No dia 20 de janeiro de 2020, Taiwan estabeleceu uma Central de Controle de Epidemias (CECC), composto por especialistas em medicina e saúde pública, liderado pelo vice-presidente Dr. Chen Chien-jen, um epidemiologista
Foto: Makoto Lin/Fotos Públicas
No dia 20 de janeiro de 2020, Taiwan estabeleceu uma Central de Controle de Epidemias (CECC), composto por especialistas em medicina e saúde pública, liderado pelo vice-presidente Dr. Chen Chien-jen, um epidemiologista


Com apenas 998 casos e 10 mortos pela Covid-19 desde o início da pandemia, Taiwan é considerado um exemplo de combate ao novo coronavírus (Sars-CoV-2) em todo o mundo. A ilha, que tem cerca de 23 milhões de habitantes, nunca precisou passar por um lockdown , mas fez uso da tecnologia, experiência com outra pandemia e medidas severas para garantir o cenário tranquilo atual. 

Para efeito de comparação, o estado de Minas Gerais, no Brasil, com cerca de 21 milhões de habitantes, acumula mais de 991 mil casos e 21.029 mortes pela doença, 2.100 vezes a mais do que o registrado em Taiwan. 

Diferente do que fez o Brasil no início da pandemia, que hoje soma mais de 280 mil mortes pela doença e mais de 11 milhões de casos, Taiwan, que é vizinho da China, onde tudo começou, tomou medidas rápidas.

O médico infectologista Júlio Croda explica que o país asiático apostou, entre as ações iniciais para conter o vírus, em bloquear a imigração, acompanhar e rastrear os casos da doença na população, e testar os moradores para impedir que a transmissão aumentasse de forma rápida.

"Isso é o que fez a diferença, o monitoramento constante, distanciamento social e controle da transmissão comunitária, assim como foi feito na Austrália", explicou o especialista. 

No dia 20 de janeiro de 2020, Taiwan estabeleceu uma Central de Controle de Epidemias (CECC), composto por especialistas em medicina e saúde pública, liderado pelo vice-presidente Dr. Chen Chien-jen, um epidemiologista.

O país só teve o primeiro óbito pela doença no dia 30 de janeiro de 2021. Na ocasião, o ministro da Saúde, Chen Shih-chung, disse que a vítima foi uma mulher de 80 anos com histórico de problemas renais e diabetes. Ela vivia na mesma casa que uma enfermeira que trabalhava no hospital e foi infectada lá.

"Nunca houve lockdown aqui", diz brasileiro que mora em Taiwan

Steve Ni, paulistano e filho de taiwaneses, se mudou para a terra natal dos pais quando a pandemia começou
Foto: Arquivo Pessoal

Steve Ni, paulistano e filho de taiwaneses, se mudou para a terra natal dos pais em 2016

O professor de inglês Steve Ni, brasileiro que mora na ilha, relembra que logo no início da pandemia o governo fechou o espaço aéreo e marítimo internacional e todos os passageiros que ainda conseguiam entrar no país eram testados.

"Eles também disponibilizaram um 0800 para qualquer pessoa com suspeita de Covid entrar em contato e criaram a lei de obrigação do uso de máscaras em locais públicos, além da quarentena para quem chegava aqui", conta. 

Em março de 2020, Taiwan proibiu todos os estrangeiros de entrarem na ilha, com exceção de diplomatas, residentes e cidadãos com vistos especiais de entrada.

Steve explica que essas e outras medidas ajudaram a combater a transmissão do vírus. Ele também entende que a cultura de obediência dos asiáticos ajudou nesse processo de proteção.

"Nunca houve lockdown aqui, eu tenho uma vida normal. Quando a gente se encontra, ninguém usa a máscara, nem na rua. Só usamos em locais como bancos, mercados e no transporte público", diz. 

Fotografia do mês de fevereiro de um mercado noturno em Taiwan
Foto: Arquivo Pessoal.
Fotografia do mês de fevereiro de um mercado noturno em Taiwan



Sobre a rotina do país, o brasileiro diz que está tudo funcionando normal, com restaurantes e academias de portas abertas. "Os casos foram todos importados, não são nativos daqui", conta Steve. 

Ele lamenta que o exemplo da ilha não foi seguido pelo Brasil, principalmente no início da doença. "Agora, eu acho um pouco tarde porque quando houve o boato de uma nova pandemia, era o momento de ser ágil, não de celebrar Carnaval", criticou. 


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Experiência com o outro surto ajudou

Além da facilidade para controlar a entrada e saída de pessoas em seu território por ser uma ilha, Taiwan adquiriu experiência com pandemias. Em 2003, o país sofreu um surto da síndrome respiratória aguda grave (Sars) e conseguiu fortalecer a capacidade de resposta. Na época, morreram 73 pessoas pela doença.

Com essa experiência, o país ficou vigilante quando o primeiro caso da pneumonia misteriosa foi relatado em Wuhan, na China.

A ilha, que não é membro da Organização Mundial da Saúde (OMS), espera que o exemplo no combate ao novo coronavírus facilite a entrada na instituição. O ministro Chen Shi-chung diz que desde o começo da pandemia, Taiwan já recebeu apoio de diversos líderes políticos para que seja aceita na OMS, de países como Japão, Canadá, EUA e Nova Zelândia, além de deputados do Parlamento Europeu.

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