Dados da International Diabetes Federation apontam que, em todo o mundo, 425 milhões de pessoas vivem com diabetes . No Brasil, o número é de 12,5 milhões. No caso do diabetes tipo 1, que afeta principalmente crianças e adolescentes, o País ocupa o 3º lugar com maior número de casos, o que corresponde a mais de um milhão de brasileiros.
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“O diabetes tipo 1 é uma doença auto-imune, que ocorre por destruição das células produtoras de insulina no pâncreas. É mais frequentemente diagnosticado em crianças e adolescentes, mas também pode acometer adultos jovens”, explica Marília Fonseca, endocrinologista e gerente médica da Novo Nordisk.
A profissional destaca que as razões pelas quais uma criança desenvolve diabetes tipo 1 não são totalmente compreendidas. Sabe-se, por sua vez, que existem fatores genéticos e ambientais que podem desencadear uma resposta imunológica, principalmente associadas a quadros infecciosos, levando à instalação abrupta da doença.
Sintomas do diabetes tipo 1
Por conta de todos esses fatores que envolvem a patologia, é importante que os pais e responsáveis aprendam a reconhecer os primeiros sintomas nos filhos. Marília pontua que, diferentemente do diabetes tipo 2, que pode ser assintomático em alguns casos, o quadro do tipo 1 se instala de forma rápida, abrupta e traz diversos sinais.
O primeiro indicativo é a poliúria, que significa o aumento do volume urinário e da excreção de glicose pela urina, que aumenta, proporcionalmente, a perda hídrica, segundo Ana Carolina Calmon da Costa Silva, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Outro alerta importante é o aumento da sede. Junto com ele, surge a polifagia, que é o aumento da fome. “Devido a diminuição ou a ausência de insulina, a glicose não entra nas células e não gera energia”, destaca Ana Carolina, que ainda ressalta que pode ocorrer perda de peso, uma vez que o organismo usa o tecido gorduroso como fonte de energia.
Desidratação devido aumento do volume urinário, cansaço, fraqueza e falta de energia são outros sinais da doença. “Os níveis de glicose ficam muito altos no sangue, mas pela falta da insulina, a glicose não consegue entrar nas células do nosso corpo, que acabam tendo que ‘trabalhar’ utilizando outras fontes de energia”, explica Marília.
Ela ainda pontua que uma série de hormônios com ação contrária à insulina é liberada, o que pode levar a um quadro bastante grave de cetoacidose diabética (quando os níveis de glicose no sangue estão muito altos). Isso indica que, além dos sintomas já mencionados, a criança pode ter náuseas, vômitos, dor abdominal, hálito ruim e respiração ofegante, com risco de morte.
O que fazer após identificar os sintomas?
Ao desconfiar de que a criança está com algum dos sintomas descritos, é fundamental procurar auxílio médico para investigar a possibilidade da doença. Exames laboratoriais, como a dosagem da glicose, hemoglobina glicada e outros exames no sangue, são fundamentais para chegar ao diagnóstico.
“No caso de suspeita de quadro mais grave de cetoacidose diabética, é necessário procurar um pronto-atendimento o mais rápido possível. Trata-se de uma condição de urgência, com necessidade de hidratação e reposição de insulina para que a criança se recupere rapidamente”, destaca Marília.
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Se os resultados forem positivos, os pais e responsáveis podem ficar nervosos e apreensivos. “É muito importante que eles entendam o que é, mas, acima de tudo, compreendam seu papel no tratamento e manejo da doença dos seus filhos, pois trata-se de um diagnóstico para toda a vida e que requer uma rede de apoio familiar”, orienta a médica da Novo Nordisk.
A profissional explica que o nervosismo faz parte, mas indica que eles se mantenham tranquilos, transmitam segurança para as crianças, ofereçam apoio, suporte e dêem coragem. “Não desanimem. É possível tratar o diabetes tipo 1 . O fundamental é integrar o tratamento e o monitoramento como parte da rotina diária dos seus filhos”, ressalta.
A doença não tem cura, mas é possível viver bem ao ter todos os cuidados necessários. “O diabetes não vai impedir seu filho de crescer, ter amigos, ir para a escola, trabalhar, casar, ter sucesso e ser feliz. Mas, para isso é preciso encarar de frente, com responsabilidade, porque a bagagem é um pouco mais pesada”, orienta Marília.
Importância do tratamento
A insulina é um hormônio fundamental e que permite com que a glicose ingerida pela dieta saia da corrente sanguínea e entre na célula para ser usada como fonte de energia. Nos pacientes com diabetes tipo 1, por conta da destruição das células produtoras de insulina, a criança não tem mais quase nenhuma produção do hormônio pelo próprio corpo e precisa fazer a reposição.
Esse processo ocorre através da aplicação de múltiplas doses de insulina no paciente. O objetivo é imitar o que acontece no pâncreas de uma pessoa saudável ao longo do dia. A reposição acontece ao longo de toda a vida. “É o principal tratamento para o controle glicêmico, associado à dieta adequada e à atividade física”, detalha Ana Carolina.
Atualmente, o portador de diabetes tipo 1 conta com diversas opções de insulinas à disposição, cada uma com sua indicação. Elas podem ser aplicadas através de seringas, canetas ou bomba. O médico que acompanha o paciente irá avaliá-lo de forma particular e indicar o melhor tratamento para ele.
Seguir as ordens médicas é fundamental. Isso porque o tratamento inadequado pode causar complicações agudas. “Como hipoglicemia (quando os níveis de açúcar no sangue estão muito baixos) e hiperglicemia (quando os níveis de açúcar no sangue estão muito altos), além de complicações crônicas (de longo prazo), como problemas nos rins, olhos, pés e vasos”, pontua Marília.
Educar a criança é fundamental para evitar riscos à saúde
O período de aceitação da doença pode levar um certo tempo tanto para o paciente quanto para os pais. De acordo com Ana Carolina, a criança deve entender a importância de seguir o tratamento e o benefício que este pode lhe proporcionar. “O apoio da família é fundamental nesse momento”, reforça.
Marília pontua que, após o diagnóstico , há diversos pontos que precisam ser esclarecidos, de maneira geral, sobre educação em diabetes. “Envolve explicar tudo o que vai mudar no dia seguinte, como funciona a insulina, como aplicar, armazenar, monitorar, horários, o que pode, o que não pode, hipoglicemia, exercício etc”, destaca.
No caso da criança, o melhor jeito de informá-la vai depender da idade. “Na minha opinião, devemos tentar de forma lúdica envolvê-la no seu diagnóstico desde o começo, com transparência. O mais importante é que ela compreenda que, a partir do diagnóstico, algumas coisas na sua rotina vão mudar”, ressalta.
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Diante desses fatores, é necessário que o paciente entenda que alguns aspectos da alimentação vão sofrer alterações e, que além disso, vai ser preciso fazer monitoramento da glicose e aplicar insulina. “Os profissionais de saúde, médicos, nutricionistas, enfermeiras, educadores em diabetes e até mesmo psicólogos podem auxiliar neste momento”, finaliza Marília.