Leitos de UTI
Rogerio Santana/Governo do Rio de Janeiro
Pressão no sistema público de saúde do País preocupa profissionais

Enquanto os países europeus enfrentam novas restrições para conter uma nova - e ainda mais contagiosa - onda da Covid-19 , o cenário do Brasil divide opiniões entre profissionais da ciência, gestores e população em geral. De acordo com o virologista e delegado do conselho de Biomedicina do Rio de Janeiro, Raphael Rangel, porém, o novo pico da doença é visível e não deve ser ignorado.

“Hoje, no Rio de Janeiro, estamos com 92% dos leitos de UTI ocupados por pacientes da Covid-19. De meados de outubro pra cá, a gente observa um cenário próximo ao colapso”, diz.

Nesta terça-feira (24), a secretaria estadual de Saúde do Rio de Janeiro anunciou a  suspensão temporária de cirurgias eletivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de aliviar a pressão nos hospitais.

Além disso, novos leitos foram disponibilizados aos pacientes da Covid-19. A suspensão das cirurgias também foi uma decisão do estado de São Paulo , após aumento de 18% no número de internações nas redes pública e privada. 

De acordo com um balanço divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além do Rio de Janeiro e São Paulo, outros 14 estados brasileitos registram tendência moderada ou forte de alta de casos da doença: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíbaa, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Apesar das constantes comparações com a segunda onda na Europa - onde uma possível mutação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) se espalhou durante o verão no continente - o profissional de saúde acredita que o contexto brasileiro está mais relacionado à não-obediência das regras para redução do contágio.

“A segunda onda pode acontecer por mutações, mas não acredito que seja isso que está ocorrendo no Brasil. As regras de distanciamento social não estão sendo respeitadas, os governantes não voltam atrás das medidas de flexibilização. Existe uma grande irresponsabilidade no combate à pandemia”, opina. 

Sobre a divergência entre profissionais da área, porém, Rangel explica que as divergências sobre a existência ou não de uma segunda onda, “gira em torno da baixa testagem no país”, que não permite uma análise apurada sobre o comportamento da doença na população. “Surgem dúvidas sobre os resultados represados, sobre a possibilidade do que vemos agora ser um dado antigo”.

“O Brasil falhou muito. É inadmissível que, meses após o início da pandemia, a gente ter t estes PCR prestes a vencer dentro de um galpão, isso só mostra a ineficiência que o Brasil tem no combate à pandemia , com pessoas inexperientes, que não são da área, na gestão dessa crise”, diz o virologista, que utiliza, como exemplo, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, que não possui qualquer formação na área médica.

A defesa do Ministério da Saúde sobre os 6,8 milhões de testes estocados , cujo preço na rede privada é de cerca de R$ 300, é de que a distribuição e organização dos exames é uma responsabilidade de cada secretaria estadual, cabendo à pasta apenas a demanda de adquirir os testes. Os estados, por sua vez, alegam que muitos dos kits estão incompletos, dificultando a análise laboratorial após a coleta. 

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