Uma das ferramentes que ajuda a controlar a diabetes é a medição do índice de glicemia no sangue
shutterstock
Uma das ferramentes que ajuda a controlar a diabetes é a medição do índice de glicemia no sangue

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), mais de 14 milhões de brasileiros convivem com a doença que é responsável pelo aumento da glicose no sangue e capaz de provocar cegueira, insuficiência renal, amputação e impotência sexual.

Leia também: Empresa cria primeiro aplicativo que controla diabetes sem amostra de sangue

Apesar dos perigos, a detecção precoce e o controle adequado da condição pode ajudar a evitar todas essas complicações. Porém, o maior desafio está na falta de diagnóstico: estima-se que metade dessas pessoas com diabetes não sabe que tem a doença.

“É uma doença totalmente silenciosa, não há sintoma. Então, a pessoa precisa fazer exames para ter certeza se tem”, afirmou o diretor da SBD Márcio Krakauer. A falta de acesso à atendimento de qualidade e rápido também ajuda a diminuir os cuidados com a saúde o que, consequentemente, influencia na falta de controle da doença. 

A endocrinologista Cassandra Pauperio afirma que a dificuldade de conseguir atendimento especializado de qualidade colabora para que a identificação da doença seja inibida. “Nem todo mundo tem acesso fácil ao sistema de saúde para a realização de exames que podem identificar a condição. Quem não tem plano de saúde depende do SUS, e por conta da demora para conseguir ser atendido, o paciente acaba recorrendo ao médico apenas em casos emergenciais. Aí não dá para fazer a prevenção.”

A maioria dos sintomas aparecem tardiamente, quando a situação já está avançada – o que compromete o tratamento. “Quando a glicose está alta por muitos anos, podem aparecer alguns poucos sintomas, como excesso de sede, aumento do apetite, perda de peso, infecções urinárias", completou Krakauer.

Pauperio chama a atenção novamente para o problema de acesso à saúde. "No Brasil, existe um atraso de cinco anos no diagnóstico da doença. Ou seja, quando a gente fala que um paciente é diabético, provavelmente ele já é há uns cinco anos, por conta dessa dificuldade de conseguir atendimento adequado."

Para estimular a procura pela detecção e tratamento adequado da patologia, que atinge 422 milhões de adultos no mundo todo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a International Diabetes Foundation (IDF) celebra nesta quarta-feira (14) o Dia Mundial do Diabetes.

Além de focar no acesso à informação sobre o diagnóstico precoce, as entidades brasileiras também participam da campanha e chamam atenção para o crescimento do número de pessoas com a doença, que aumentou 61,8% em dez anos .

Para a endocrinologista do Hospital Santa Paula Livia Faccine a falta de cuidados com a saúde e o estilo de vida cada vez mais acelerado das metrópoles contribuíram para a alta. “Os problemas decorrentes da urbanização, como estresse e falta de tempo, muitas vezes levam o indivíduo à má alimentação e ao sedentarismo que, somados à predisposição genética, podem resultar em sobrepeso e obesidade”.

Mulheres são mais afetadas

Outro dado alarmante divulgado pela OMS aponta que cerca de 8% da população feminina em todo o mundo, o equivalente a 205 milhões de mulheres, vive com diabetes. Por aqui, o Ministério da Saúde destacou que 9,9% das mulheres brasileiras são diagnosticadas com a doença, enquanto 7,8% dos homens apresentam a mesma condição.

“O diabetes exerce um impacto maior nas artérias femininas do que nas masculinas. O fato é comprovado cientificamente, mas ainda não se sabe a razão”, afirma Faccine.

Além disso, a patologia afeta a mulher em diversos aspectos, como o gestacional - 1 em cada 7 nascimentos no mundo é afetado pela condição -, e durante a menopausa, que é quando a doença precisa ter um controle diferenciado. “É uma doença muito frequente e que aumenta o risco de aborto e má formação do bebê e morte das mães. Com o tratamento, essas complicações são completamente evitáveis", afirma o diretor da SBD.

Diabetes gestacional

undefined
shutterstock/Reprodução

Diabetes gestacional é uma condição que surge apenas no período da gravidez e quase sempre some sozinho

O diabetes gestacional é uma complicação que surge apenas durante a gravidez e que, na maioria dos casos se normaliza sem nenhuma interferência depois que o bebê nasce. A mulher fica com uma quantidade maior que o normal de açúcar no sangue, por causa dos hormônios e da incapacidade do corpo de produzir insulina extra para atender às necessidades do feto.

Apesar de ser comum ginecologistas pedirem exames para detectar o problema a partir da 24ª semana, é importante que as futuras mães também fiquem atentas à própria saúde e colaborem para obter um diagnóstico precoce.

Tipos

Além do gestacional, existem outros dois tipos da doença. O tipo 1 é uma condição autoimune, quando pouca insulina é liberada para o corpo e a glicose fica no sangue, em vez de ser usada como energia. Esse tipo se concentra entre 5% e 10% do total de pessoas com a doença.

Para identificar, Livia Faccine explica que os sintomas podem ser excesso de sede, perda de peso repentina e acelerada, fome exagerada, cansaço, vontade de urinar com frequência, problemas na cicatrização, visão embaçada e, em alguns casos, vômitos e dores estomacais.

Já o tipo 2 é quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz, ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de açúcar no sangue . Esse tipo é causado principalmente pela obesidade. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm essa forma da doença. A maioria dos casos não apresenta sintomas, exceto quando a glicemia está muito elevada, aí pode-se apresentar os mesmos sintomas do diabetes tipo 1.

“Para que o diabetes tipo 2 se desenvolva, são necessárias várias alterações no organismo que levam a uma resistência da ação da insulina, hormônio que coloca a insulina para dentro da célula, também como uma deficiência relativa da mesma, levando a um aumento do açúcar. Este tipo de diabetes tem relação com a genética: para um parente de primeiro grau (pais ou irmãos) com a doença, existe uma chance de 30%; para dois parentes, 50% de chance de desenvolver a doença”, explicou o endocrinologista do Hospital Sírio Libanês Renato Zilli.

Segundo Márcio Krakauer, cerca de 70% das pessoas podem prevenir o tipo 2 da doença. “A prevenção é por mudança de estilo de vida, foco na perda de peso, na atividade física e na boa alimentação para que se possa reduzir o risco”, explicou.

Leia também:11 sinais de que você pode estar com diabetes

Risco de amputação

Dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF) apontam que cerca de 1 milhão de diabéticos brasileiros  desenvolverão úlceras e 200 mil precisarão passar por amputações, das quais cerca de 40 mil levam o indivíduo a óbito.  

Parte desses pacientes, cerca de 10%, podem sofrer amputação de membros inferiores, causados pelo pé diabético - infecção, ulceração ou qualquer tipo de destruição dos tecidos dos pés.

“Esses números são muito preocupantes. Infelizmente, ao não controlar adequadamente a glicemia e o uso correto de medicamentos, criam-se condições para o aparecimento de complicações que afetarão sensivelmente a qualidade de vida do paciente e da sua família”, destaca o presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD), Fadlo Fraige Filho.

Entre as complicações microvasculares da doença estão os danos nos nervos – que podem levar à diminuição da sensação de dor e agravar feridas existentes nos pés – nos rins e nos olhos – que podem evoluir para insuficiência renal e cegueira, respectivamente.

Segundo o Ministério da Saúde, entre 40% e 70% de todas as amputações das extremidades inferiores estão relacionadas ao diabetes, sendo que 85% delas são precedidas de uma ulceração nos pés. “Se essas lesões fossem evitadas ou tratadas adequadamente na fase inicial seria possível impedir a perda do membro, por isso é tão importante a prevenção e o controle do diabetes”, complementa o presidente da ANAD.

Cuidando da saúde

Para quem já tem o diagnóstico da doença, o tratamento é feito a partir de medicações de uso oral e opções injetáveis, como a insulina . Há vários tipos de insulina no mercado, algumas de ação rápida, outras de ação lenta, e a combinação delas são necessárias em alguns casos.

undefined
shutterstock/Reprodução

Hábitos de vida saudáveis, como prática de exercícios e alimentação equilibrada, colaboram para evitar o diabetes tipo 2

Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes, o país tem disponível o que há de mais moderno no mundo para o tratamento. “Mas estamos muito aquém nos medicamentos e insumos incorporados pelo SUS [Sistema Único de Saúde], estamos quase 20 anos atrasados”, disse, lamentando a dificuldade para a incorporação de medicamentos na rede pública.

“Nos consultórios privados, fazemos uma medicina completamente diferente do que o SUS oferece. A incorporação é muito mais complicada do que a presença da medicação no Brasil”, completa.

Além disso, os pacientes devem fazer uma dieta com carboidratos complexos (farinha integral e sem açúcar), perder peso quando for o caso e realizar atividades físicas, tanto aeróbicas quanto anaeróbicas.

“Para melhorar a frequência e a qualidade física na prática diária, sempre recomendo uma atividade que seja prazerosa e adaptada à rotina diária, ou seja, mude o meio ambiente para mudar o comportamento. Outra maneira de estimular a atividade física é convidar amigos ou familiares e traçar metas realistas de desempenho pessoal, como correr uma prova de 10km, por exemplo”, incentiva Zilli.

Evitar hábitos que prejudicam a saúde, como ingestão de álcool e tabagismo pode colaborar para prevenir ou retardar a doença tipo 2, e evitar complicações como cegueira, insuficiência renal, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e amputação de membros inferiores, uma das principais consequências do diabetes.

Leia também: Diabetes e fim de ano: como passar pelas festas sem complicações

*Com informações da Agência Brasil

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!