O administrador de empresas Haroldo Vieira, da cidade de Belo Horizonte, descobriu ter saído ileso do consumo de quatro garrafas de cervejas contaminadas pelo dietilenoglicol, substância tóxica que causou quatro mortes por intoxicação em Minas Gerais. “Na Vigilância Sanitária, disseram que o álcool que bebi antes pode ter me salvado”, fala Haroldo. 

Haroldo consumiu a cerveja durante festa de Ano Novo com a família
Arquivo pessoal
Haroldo consumiu a cerveja durante festa de Ano Novo com a família

“Gosto muito de cerveja  e comprei uma embalagem inteira para o Ano Novo. Como a tradição pede vinho e espumante, minha família não me acompanhou, bebi sozinho”, recorda ele, reforçando que a festa correu como o esperado, sem susto ou sintomas.

Na época, como ainda não havia notícias de intoxicação ou relação de problemas com a cerveja Belorizontina, da cervejaria Becker, Haroldo conta que deixou mais três garrafas no freezer para consumir depois. “Hoje penso no susto que seria se alguém tivesse tomado antes de mim”, diz. 

Após as festas de fim de ano, ele embarcou para breve viagem de férias e, apenas após o retorno, soube que todos os consumidores deveriam levar as cervejas da marca Belorizontina à Vigilância Sanitária . “Levei as que sobraram só por levar pois, como já tinha bebido, sabia que não havia nada errado”, conta. 

A surpresa e preocupação vieram quando o administrador descobriu que as garrafas deveriam ser recolhidas por contaminação. “Conferi a numeração do lote e, depois, expliquei não ter sentido nenhum sintoma. Perguntaram se eu tinha comido ou bebido alguma coisa antes das cervejas”

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Aos 75 anos, ele diz que chegou a consumir duas doses de uísque antes da Belorizontina , ouviu que esse detalhe pode tê-lo salvo da intoxicação. “Me explicaram que o álcool podia quebrar o efeito da substância e acho que isso aconteceu comigo. Fiquei impressionado com a sorte, pois nem tenho hábito de beber uísque”, diz. 

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Álcool como antídoto

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Arquivo pessoal

Termo de interdição das garrafas de cerveja

De acordo com a Vigilância Sanitária de Minas Gerais, “O etanol é utilizado como antídoto para tratamento da intoxicação por dietilenoglicol e sua administração deve ser realizada em ambiente hospitalar a partir da avaliação de critérios clínicos.”

Apesar disso, “não há evidências para afirmar que a ingestão de etanol associado a outras substâncias em bebidas alcoólicas apresente efeito protetor ao dietilenoglicol ” por isso, pode ser perigoso trabalhar com essa conclusão. 

O médico infectologista Estevão Urbano ainda reforça que “embora exista, sim, uma reação entre o álcool e o dietilenoglicol, ainda não sabemos quantificar o efeito dessa contraposição. Enquanto algumas pessoas podem ter se protegido até com o próprio álcool presente na bebida, outras sofreram danos sérios”. 

Risco de sequelas

Devido à falta de sintomas de qualquer natureza após a ingestão, Haroldo confessa ainda não ter procurado um médico sobre o assunto. “Mas pretendo fazer um exame de sangue em breve, só para saber se está tudo bem”, tranquiliza. 

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Em geral, os sintomas de intoxicação por dietilenoglicol acontecem de forma precoce, em até 72 horas após a ingestão da cerveja . Náuseas, vômitos, desconforto abdominal, alterações na visão e comprometimento da função renal estão entre os sintomas.  

Também é importante atentar que, devido ao fato de as últimas intoxicações do dietilenoglicol terem acontecido há cerca de 40 anos, existem poucas pesquisas sobre o assunto, inclusive sobre as possíveis sequelas do consumo humano. 


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