Depois da confirmação de mais quatro mortes no Estado de São Paulo nos últimos dias em decorrência da febre amarela, o governo de São Paulo anunciou o Dia D de Vacinação contra a doença no dia 3 de fevereiro. A campanha inédita no estado vai se estender até o dia 24 com a aplicação de doses fracionadas da vacina em 53 municípios prioritários.
A expectativa é vacinar 6,3 milhões de pessoas nas áreas que já foram definidas por integrarem corredores ecológicos. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, esses municípios ainda não foram alcançados pelo vírus da febre amarela , mas o objetivo é proteger preventivamente a população.
Ação
No sábado, dia 3 de fevereiro, será o dia principal e os postos de saúde estarão abertos em regime especial para atender a população. Em 40 municípios, a vacina será ofertada para toda a população devido à alta concentração de mata. Outras 13 cidades terão vacinação parcial para bairros com maior vulnerabilidade.
“A expectativa é de que, com o fracionamento [da vacina], sejam vacinadas cerca de 4,5 milhões de pessoas e, com dose plena, porque para alguns segmentos será mantida, mais 1,5 milhão de pessoas”, explicou Rejane de Paula, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo. A dose fracionada foi definida por diretriz do Ministério da Saúde, e tem eficácia comprovada por oito anos.
“Não há diferença de eficácia entre a vacina fracionada e a integral. O que nós estamos discutindo é o tempo que ela perdura protegendo em nível de anticorpos suficientes por número de anos. Hoje a Organização Mundial de Saúde entende que a vacina integral dá uma proteção definitiva, basta ter tomado uma dose e está definitivamente protegido”, explicou o secretário estadual de Saúde, David Uip, que é médico infectologista.
Quem já foi vacinado, portanto, mesmo que há muito tempo, não precisa do reforço da vacina. A modalidade fracionada somente será aplicada a partir de agora diante do aumento dos casos. Ela terá um selo especial nas carteiras de vacinação.
Nos termos da campanha de imunização, a dose integral da vacina continuará a ser aplicada nos seguintes casos: crianças com idade entre nove meses e 2 anos, pessoas que viajarão para países com exigência da vacina, grávidas residentes em áreas de risco, transplantados e pessoas com doenças crônicas, como diabéticos, cardiopatas e renais crônicos.
O órgão destaca que apesar das notícias preocupantes sobre o aumento de casos, as notificações são todas do tipo silvestre da doença, transmitidas pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem nas matas. O tipo urbano, que não acontece de 1942, é transmitido quando o Aedes aegypti pica uma pessoa doente e depois outra pessoa suscetível, transmitindo a doença.
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Situação atual
Por enquanto, o estado confirma 29 casos da infecção desde janeiro de 2017, sendo que 13 deles evoluíram para óbito. David Uip explica que a divulgação dos números da doença no estado será feita sempre às sextas-feiras e que o órgão informará apenas casos confirmados.
“São quatro parâmetros, sendo que dois são ambulatoriais. Nós usamos o dado epidemiológico, o diagnóstico clínico e dois exames fundamentais, o PCR e os exames imuno-histoquímico em tecidos. Ninguém fala em nome do estado a não ser nós”, disse ele ao se referir a dados desencontrados apresentados por municípios ou por laboratórios. Ele informou que o prazo máximo para confirmação é de dez dias.
Uip explicou ainda que não se pode falar em surto em São Paulo. “Existe definição para cada um dos termos: surto, pandemia, epidemia. O que temos no estado é o aumento do número de casos”, disse o secretário ao destacar que, apesar da menor gravidade, o governo está tomando medidas preventivas para impedir mais transmissões. “Estamos alertando, não estamos alarmando. O estado tem a situação em absoluto controle. Não vai haver epidemia, pandemia, mas, infelizmente, vamos ter mais casos”, disse.
Os municípios que registraram infecção com morte são Américo Brasiliense, Amparo, Batatais, Monte Alegre do Sul, Santa Lúcia, São João da Boa Vista, Itatiba, Mairiporã e Nazaré Paulista. Os demais casos foram registrados em Águas da Prata, Campinas, Santa Cruz do Rio Pardo, Tuiti, Mococa, Jundiaí e Mairiporã. Em relação a mortes e adoecimento de primatas como macacos e bugios, foram 2.491 casos desde julho de 2016, sendo que a febre amarela foi confirmada em 617 animais. Mais 60% desses registros ocorreram na região de Campinas.
Parques
Três parques estaduais da região metropolitana de São Paulo que haviam sido fechados em outubro do ano passado por conta do risco de transmissão da infecção para humanos foram reabertos hoje . À época, foram encontrados na região macacos mortos infectados pela doença.
De acordo com a secretaria, a reabertura foi possível após a realização de inventário dos parques e vacinação da população do entorno. A orientação agora é que somente visitem essas áreas pessoas vacinadas há mais de dez dias. Foram afixadas faixas com esta informação na entrada do Horto Florestal, do Parque da Cantareira e do Parque Ecológico do Tietê, todos na zona norte da capital.
'Não há risco de desabastecimento'
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse nesta quarta-feira (10) que não há risco de desabastecimento da vacina contra a febre amarela no país.
Na terça-feira (9), a pasta anunciou que vai usar doses fracionadas em municípios selecionados dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia , em uma tentativa de conter o surto identificado na região.
“Não há risco de desabastecimento. Temos vacinas em quantidade. Tínhamos 20 milhões de seringas para fracionamento que compramos no ano passado e não precisamos usar. Vamos fazer uso este ano. Vamos utilizar 15 milhões nessa operação Rio-Bahia-São Paulo. E temos ainda 5 milhões em estoque. Se houver novas áreas de circulação do vírus, estamos prontos para fazer a vacinação e evitar ao máximo a transmissão da febre amarela pelo mosquito silvestre”, afirmou Barros.
Em entrevista à Rádio Nacional , Barros lembrou que o vírus da febre amarela sempre esteve presente no Brasil e que já havia uma extensa região no país onde a imunização contra a doença é permanente. Segundo o ministro, todos os anos, o governo distribui um total de 13 milhões de doses para vacinação nessas áreas específicas.
“Temos vacinas suficientes. As pessoas devem se imunizar. Quem vai viajar para uma região de mata, para uma região de risco, tem que tomar a vacina duas semanas antes porque a vacina demora a fazer efeito”, explicou. “Não é viajar amanhã e tomar a vacina hoje. Não funciona. Tem que ter uma certa antecedência”, concluiu.
*Com informações da Agência Brasil