Covid-19: Mortes de bebês são duas vezes maiores nas regiões Norte e Nordeste do que no Sudeste
Luis Barrucho - @luisbarrucho - Da BBC News Brasil em Londres
Covid-19: Mortes de bebês são duas vezes maiores nas regiões Norte e Nordeste do que no Sudeste

Embora estejam fora da população vacinável, bebês e crianças de 0 a 4 anos de idade também são impactados pela pandemia da Covid-19. E, de acordo com levantamento realizado pelo Info Tracker a pedido do GLOBO, esse grupo tem maior incidência de mortes, proporcionalmente, nos estados do Norte e Nordeste, quando comparados com Sul e Sudeste.

Segundo o estudo, realizado por meio do portal Sivep-Gripe, ligado ao Ministério da Saúde, as mortes de crianças de 0 a 4 anos em todo o país, de janeiro de 2021 (quando foi iniciada a vacinação contra a Covid-19) até fevereiro deste ano, variaram de 2,1 registros a cada milhão de habitantes no Sudeste a 5,4 registros a cada milhão de habitantes na região Norte. A região Nordeste tem 5,1 registros, para o mesmo contingente populacional, a Centro-Oeste, 2,9, e a Sul, 2,2.

Estados das regiões onde há alta concentração de óbitos de crianças por Covid-19 afirmam que as mortes ocorrem entre meninos e meninas que têm comorbidades, principalmente. É o caso do Amapá, que, por meio de nota, disse ter regristrado sete mortes nessa faixa etária desde o ano passado, sendo quatro pelo coronavírus.

O caso do Amazonas é mais específico. O estado diz que, do total de crianças mortas, 47% tinham doenças prévias, a exemplo de asma (26%), doença cardíaca crônica (24%) e doenças neurológicas crônicas (21%). Ainda segundo a pasta da Saúde, a morte de bebês representa somente 0,5% do total de óbitos ocorridos. Os dados, porém, refletem todo o período da pandemia, desde 2020.

O Ceará, por sua vez, diz que as crianças de 0 a 4 anos figuram como “o público com menor incidência da doença e que menos evolui para quadros graves ou óbitos, como constatado durante as ondas da pandemia em todo o mundo”. Além disso, afirma que “tem reforçado protocolos de atendimento, abrindo novos leitos de enfermaria e UTI infantil, nas unidades da capital e do interior”.

O Infectologista e pediatra Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que, no Brasil, o impacto da Covid-19 tem ocorrido de maneira distintas mesmo dentro de um único estado.

"As questões geográficas e políticas são fatores importantes para a Covid-19 e também para as outras doenças. Há diferença, sim, entre [o impacto da doença] no Norte e Nordeste, mas também entre as capitais e as cidades do interior. Isso ocorre em todas as faixas etárias", afirma o especialista.

Em uma população em que não há vacina disponível, explica o professor de infectologia e pediatria da Santa Casa de São Paulo Marco Aurélio Sáfadi, o acesso ao atendimento é ainda mais decisivo para o desfecho da infecção, assim como a presença de doenças pré-existentes.

"Em regiões de maior inequidade, o problema na qualidade de assistência ou falta de atendimento inoportuno é algo que é acentuado. Um maior número de infecções e parasitoses também influenciam nesse quadro", avalia o médico.

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Responsável pelo estudo, a especialista em matemática da Universidade de São Paulo (USP) Marilaine Colnago, uma das coordenadoras do Info Tracker, afirma que o número de bebês que foram vítimas fatais pode ser ainda maior.

"Todos os dias em que entramos nos portais das prefeituras para coletar dados há sempre algum lugar que não atualizou informações por problemas nos e-SUS [uma plataforma do Ministério da Saúde]", explica a especialista. "Além disso, muitos casos de Covid-19 chegam ao sistema como “não especificados”, e já ouvimos diversos especialistas cuja a análise é de que uma grande parte dessas notificações é de infecções por coronavírus."

Info Tracker é um sistema organizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da USP para monitoramento da Covid-19.

Realidade distante

Por enquanto, a vacina para bebês e crianças com idade inferior a 3 anos não é uma realidade próxima ao país. A vacinação autorizada por aqui diz respeito às crianças de 5 anos em diante, com a vacina da Pfizer e de 6 anos em diante com a CoronaVac.

Neste mês, porém, o Instituto Butantan protocolou junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido para que o uso da vacina se estenda para criançar de 3 anos ou mais.

A solicitação ainda está sendo discutida em conjunto com especialistas em pediatria. Agora, há mais documentos para serem avaliados pelos especialistas, uma vez que o Butantan encaminhou registros do uso da vacina no Chile nesta faixa etária.

Dimas Covas, diretor do instituto, afirmou ao GLOBO que, uma vez compradas pelo governo federal, as doses para os pequenos devem chegar prontas ao país em 15 dias.

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