Moradores em situação de rua são novos alvos de vacinação contra covid
LuAnn Hunt/Pixabay
Moradores em situação de rua são novos alvos de vacinação contra covid


As medidas de higiene e distanciamento — fundamentais para debelar o avanço da pandemia  em seu ano inicial — eram de difícil realização por parte dos 222 mil brasileiros em situação de rua, de acordo com o mais recente levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com a chegada da vacinação, em janeiro do ano passado, porém, a proteção dessa população contra a Covid-19 tornou-se possível.

As prefeituras, por sua vez, precisaram lançar mão de vacinas de aplicação única, caso da Janssen, e de busca constante dos desabrigados para conseguir oferecer as doses. Mas há percalços no caminho, relacionados à flutuação dessa população — que costuma se movimentar entre cidades próximas — e à dificuldade de contabilizar qual é o tamanho da população vacinável entre os sem moradia.

Em Salvador, por exemplo, enquanto a cobertura vacinal com duas doses da população em geral chega a 93%, para moradores de rua está próxima de 52%. Essa estimativa considera um número conservador de desabrigados e pessoas em alta vulnerabilidade. Há outros levantamentos que apontam uma população de até 14 mil pessoas. O que jogaria a taxa de vacinação para só 22%.

“Consideramos oficialmente 6 mil pessoas em situação de rua . O maior desafio é realizar a busca ativa delas. São migrantes, são passantes, que não ficam nos mesmos locais. Nesse sentido, a dose única foi uma boa estratégia, mas também estamos atuando para chegar a essas pessoas”, afirma Décio Martins, secretário de Saúde da capital baiana.


O descompasso de números também afeta a capital paranaense. A vacinação com esquema completo ou dose única atinge 121% da estimativa da população em situação de rua apta às doses. Esse patamar é possível porque a população flutuante — entre Curitiba e a região metropolitana — impede a realização de uma contabilidade correta dos desabrigados que receberam as aplicações. Em relação à terceira dose, porém, o número é bem menor, chegando a 28% da população.

“Temos um movimento consistente dos Consultórios de Rua. Há cadastro deles, fazemos acompanhamento de anticoncepção, tratamentos de tuberculose. Temos esse trabalho em andamento. Com a vacina foi mais simples, pois sabíamos quem eram essas pessoas”, afirma Márcia Huçulak, ex-secretária de Saúde de Curitiba, que deixou o cargo na sexta-feira. “Para nós não foi problema.”

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Os Consultórios de Rua não são um dispositivo de saúde previsto, desde 2011, no esquema do SUS. O projeto oferece tratamento, itinerante ou em unidades básicas, com enfermeiros, médicos, psicólogos e dentistas às pessoas que não têm onde morar.

Imunização em consultórios no meio da rua

Com a pandemia, o serviço dos Consultórios de Rua tornou-se fundamental. Em São Paulo, o número de equipes do tipo saltou de 19 para 26. Hoje, a cidade conta com 80% da população de rua com duas doses de imunização ou com dose única.

Edson Aparecido, secretário de Saúde da capital paulista, afirma que os que recusam a vacina costumam relatar medo da injeção ou uso abusivo de substâncias psicoativas e álcool. Alguns chegam a acreditar estar imunes diante do alto uso de bebida alcoólica. Daí a importância da conscientização desse público, destaca Aparecido.

Ex-secretário de Saúde do Rio, Daniel Soranz, afirma que no caso dos moradores de rua o vínculo entre quem oferece a vacinação — sobretudo nos Consultórios de Rua — é essencial para o sucesso da campanha. Na capital , 90% da população de rua, estimada em 7,7 mil pessoas, foram vacinadas.

“É uma população para a qual demos prioridade desde o início. Mas nos nossos abrigos não houve recusa, é praticamente 99% de adesão. É, sim, uma vacinação mais complexa, mas um investimento bem menor do que se a pessoa contrai Covid, o caso se agrava, e necessário internar.”

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