A União Europeia (UE) tem sido criticada pelo progresso lento da vacinação contra o coronavírus nos seus Estados-membros, em meio a problemas de abastecimento, atrasos nas entregas e até disputas com o Reino Unido. Na última semana, na tentativa de conter o problema, o bloco anunciou que restringiria a exportação de vacinas — uma medida que foi duramente criticada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Porta-vozes da OMS afirmaram que o "nacionalismo das vacinas" acabaria, inadvertidamente, prolongando a pandemia e representava uma "falência moral".
A UE, por sua vez, afirmou que sua prioridade é a "proteção e segurança de seus cidadãos".
Na página da Comissão Europeia na internet, o bloco diz que "não tem a intenção de restringir as exportações por mais do que o absolutamente necessário, e a União permanece plenamente comprometida com a solidariedade internacional e suas obrigações internacionais".
Como é o programa de vacinação europeu
As regras do programa de imunização da UE foram estabelecidas em junho de 2020 e permitem que a UE negocie a compra de vacinas em nome de seus membros, o que poderia ajudar a reduzir custos e evitar a competição entre os países do bloco.
Os países não têm obrigação de aderir ao esquema, mas todos os 27 optaram por fazê-lo.
Eles continuam a poder fazer acordos separados com fabricantes com os quais a UE não tem acordo. A Hungria comprou 2 milhões de doses da vacina russa Sputnik V, por exemplo.
Mas um dos entraves atuais diz respeito à vacina de Oxford/AstraZeneca (também em uso no Brasil), aprovada pela UE em 29 de janeiro.
O bloco assinou um acordo para receber 300 milhões de doses em agosto, enquanto o Reino Unido encomendou 100 milhões em maio.
Mas a AstraZeneca diz que enfrenta problemas de abastecimento por causa de falhas em uma fábrica na Bélgica e em outra na Holanda.
As entregas para a UE poderiam ser reduzidas para 31 milhões no primeiro trimestre de 2021, um corte de 60% do previsto.
Isso gerou críticas do bloco, que diz que não deveria receber menos doses só porque o Reino Unido assinou um contrato antes. A UE cobrou que as fábricas da companhia no Reino Unido entregassem o que foi prometido.
A AstraZeneca disse que o fato de os contratos da UE terem sido assinados meses depois deu menos tempo para resolver problemas na cadeia de abastecimento da região.
A empresa afirmou que seu acordo com a UE permite fornecer para a Europa a partir de locais do Reino Unido, mas apenas quando o Reino Unido tiver suprimentos suficientes. "Assim que pudermos, ajudaremos a UE", disse o presidente da AstraZeneca, Pascal Soriot.
O ministro britânico Michael Gove disse que "não haverá interrupção" no abastecimento do Reino Unido, que foi "planejado, pago e programado".
A UE anunciou em 29 de janeiro que estava introduzindo controles de exportação de vacinas produzidas no bloco.
Os controles também se aplicariam a vacinas que circulam entre a República da Irlanda (que é parte da UE) e a Irlanda do Norte (parte do Reino Unido), violando parte do acordo do brexit, apelido dado à saída do Reino Unido do bloco europeu. Após críticas generalizadas, a UE reverteu essa decisão.
A UE já havia imposto controles de exportação de equipamentos de proteção individual, para garantir que os seus membros tivessem o suficiente.
E quanto à vacina Pfizer?
A UE aprovou a vacina Pfizer-BioNTech em dezembro e assinou um acordo para receber 300 milhões de doses. Mas a empresa já não conseguiu fornecer as 12,5 milhões de doses prometidas até o final de 2020.
A vacinação em partes da Europa foi interrompida após a empresa reduzir entregas para aumentar a capacidade de sua planta na Bélgica.
O executivo-chefe da BioNTech, Uğur Şahin, disse que "o processo na Europa certamente não ocorreu de forma tão rápida e direta como em outros países".
A UE dobrou seu pedido da vacina Pfizer-BioNTech para 600 milhões de doses, e a empresa francesa Sanofi ajudará a fabricar 125 milhões de doses da vacina.
A UE aprovou também a vacina da Moderna, em janeiro, mas a empresa também teve problemas de fornecimento na Itália e na França.
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Quantas pessoas já foram vacinadas?
Cerca de 13,5 milhões dos 448 milhões de habitantes da União Europeia foram vacinados até agora.
Na Alemanha, onde 2,7 milhões de pessoas foram vacinadas até 2 de fevereiro, o governo foi criticado por ficar atrás de outros países, apesar de a BioNTech ser uma empresa alemã.
Na França, 1,6 milhão de pessoas já receberam a vacina. O número é semelhante na Espanha.
A Itália aplicou pouco mais de 2 milhões de doses. E o Reino Unido, 10 milhões de doses.
Que vacinas a União Europeia comprou?
A Comissão Europeia afirma que fechou acordos com outras cinco farmacêuticas para comprar centenas de milhões de vacinas, assim que forem aprovadas nos ensaios clínicos:
- AstraZeneca: 400 milhões de doses
- Sanofi-GSK: 300 milhões de doses
- Johnson & Johnson: 400 milhões de doses
- CureVac: 405 milhões de doses
- Moderna: 160 milhões de doses
A comissão concluiu negociações iniciais com outra empresa, a Novavax, para até 200 milhões de doses.
Um porta-voz da Comissão Europeia disse à BBC News que a estratégia de encomendar vacinas de vários fornecedores era "sólida" e poderia "garantir quase 2 bilhões de doses para os cidadãos europeus" (o bloco quer imunizar um total de 450 milhões de pessoas).
Que papel o brexit desempenhou?
Depois que o Reino Unido aprovou a vacina da Pfizer em novembro (quase três semanas antes da UE), alguns argumentaram que o país só foi capaz de agir rapidamente por causa do brexit.
Mas na verdade o Reino Unido poderia ter aprovado o uso da vacina, segundo a legislação da UE — algo que o próprio chefe do órgão que regula medicamentos no Reino Unido assinalou.
Do ponto de vista do discurso político, governo britânico afirma que estar fora da UE permite ser mais ágil nesta área.
E quanto ao esquema de vacinas da UE?
O Reino Unido poderia ter aderido ao programa do bloco no ano passado, enquanto ainda estava em uma fase de transição com a UE, mas optou por não fazer isso.
Se tivesse, o Reino Unido poderia não ter sido capaz de fechar tantos acordos com as empresas de vacinas.
Os termos do esquema da UE estabelecem que os países participantes devem "concordar em não lançar seus próprios procedimentos de compra antecipada de [a] vacina com os mesmos fabricantes" com os quais a UE tem um acordo.
No entanto, o governo alemão assinou seu próprio acordo com a Pfizer para 30 milhões de doses extras em setembro.
Em janeiro, a Comissão Europeia se recusou a dizer se isso havia violado os termos do programa da UE.