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Assunto é deixado de lado em consultórios mas precisa vir à tona, dizem especialistas

Lula aparece sem barba, um dos efeitos da quimioterapia
Reprodução
Lula aparece sem barba, um dos efeitos da quimioterapia
A ausência da barba do ex-presidente Lula e a careca exposta do galã Reynaldo Gianecchini podem deixar explícito um problema da saúde masculina que costuma ficar embaixo do tapete.

Sim, respondem os especialistas. A autoestima dos homens também é ferida com esta sequela da quimioterapia para o tratamento do câncer , mas nem sempre o tema é tratado com importância devida pelos médicos e familiares do doente.

Saiba tudo sobre o câncer

Na avaliação da presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, Cristina Volker, o fato de dois pacientes tão emblemáticos como o ator global e o ex-presidente estarem sendo acompanhados de perto pela população pode ser uma oportunidade única de trazer o assunto à tona.

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“Quase todas as ações para resgatar a autoestima após o diagnóstico do câncer são focadas na mulher. Os homens ficam em segundo plano”, afirma Cristina. “Mas não é isso que vemos nos consultórios. O paciente masculino está cada vez mais interessado na estética, nos cuidados com o corpo e também sofre os impactos ao perder o cabelo, ficar pálido ou inchado em decorrência do tratamento.”

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Reynaldo Gianecchini posa ao lado do fã José Roberto Beretta Paiano de Oliveira, que também passa por tratamento no hospital Sírio Libanês
Arquivo pessoal
Reynaldo Gianecchini posa ao lado do fã José Roberto Beretta Paiano de Oliveira, que também passa por tratamento no hospital Sírio Libanês
Os efeitos não são restritos ao reflexo no espelho, acrescenta a psico-oncologista. A fragilidade que o papel de doente acarreta e a dependência de terceiros podem também afetar em cheio a noção de masculinidade dos pacientes, um dos gatilhos para a depressão .

A psico-oncologista do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz - especializada em bioética – acrescenta que as limitações acarretadas pela doença, de diminuição de produtividade ou de provedor da família, também arranham a imagem do homem com câncer. “Não falar deste assunto ou fingir que ele não existe pode aumentar o sofrimento e postergar a sensação de estranhamento do papel que será exercido pelo paciente. Tudo isso interfere no enfrentamento da doença.”

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Ajuda

O estresse deste impacto social do tratamento do câncer traz danos físicos, já descreveu o psicanalista Marcelo Márcio Gianni em seu estudo sobre as diferentes formas que os gêneros enfrentam a doença. Segundo ele, a pessoa estressada libera mais adrenalina no organismo e este hormônio diminui a efetividade da produção dos glóbulos brancos, justamente as necessárias para aumentar as defesas do corpo e combater o tumor.

Em sua análise, publicada em 2007, ele afirmou – com base no acompanhamento de pacientes homens e mulheres- que enquanto eles apresentavam uma imensa dificuldade em falar sobre sua doença, sentiam-se isolados e impossibilitados de partilhar seus medos, elas diziam que a rede de familiares e amigos era o essencial para superar o câncer.

Luciana Holtz orienta que a melhor forma de amenizar os impactos psicológicos do câncer nos homens é abrir espaço para que eles conversem sobre a doença. “Junto com o paciente, a família ajuda a definir o que ele quer ou não continuar fazendo. Não adianta passar por cima de suas vontades”, diz.

Veja as dicas para lidar com esta situação

- Converse sempre. Se a equipe médica der o aval para o paciente continuar trabalhando, e ele tiver condições de permanecer no posto, incentive a produtividade

- Não tenha medo de falar sobre sexualidade. O desejo sexual pode diminuir no período e o seu companheiro, pai ou amigo pode ficar mais à vontade de você expuser que compreende a situação

- Não use frases como “homem não chora”, “você sempre foi forte”. Isso pode dar força para o lado ruim da fragilidade. Compreensão e acolhimento para os medos masculinos ajudam a superar o problema

- Não negligencie o peso estético acarretado pelo tratamento. Ficar careca não é fácil para ninguém. Busque, de forma divertida, as alternativas. Chapéus, gorros, bonés, boinas e até perucas podem ser opções para quem perde os cabelos

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