mas não consegue processar ou armazenar adequadamente essas informações, o que compromete a memória e a concentração”. 

O estado constante de alerta e a dificuldade de desligar a mente também influenciam o humor, tornando o indivíduo mais irritadiço e agitado.

Sono comprometido e corpo em exaustão

A médica destaca que um dos primeiros sintomas percebidos por pacientes ansiosos é a alteração no padrão do sono . “A dificuldade para adormecer é comum, assim como os despertares noturnos e a sensação de que o sono não foi reparador. A mente acelerada não permite descanso, o que gera um ciclo de cansaço contínuo” , afirma.

Além disso, a ansiedade estimula a liberação de hormônios como cortisol e adrenalina — substâncias que, em excesso, sobrecarregam o corpo. “Essa descarga constante de hormônios faz com que o organismo consuma energia que não tem. É como manter o corpo em estado de emergência o tempo todo” , explica Goldstein.

O metabolismo é diretamente afetado , gerando fadiga crônica e queda no desempenho físico.

Imunidade e saúde física também são afetadas

Segundo a psiquiatra, existe uma teoria chamada “teoria da inflamação do sistema imunológico” que associa a ansiedade prolongada à queda de resistência do corpo. “A pessoa ansiosa pode ter mais dificuldade para combater infecções, como gripes, ou demora mais para se recuperar delas. Não é uma regra absoluta, mas é um padrão observado com frequência na prática clínica” , relata.


Do estresse à crise: como evitar o agravamento?

A pressão por produtividade e os prazos muitas vezes irreais no ambiente profissional ou acadêmico são gatilhos frequentes . “A maioria dos pacientes relata se sentir sobrecarregados” , aponta a psiquiatra.

Ela recomenda a adoção de práticas como exercícios físicos, momentos de lazer, meditação e principalmente psicoterapia, como formas eficazes de controle.

A terapia, segundo Goldstein, é fundamental para que o paciente aprenda a reconhecer os sinais da ansiedade e encontre formas mais equilibradas de reagir aos desafios. “Não é sobre mudar o ambiente, que muitas vezes continua hostil, mas sim sobre construir ferramentas internas para enfrentá-lo com menos sofrimento”.

Impactos nos relacionamentos e no convívio

A ansiedade não afeta apenas o indivíduo, mas também a relação com os outros. A comunicação se torna difícil, o diálogo é comprometido e há tendência ao isolamento . “Muitos pacientes relatam conflitos com parceiros, familiares ou colegas de trabalho. E acabam se isolando para não ter que ter essa rotina de irritabilidade, porque também ocasiona impulsividade” , diz a psicóloga .

Ela lembra que, por vezes, a pessoa nem reconhece os próprios sintomas e acaba sendo desacreditada pelo entorno. “É comum ouvirmos que ansiedade é frescura, mas não é. E os impactos são reais e sérios”.

Técnicas simples podem ajudar

Em momentos de crise, algumas estratégias práticas ajudam a aliviar os sintomas. Gabriela recomenda o uso da técnica sensorial “5-4-3-2-1”, que consiste em redirecionar o foco da mente: identificar cinco coisas que se pode ver, quatro que se pode tocar, três que se pode ouvir, duas que se pode cheirar e uma que se pode saborear.

Trata-se de uma estratégia para manter a atenção no momento presente, reduzindo a tendência da mente se dispersar em preocupações, lembranças dolorosas ou pensamentos negativos que alimentam a ansiedade e o estresse. 

A especialista ainda destaca que, embora existam técnicas para amenizar a ansiedade, a psicoterapia continua sendo uma das ferramentas mais importantes. Ela ressalta que o processo terapêutico é essencial para promover mudanças profundas e duradouras, ainda que seus efeitos se manifestem a longo prazo.

Outras atitudes simples como respirar profundamente, conversar com alguém de confiança e tentar racionalizar os pensamentos também podem funcionar como medidas imediatas para conter o agravamento da crise.

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