Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta foi demitido do cargo em abril deste ano
Foto: José Cruz/ABr
Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta foi demitido do cargo em abril deste ano



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O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta  teme que constante interferência política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) possa frear uma possível aprovação e registro da vacina chinesa na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A CoronaVac é desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butanótan, de São Paulo.

Ontem (20), o Ministério anunciou a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac. De acordo com o ministro Pazuello, a União deveria investir R$ 2,6 bilhões até janeiro. Com isso, a vacina chinesa produzida em parceria com o Instituto Butantan seria incluída no calendário nacional de vacinação e distribuída em todo o Brasil.

Hoje (21), mais cedo,  Bolsonaro anunciou o cancelamento da compra. Em entrevista exclusiva ao portal iG , o ex-ministro fez duras críticas ao presidente por revogar o acordo entre o governo paulista e o Ministério da Saúde, para a compra das 46 milhões de doses da CoronaVac. 

"Eu acho que o que a gente tem que ficar atento agora, é que como esse estudo da vacina vai para a Anvisa, é se ele [Bolsonaro] não vai pressionar a Agência para não dar o registro oficial. Ele teria esse poder porque nomeou o presidente, um almirante ligado a ele", explicou Mandetta. 

Para o ex-ministro, é preciso analisar se a Anvisa vai fazer uma análise técnica ou política da CoronaVac. "A gente espera que a Anvisa seja a próxima instituição a ser pressionada por Bolsonaro, vamos acompanhar se a parte política fica de fora para que ela possa fazer seu trabalho com segurança", criticou.

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Mandetta não teme demissão Pazuello por causa da vacina chinesa

Ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello
Foto: Carolina Antunes/PR
Ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello

De acordo com o colunista do jornal O Globo Lauro Jardim, Bolsonaro externou a auxiliares sua insatisfação com  Pazuello após o episódio da vacina. "Está querendo aparecer demais, está gostando dos holofotes, como o Mandetta", teria dito o presidente em referência ao seu primeiro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta .

Demitido em abril por causa de divergências com o presidente na condução da pasta, em meio à pandemia, Mandetta diz não temer que o atual ministro Eduardo Pazuello seja exonerado do cargo por ter autorizado a compra da vacina, na terça (20).

"Eu sou um homem que estava lá sem amarras para fazer um trabalho técnico. Ele está lá para seguir ordens . Lá ele é mais um militar para seguir ordens absurdas. Ele é general só no papel, ali ele é subordinado do presidente e nada mais", alfinetou o ex-ministro sobre as tratativas do Bolsonaro com o Pazuello.

O que diz a Anvisa

Em entrevista coletiva hoje (21), a direção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que a análise de vacinas contra o novo coronavírus será técnica, independentemente do laboratório e do país de origem do tratamento.

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Segundo a Anvisa , a análise de qualquer vacina será realizada de acordo com os parâmetros científicos e técnicos definidos neste procedimento. A agência analisa a segurança da substância e sua eficácia, visando avaliar se o tratamento traz resultados e se pode implicar em efeitos colaterais que coloquem a saúde ou a vida das pessoas em risco.

O presidente da Anvisa, Antônio Barra, afirmou que não cabe à agência adiantar posições ou análises sobre as vacinas nem apresentar previsões de calendário ou de quando uma substância estará disponível à população.

A prerrogativa do órgão, reforçou, é examinar os pedidos de registro e as informações científicas apresentadas para embasá-los. "A ação que esta agência tem no caso concreto dos protocolos vacinais é de aferição do desenvolvimento garantindo ao final do processo a qualidade, segurança e eficácia. A Anvisa não participa de compra feita pelo governo de medicamento ou insumo. As políticas públicas são do MS. Para nós pouco importa de onde vem a vacina. Nosso dever é fornecer a resposta se produtos induzem ou não à imunidade e se vai combater o coronavírus", destacou Barra.

A diretora da Anvisa Alessandra Bastos declarou que a agência está atuando para avaliar os pedidos que chegam relacionados à Covid-19 , mas mantendo a segurança e as exigências dos protocolos. "Nossos técnicos avaliam se aquela fábrica está funcionando e que nessa vacina, independentemente de sua origem, seja produzida dentro de boas práticas de fabricação", comentou.

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