O Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou hoje em audiência pública que não vai mudar o parecer do órgão sobre a autonomia médica de prescrição do chamado kit covid , composto por medicamentos que não têm eficácia contra a doença, e podem até causar danos à saúde.
A conselheira federal Rosylane Nascimento das Mercês disse que os profissionais podem receitar o kit se julgarem necessário, desde que haja consentimento do paciente.
"Sobre a medicação que está sendo prescrita, se o paciente concorda e ele [médico] se sente seguro em fazer essas prescrições, ele também está sendo protegido pelo parecer. O parecer não recomenda nenhum tipo de prescrição, nem de cloroquina nem de hidroxicloroquina nem de outra medicação", disse, ressaltando que apenas os conselhos Federal e Regional de Medicina podem dizer o que é ético ou não.
A posição do CFM foi motivo de duras críticas no evento. Representante da Associação Brasileira de Médicos pela Democracia, Ceuci de Lima Xavier Nunes afirmou que o CFM presta um "desserviço" com a forma como lida com a situação.
"Eu acho que o CFM fez um grande desserviço ao Brasil e aos médicos com essa nota, causou perplexidade, inclusive. É incrível que a gente tenha sociedades médicas ligadas à doença como Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Brasileira de Pneumologia, Amib [Associação de Medicina Intensiva Brasileira], Sociedade Brasileira de Pediatria se posicionando contra a utilização dessas medicações e o CFM mantém mais de um ano e meio depois a mesma nota."
O deputado Jorge Solla (PT-BA), que presidia a audiência, sugeriu uma nova reunião para discutir os limites da autonomia médica. Segundo ele, a sessão de hoje foi convocada após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer na Assembleia-Geral da ONU que a adoção do kit covid no país vem de uma política pública de enfrentamento à pandemia.