Uma infecção de fácil transmissão e cercada de mitos, o sarampo voltou a preocupar as autoridades brasileiras. Ainda em janeiro de 2019, já haviam sido confirmados mais de 10 mil casos em todo o país, segundo informe do Ministério da Saúde - fato que fez o Brasil perder o certificado de país livre da doença cerca de dois meses depois.
O maior afetado pela doença era o Amazonas, com 9,8 mil casos confirmados até 24 de janeiro de 2019. São Paulo, por sua vez, era um dos menos afetados, com apenas 3 casos confirmados, perdendo apenas para o Distrito Federal (1 caso) e para a Rondônia (2 casos).
Pouco mais de meio ano depois, no entanto, a situação mudou e, em 30 de julho, segundo a Secretaria Estadual de Saúde comunicou, haviam sido confirmados 633 casos de sarampo em São Paulo.
O problema é que, além da doença se espalhar em uma velocidade alarmante, não param de surgir fake news a respeito desse mal, o que faz com que o combate à epidemia se torne ainda mais complicado.
Tem gente que acha que tudo não passa de uma reação alérgica ou que a vacina é só para bebês e faz mal. E não é nada disso. Por isso, saber o que não passa de mito é uma etapa importante na prevenção e combate à doença.
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Reunimos 9 bobagens que estão sendo faladas por aí sobre o sarampo e a vacina tríplice viral
e falamos com médicos para acabar com qualquer dúvida sobre a doença. Veja os detalhes:
1. O sarampo é uma reação alérgica
Afirmar que o sarampo é causado por uma reação alérgica não poderia estar mais longe da verdade. Como lembra Nelson Douglas Eizenbaum, médico pediatra e neonatologista e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Americana de Pediatria, trata-se de “uma doença causada por um vírus, um paramixovírus, com múltiplos sintomas”.
2. O sarampo foi trazido pelos refugiados
Essa ideia, além de generalizar a situação atual da doença no Brasil, não é totalmente verdadeira. Segundo Jean Gorinchteyn, médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, o vírus tinha origem venezuelana apenas nos casos observados na região Norte.
“Análise genotípica, do material viral, confirmou que veio de lá”, observa o médico infectologista. No entanto, em outros estados, principalmente em São Paulo, o vírus veio de outras partes do mundo, como a Europa ou o Oriente Médio.
Além disso, a afirmação deixa de lado um fator nacional muito importante: as parcelas da população que não foram totalmente imunizadas (receberam apenas uma dose da vacina) ou que não receberam nenhuma dose da vacina tríplice viral se tornaram vítimas e transmissores em potencial da doença.
3. O sarampo é uma doença inofensiva
Outro mito amplamente propagado é o de que o sarampo é uma doença inofensiva. “Para aquelas pessoas que estão parcialmente vacinadas, ele pode se apresentar de uma forma mais branda”, comenta Jean.
O problema é que, a partir daí, esses indivíduos podem transmitir a enfermidade para pessoas não vacinadas. No caso delas, a doença pode ser grave, e até mesmo fatal, segundo o médico infectologista.
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Nelson, por sua vez, acrescenta que o impacto da infecção sobre a pessoa varia de caso para caso. “Algumas podem reagir pouco, outras podem reagir muito”, comenta.
Para evitar complicações, segundo o pediatra e neonatologista, é preciso controlar a febre, manter a hidratação e seguir as orientações do médico para evitar que a enfermidade se agrave e leve a sequelas piores.
4. A higiene adequada basta para evitar a infecção
Enquanto lavar as mãos com frequência e manter sua higiene nas melhores condições pode ajudar a controlar a sua transmissão, isso não é o suficiente para se safar da doença. “A única forma de evitar o contágio é vacinando-se”, reforça Nelson.
5. O sarampo pode ser transmitido pelo contato com as lesões cutâneas
Diferentemente da catapora, o sarampo não pode ser contraído ao tocar nas lesões cutâneas causadas pela doença. “A infectividade vem por tosse, espirro e gotículas de saliva”, observa Jean.
Em todo caso, o contato com pessoas infectadas ou, mais especificamente, os objetos nos quais elas encostaram não é aconselhável. Segundo Nelson, isso pode ser um potencializador de contágio, principalmente se a pessoa tiver colocado a mão no nariz ou na boca antes de encostar nas coisas.
6. A vacina tríplice viral faz mal
Não existe mito mais perigoso para doenças desse tipo do que dizer que a vacina faz mal. Jean lembra que a vacina é extremamente segura e só não pode ser tomada por crianças menores de 6 meses, pessoas com imunodeficiência ou gestantes.
7. Pessoas com até 29 anos devem ser imunizadas, mesmo que já tenham sido vacinadas anteriormente
Essa afirmação só é verdadeira para as pessoas que tiverem recebido apenas uma dose da vacina durante a vida. O que acontece, segundo Jean, no caso de São Paulo, é que indivíduos entre 15 e 29 anos foram vacinados contra o sarampo numa época em que se acreditava que uma dose era o suficiente para imunizar totalmente alguém.
Contudo, por volta de 2004, descobriu-se que uma segunda dose era necessária - e é por isso que pessoas nessa faixa etária devem tomar a vacina novamente no estado de São Paulo.
Em outros casos, como crianças que nasceram após 2004 e tomaram a vacina aos 12 e aos 15 meses, ou de pessoas de qualquer idade que já tenham contraído sarampo, a imunização não é necessária.
8. A vacina tríplice viral só é oferecida durante as campanhas
Outro mito que não resiste a uma observação da realidade. “A oferta de vacinas é feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O que acontece é que em determinadas épocas ocorrem campanhas para estimular quem não se vacinou a se vacinar”, explica Jean.
9. A dose extra da vacina tríplice viral pode ser perigosa
O último mito da lista também tem feito bastante barulho, mas não passa de um rumor. “Se a pessoa já tomou duas doses e vai tomar uma terceira na campanha, não vai acontecer nada”, garante Nelson.
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Portanto, quem não lembra se já tomou todas as doses pode ser vacinado contra o sarampo (principalmente se tiver de 15 a 29 anos) sem medo de efeitos colaterais causados por uma dose extra. Afinal, é melhor prevenir do que remediar.