O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mostrou que o Brasil registrou desde janeiro até segunda-feira (8) 2.044 casos confirmados de sarampo. A pasta ainda informou que quase 8 mil casos ainda estão em investigação.
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O levantamento mostrou que foram 109 casos confirmados de sarampo a mais do que há uma semana. As confirmações aconteceram nos estados do Amazonas, Rio Grande do Sul, Rondônia e Pará.
Com a atualização, foram registrados 1.629 casos da doença no Amazonas e 330 em Roraima, estados com a situação mais crítica, devido aos surtos. Casos isolados foram identificados em São Paulo (3), no Rio de Janeiro (18), no Rio Grande do Sul (36), em Rondônia (2), em Pernambuco (4), no Pará (17), em Sergipe (4) e no Distrito Federal (1).
Os surtos, segundo a pasta, estão relacionados à importação da doença, já que o genótipo do vírus (D8) que circula no país é o mesmo que circula na Venezuela, país que enfrenta surto de sarampo desde 2017.
“O Ministério da Saúde permanece acompanhando a situação e prestando o apoio necessário aos estados. Cabe esclarecer que as medidas de bloqueio de vacinação, mesmo em casos suspeitos, estão sendo realizadas em todos os estados”, informou a pasta.
Até o momento, no Brasil, foram confirmadas dez mortes pela doença, sendo quatro em Roraima (três em estrangeiros e uma em brasileiro), quatro no Amazonas (todos brasileiros, dois de Manaus e dois do município de Autazes) e dois no Pará (indígenas venezuelanos).
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Vacinação é o caminho para diminui casos confirmados de sarampo
O sarampo não assustava os brasileiros há tempos, até que dois surtos eclodiram em território nacional no início deste ano e fizeram a vacina contra a infecção voltar a ser fortemente recomendada pelo governo. Contudo, mesmo com ações do Ministério da Saúde, dez estados e 1.180 municípios não conseguiram atingir o índice de cobertura vacinal no prazo estipulado pela pasta.
Ao todo, cerca de 516 mil crianças não tomaram ambas as doses. Na faixa etária de 1 ano, a cobertura registrada até o momento é de 88%. A falta de adesão às vacinas preocupa a presidente da SBIm, Isabella Ballalai.
“Já falamos e não nos cansaremos de repetir: o risco de o sarampo voltar a circular de forma endêmica e da pólio reaparecer é real”, alertou.
“Se enfermidades imunopreveníveis se instalarem porque não nos vacinamos, a culpa será única e exclusivamente nossa. É preciso lembrar que nós também podemos levar doenças para outros países e que devemos demonstrar solidariedade a qualquer população que enfrente situações sociais adversas”, completou, ao se referir a casos recentes de comportamento hostil contra imigrantes venezuelanos.
Dados da entidade apontam para um histórico recente de expansão de doenças imunopreveníveis no Brasil. Até 17 de setembro, 1.735 casos de sarampo foram confirmados, sendo 1.358 no Amazonas e 310 em Roraima, além de casos isolados em outros sete estados.
Autoridades sanitárias também tiveram de lidar com surtos de febre amarela no país em 2017 e este ano. Já a cidade de São Paulo enfrenta, desde o ano passado, surtos de hepatite A que já afetaram mais de mil pessoas.
O cenário, segundo Isabella, torna-se mais preocupante se considerada a facilidade de locomoção entre grandes distâncias propiciada pelo maior acesso ao transporte, principalmente aéreo.
Uma doença que levaria meses para atravessar um continente, por exemplo, atualmente consegue cumprir o mesmo trajeto em poucas horas. É o que acontece na Europa, que recebe e envia viajantes de todo o mundo e passa por surtos de sarampo há pelo menos dois anos.
“Campanhas nos moldes da atual [contra o sarampo e a poliomielite] são para lidar com situações pontuais ou emergenciais. É inviável promover iniciativas semelhantes para as 14 vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). As campanhas de multivacinação realizadas nos últimos anos tentaram abranger o calendário de forma mais ampla, mas, infelizmente, não geraram a adesão desejada”, afirmou Ballalai.
O tempo fez com que a importância da vacinação contra doenças que já foram esquecidas deixasse de ser uma prioridade para a sociedade e, infelizmente, esse comportamento reflete na queda das taxas de cobertura vacinal registradas no País nos últimos anos, tornando as chances de todas elas voltarem a assombrar os brasileiros cada vez mais reais.
“Muitas pessoas nunca viram essas doenças, portanto, não têm na memória o risco que elas representam para a saúde da população”, avalia a Coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Carla Domingues.
“O Ministério da Saúde avalia que o próprio sucesso das ações de imunização no Brasil – que tiveram como resultado a eliminação da poliomielite, do sarampo, da rubéola e síndrome da rubéola congênita – tem causado, em parte da população e até mesmo em alguns profissionais de saúde, a falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar.”
As baixas coberturas vacinais obtidas pelo País nos últimos anos indicam que há pessoas não vacinadas e, consequentemente, suscetíveis às doenças imunopreveníveis.
Dados do Ministério da Saúde mostram que os índices de cobertura vacinal caíram nos últimos sete anos.
Segundo o Sistema de Informações do PNI, a pentavalente (DTP+HIB+HB), que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e outras infecções, por exemplo, já chegou a ter cobertura de 99,6%, em 2011, porém, no último ano, ficou na casa dos 77,9%.
Diante de um cenário de baixa cobertura vacinal , Domingues alerta sobre o risco do retorno de algumas doenças que já haviam sido eliminadas como poliomielite, sarampo, rubéola e rubéola congênita, bem como o aumento do número de casos de outras doenças imunopreveníveis, como a difteria, coqueluche e a varicela.
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A volta dessas patologias, que reflete nos casos confirmados de sarampo , pode marcar um retrocesso significativo na área da saúde. “A principal ferramenta que contribuiu para o aumento da expectativa de vida do brasileiro foi a vacinação. Com queda na cobertura vacinal, além do adoecimento e morte precoce, teremos uma sobrecarga na Saúde”, pontuou Isabella Ballalai.