Há três anos, o pequeno Davi, hoje com oito, foi diagnosticado com diabetes tipo 1. Na época, ele havia emagrecido 6 kg em uma semana, bebia muita água e urinava com frequência. “Ao ver o resultado, eu temi e tremi”, declara a mãe, Flavia Almeida De Souza, que vive em Blumenau, município em Santa Catarina.
Leia também: Qual insulina causa menos hipoglicemia em quem tem diabetes tipo 2?
Flavia conta que, após receber o diagnóstico, a situação não foi nada fácil. “Eu nem sabia que crianças poderiam ter diabetes . Após o choque inicial, veio o medo de não dar conta. As medicações, as várias injeções para aplicarmos insulina e o medo das hipoglicemias graves que ele poderia ter nas madrugadas”, diz.
Ao ter o filho diagnosticado com a doença que não tem cura, a vida da mãe mudou. “Eu não dormia. Ficava noites acordadas com medo de algo acontecer. Nem eu sei como aguentei tanto tempo assim, mas o Davi precisava ser cuidado. Nossa luta é evitar a hipoglicemia severa, que pode causar acidentes, lesões e até levar à morte”, ressalta.
A preocupação de Flavia não é exclusiva. Uma pesquisa realizada pela Novo Nordisk, empresa de saúde global, mostra que os familiares também são impactados pela doença. O estudo TALK-HYPO indica que 65% dos entrevistados ficam preocupados e ansiosos que algum ente querido sofra uma crise de hipoglicemia, que é a queda do nível de açúcar no sangue.
O levantamento inédito foi apresentado durante o 55th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes 2019 em Barcelona, na Espanha, que contou com a participação do iG . Para chegar ao resultado, foram consultadas 4.300 famílias de pacientes que possuem diabetes tipo 1 ou 2 há pelo menos um ano em nove países.
Leia também: Nova insulina ultrarrápida traz benefícios para pessoas com diabetes tipo 2
As pessoas com a doença, geralmente quando tratadas com insulina, podem apresentar crises de hipoglicemia como um efeito colateral durante o tratamento. Há diversos sintomas que ajudam a identificá-las, como calafrios, confusão, dificuldade de concentração e fala, tremores e aumento do ritmo cardíaco.
Os sinais vêm à tona quando a glicemia cai além de 70 mg/dL. Nesse momento, o corpo não consegue fornecer energia suficiente para que os órgãos funcionem corretamente. Nos casos mais graves, o paciente ainda chega a apresentar convulsões e pode até mesmo entrar em coma.
Importância das conversas com familiares
O estudo, por sua vez, indica que é importante ter conversas francas entre todos os familiares para que possam dar apoio às pessoas com diabetes. Os diálogos com os médicos também não necessários. Para 76% dos entrevistados, conversar mais a respeito do tema pode ajudar a melhorar de forma efetiva a qualidade de vida do familiar que possui diabetes.
Você viu?
Enquanto isso, 86% acreditam que essas conversas são capazes de ajudar os familiares a entenderem melhor como auxiliar o paciente no controle da glicose. “Esse estudo sugere que a família pode ser um importante catalisador para que esse assunto venha à tona tanto em casa quanto no consultório”, aponta Marília Fonseca, gerente médica da Novo Nordisk.
Segundo a Dra. Denise Franco, endocrinologista formada pela Unifesp e educadora em diabetes pela International Diabetes Federation (IDF), não se fala muito sobre hipoglicemia porque os pacientes têm vergonha. “É importante conversar com aquele que cuida de quem tem diabetes para que dê conforto e eles se sintam seguros”, afirma.
A endocrinologista explica que, entre os casos que atende, há mães que não dormem mais à noite por medo da hipoglicemia na criança em questão. E, como vimos na reportagem, esse é o caso de Flavia, que cuida do filho em tempo integral. “Quando fico noites e noites acordadas, é por amor ao Davi”, ressalta a mãe.
“Após o dia e sua rotina normal, ele vai deitar e espero ele dormir. Fico esperando uma hora para ver como a glicemia dele irá reagir, aí eu durmo ou não, depende se ela estiver estável. Acordo, sim, nas madrugadas para medir ele. A médica já disse milhões de vezes que não precisa, mas meu coração de mãe precisa ficar tranquilo”, continua Flavia.
Atualmente, ela explica que a ritual de sono está melhor quando comparada ao início do tratamento. “Brincamos, estudamos, nos divertimos, lemos muitos livros, assistimos filme, desenho etc. É uma vida normal fora todo cuidado que precisamos ter em nossa rotina com o diabetes”, aponta.
Impacto da hipoglicemia
O estudo ainda mostra que 77% dos entrevistados expressaram seu compromisso em ajudar a gerenciar a hipoglicemia dos pacientes. 60% concordam que é sua responsabilidade ter essa atitude. Além disso, 71% afirmam oferecer suporte emocional e 66% pensaram no risco de hipoglicemia do familiar pelo menos uma vez ao mês.
Do total de entrevistados, 91% tiveram conversas sobre hipo com a pessoa com diabetes e, entre eles, 45% iniciaram a conversa. O público que participou da pesquisa considera que as conversas específicas sobre o tema permitiram entender melhor como podem ajudar a gerenciar essa complicação.
Como conclusão, o TALK-HYPO mostra que conversas com familiares e profissionais de saúde podem ajudar a reduzir o risco de hipoglicemia nos pacientes. Os dados ainda fornecem novas evidências do quão importante é envolver os membros da família no gerenciamento do diabetes.
Leia também: Problemas de coração estão mais perto do diabetes do que você pode imaginar
No caso de Flavia, ela diz que conversa muito com o filho sobre todo o tratamento. “E, da forma dele, ele me avisa caso tenha sintomas de hipoglicemia, o que desde do início do diagnóstico [do diabetes ] ele relata como uma ‘agonia’. Ele mesmo já sabe e conversa sobre os sintomas, tanto de hiper como de hipo”, finaliza.
* Repórter viajou a convite da Novo Nordisk