Em áudio, o proprietário do laboratório União Química, Fernando Marques, acusa a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de barrar a vacina russa contra a Covid-19 , a Sputnik V , por interesses políticos. A mensagem foi enviada originalmente ao empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, mas chegou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As informações foram apuradas pelo jornal O Estado de S. Paulo .
Segundo Marques, a demora da Anvisa em dar aval ao imunizante tem como objetivo favorecer o Instituto Butantã, ligado ao governo de São Paulo, que produz a Coronavac, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fabricante da vacina AstraZeneca/Oxford. De acordo com ele, a intenção é de beneficiar o governador de São Paulo, João Doria, no caso do Butantã, e o PT e o PCdoB, que têm a Fiocruz "na mão".
"Eles querem manter a coisa com a Fiocruz e com o Instituto Butantã. Butantã na mão do Doria e Fiocruz na mão do PT, PCdoB. E, porra, não tem vacina, o povo tá morrendo", afirma Marques no áudio obtido pelo Estadão . No arquivo, o empresário também diz ter sido "humilhado" em uma reunião com o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, na semana passada.
"É uma loucura. Eu estive com o Barra na semana passada. Ele só faltou me mandar acompanhar até o carro. Fui humilhado. Parece que é um criminoso alguém que quer trazer a vacina ao Brasil, que está sendo usada pelos russos, independente, em mais de 40 países", diz.
O que diz a Anvisa
A União Química pretende distribuir a vacina russa no Brasil, entretanto, a Anvisa diz que a empresa ainda não entregou os dados necessários sobre o produto. Os técnicos da agência e da farmacêutica tiveram reunião na quarta-feira (17) e devem voltar a se encontrar na próxima segunda-feira (22). Há expectativa de que seja feito um pedido de uso emergencial da vacina após essa conversa.
Em nota, a Anvisa disse que a União Química apresentou "informações sobre qualidade, eficácia e segurança da vacina". No entanto, a agência afirma que "o relatório oficial não foi enviado" e que "estão pendentes dados essenciais para a análise, que estão sendo discutidos entre as partes".
Por outro lado, a empresa alega que já protocolou o pedido de aval emergencial em janeiro, mas que este foi ignorado pela Anvisa. A agência diz que a solicitação foi devolvida por falta de "requisitos mínimos".
Abaixo, a transcrição do áudio de Marques:
"Presidente, boa noite, é Fernando Marques, sou empresário da área farmacêutica. Minha empresa faz 85 anos. E vão (sic) fazer 50 anos que trabalho na minha empresa.
Estamos vivendo um período de guerra, de guerra. A população está morrendo. A vacina russa, perdi 10 milhões que iam chegar no primeiro trimestre. Não me deram autorização nem emergencial. Negam que pedi isso lá dentro da Anvisa.
Protocolo eletrônico, eles só aceitam protocolo eletrônico e não estão reconhecendo protocolo eletrônico. Eles querem manter a coisa com a Fiocruz e com o Instituto Butantã.
Butantã na mão do Doria e Fiocruz na mão do PT, PCdoB. Entendeu? E, porra, não tem vacina, o povo tá morrendo. E para esse trimestre a Rússia se comprometeu em embarcar 10 milhões. Entre abril e maio. Porém, se não sair a emergencial, que eles alegam que eu não entrei, e eu tenho comprovante eletrônico que entrei com o pedido. Dia 14 de janeiro. E eles suspenderam a análise. E eles negam que entrei. É uma coisa surreal. Entendeu? Passando informação eles não aceitam ela documentalmente, só fica eletronicamente, isso desaparece. E fala que não entrego nada. É surreal o que to passando. E esse povo não tem coração, matando as pessoas por falta de vacina. É uma loucura.
Eu estive com Barra na semana passada. Ele só faltou.. me mandou acompanhado até o carro, fui humilhado, parece que é um criminoso, alguém que quer faze e trazer vacina ao Brasil, que tá sendo usada pelos russos, independente.. em mais de 40 países. Não estamos falando de coisa política não, é realidade. Olha o que tá acontecendo, não pode ficar dessa forma. É uma coisa surreal, não sei mais o que fazer."