O estado de Minas Gerais poderia, agora, estar em fase de produção de vacinas contra Covid-19 a exemplo do Instituto Butantan, em São Paulo, e da Fiocruz, no Rio de Janeiro. De acordo com documentos obtidos pelo portal Estado de Minas, a farmacêutica Sinopharm propôs acordo ao estado, mas desistiu após "lentidão das tratativas".
De acordo com e-mails e memorandos acessados pelo portal mineiro, um dos erros mais grave das negociações foi uma gafe diplomática: a primeira reunião entre autoridades de saúde do estado e representantes da farmacêutica estava marcada para as quatro da tarde no horário de Brasília. No fuso horário chinês, porém, a reunião ocorreria às três da manha.
Os representantes da empresa chinesa, então, cancelaram a reunião. Em mensagem repassada ao estado, o responsável por comunicar o horário da videoconferência, Thiago Toscado, afirma que “eles lamentam informar que não poderão atender a essa reunião com Minas Gerais às 3 da manhã no horário de Beijing. Os amigos da CNBG realmente apreciam o duro e eficiente trabalho do Indi em concluir o MoU (Memorando de Entendimento) entre Minas e a CNBG. Eles também estavam muito entusiasmados para estabelecer essa cooperação”.
A negociação envolvia representantes da China National Biotec Group Company (CNBG), grupo que controla a farmacêutica Sinopharm, dirigentes da Fundação Ezequiel Dias (Funed), da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e do Instituto Mineiro de Desenvolvimento Integrado (Indi).
No mesmo documento em que cancela a reunião, os representantes da farmacêutica ainda afirmam que “duas semanas após a assinatura do memorando, Minas Gerais ainda não propôs um plano de trabalho para os testes clínicos de fase 3, e também não tem propostas de companhias CRO (Clinical Research Organizations, empresas às quais se pode terceirizar um ensaio clínico). O atual estágio dos trabalhos preocupa a CNBG. Uma vez que a pandemia de COVID-19 ainda avança furiosamente, a equipe da CNBG está correndo contra o tempo todos os dias para oferecer ao mundo uma vacina segura e efetiva. Eles não podem mais esperar”, finaliza.
De acordo com uma fonte anônima ligada à secretaria estadual de Saúde, em entrevista ao Estado de Minas, a troca de mensagens começou no início de junho, antes da parceria entre Butantan e Sinovac, que resultou na bem sucedida CoronaVac. “Se esse processo tivesse avançado, teríamos acordo com um produtor internacional de vacinas, como o Butantan tem. Poderíamos, provavelmente, estar no mesmo patamar deles”, comentou.