Pesquisa inédita no Brasil busca novas variantes da covid-19 no país
Reprodução: BBC News Brasil
Pesquisa inédita no Brasil busca novas variantes da covid-19 no país

Por trás do aumento de casos de Covid-19 registrado nos últimos dias no Brasil parece estar o avanço da cepa BA.2 da variante Ômicron. Uma análise de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que ela já é dominante em alguns lugares. Está em 100% das amostras sequenciadas nos municípios do Rio de Janeiro e de Maricá.

Os cientistas alertam que o número de casos de infecção certamente é muito maior do que o notificado porque muita gente tem recorrido ao autoteste feito em casa, invisível para os registros de saúde.

No estudo, os pesquisadores realizaram o sequenciamento dos genomas completos de Sars-CoV-2 extraídos de amostras de 28 pacientes positivos. O período analisado foi da décima terceira (27/03 a 02/04) à décima nona (08/05 a 14/05) semanas epidemiológicas de 2022, sendo 13 pacientes oriundos do município do Rio de Janeiro e 15 pacientes de Maricá. Todos estavam infectados pela cepa BA.2. e foram testados no Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes da UFRJ.

"Observamos um aumento significativo de casos desde maio e queríamos ver que variante está em circulação. O resultado não chega a causar surpresa, pois o coronavírus continua a evoluir e novas cepas emergem, se espalham e desaparecem depressa. A vacina tem segurado casos graves e mortes, como o esperado, mas o coronavírus veio para ficar", afirma o professor André Santos, do Departamento de Genética da UFRJ, um dos autores do sequenciamento, realizado parceria com o grupo de Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular.

Divulgado esta semana, o Boletim InfoGripe Fiocruz mostra que a curva nacional de casos de Covid-19 continua em crescimento. A Covid-19 responde por 59,6% dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e por 91,1% dos mortos, segundo o InfoGripe.

Amílcar Tanuri enfatiza que a BA.2 tem se espalhado muito depressa, mas seu impacto só é parcialmente observado nos números porque o Brasil continua a testar pouco.

"O autoteste não é uma solução para a maioria da população porque custa caro. Os testes aplicados pelos laboratórios privados, ainda mais. Temos que voltar a fazer um esforço de testagem porque isso ajuda a controlar surtos", frisa Tanuri.

Ele acrescenta que o Brasil está no meio de um surto desses, que só não é pior porque há muita gente vacinada. Além disso, o país acaba de sair de uma onda causada pela BA.1 da Ômicron, que circulou de Norte a Sul. Isso também, em tese, poderia oferecer alguma proteção cruzada. Mas essa é uma hipótese a ser investigada.

Santos diz que a BA.2. veio do exterior e se adaptou rapidamente. Ela se espalha no Brasil e nos EUA, mas outras subvariantes da Ômicron, como a BA.4. e a BA.5. se propagam com velocidade pela Europa.

"Todas as cepas da Ômicron são altamente contagiosas e competem entre si. O outono no Brasil é da BA.2., mas não sabemos se no inverno, sempre temido por ser a estação de maior circulação de vírus respiratórios, ela se manterá ou será substituída", observa Santos.

Não há indícios de que a BA.2 seja mais agressiva. Mas não se sabe se é menos virulenta em função da vacinação ou também por características próprias. O fato seguro é que a vacinação continua a evitar hospitalização e morte.

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