A cafeína pode ser uma aliada no tratamento de sintomas do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), sugere um novo estudo recém-publicado na revista científica Nutrients. O trabalho, conduzido por pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Aberta da Catalunha (UOC), na Espanha, concluiu que um consumo da substância indicado por especialistas pode aumentar a capacidade de atenção e retenção de informações em adolescentes e adultos que sofrem do distúrbio psiquiátrico.
De acordo com os responsáveis pelo estudo, o tratamento com cafeína “aumenta a atenção e melhora o aprendizado, a memória e a discriminação olfativa sem alterar a pressão arterial e o peso corporal”. Eles explicam que os medicamentos atuais utilizados para o TDAH podem ter uma série de efeitos colaterais e não funcionam de forma ampla para todos, por isso a busca por novas formas de aliviar os sinais da doença.
“O arsenal terapêutico para aliviar o TDAH é limitado e há certa controvérsia em torno do uso de alguns tipos de medicamentos e estimulantes, principalmente na infância e adolescência. É por isso que é útil estudar a eficácia de outras substâncias, como a cafeína”, explica um dos principais autores do estudo, em comunicado, Javier Vázquez, pesquisador do laboratório de neurociências da Universidade, Cognitive NeuroLab.
A equipe do laboratório realizou, então, o que afirma ser a primeira análise sistemática de todos os estudos que pesquisaram os efeitos da cafeína em pacientes com o transtorno já publicados até setembro de 2021. De acordo com os cientistas, a conclusão foi de que a substância promoveu um aumento da atenção, melhora da concentração, benefícios de aprendizagem e resultados positivos em alguns tipos de memória.
"Essa substância melhora esses tipos de procedimentos cognitivos e aumenta a capacidade e flexibilidade tanto na atenção espacial quanto na atenção seletiva, bem como na memória de trabalho e memória de curto prazo", enfatizou Vázquez.
No entanto, ele destaca que, para outros sintomas característicos do TDAH, como hiperatividade e impulsividade, a cafeína não apresentou melhoras significativas.
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“Os resultados são muito positivos, mas devemos ter muito mais cuidado ao prescrever um tratamento médico à base de cafeína para esses sintomas. Em diagnósticos em que o problema é puramente atencional, a cafeína pode ser uma terapia adequada, mas se houver presença sintomatológica de hiperatividade ou impulsividade, devemos ser mais cautelosos”, afirma o pesquisador.
O TDAH é uma patologia psiquiátrica cujo número de diagnósticos tem crescido de forma acelerada nos últimos vinte anos. Na Espanha, país onde o estudo foi conduzido, a estimativa é que o distúrbio esteja presente entre 2% a 5% das crianças, e cerca de 4% da população adulta. No Brasil, são mais de 2 milhões de pessoas com o transtorno, segundo informações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Vázquez explica que a doença tem uma prevalência maior no público infantil, mas que também não é diagnosticada de forma correta entre os mais velhos. O tratamento varia entre os pacientes, mas pode envolver medicamentos e medidas não farmacológicas, como terapia cognitiva comportamental.
“Queremos enfatizar que não somos contra a medicação para TDAH, mas estamos abertos a investigar todas as alternativas possíveis para melhorar esse tipo de transtorno e a poder usar a cafeína do ponto de vista terapêutico com todo o acompanhamento médico adequado”, acrescentou o pesquisador do Cognitive Neurolab.