criança
Pixabay/soumen82hazra
Realidade das crianças hospitalizadas pela doença pode ser subnotificada no Brasil

RIO - A Covid-19 afeta sobretudo adultos com alguma doença preexistente e os idosos são a parcela da população em maior risco. Aos 6 anos de idade e até há poucos dias saudável, o menino Noah ignora tudo isso. Internado na UTI pediátrica de Covid-19 do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Uerj, ele sequer sabe que contraiu o coronavírus. Quer apenas voltar para casa e torcer pelo Flamengo.

Noah faz parte de um grupo pouco lembrado, o das crianças com formas graves de Covid-19, uma doença que nelas é ainda menos compreendida.

Leia mais:

De acordo com a OMS, “a infecção por Covid-19 foi registrada em todas as faixas etárias. Ainda assim, estudos indicam que crianças representam apenas cerca de 2% do total de casos em todo o mundo". No Brasil, não é possível chegar a um número preciso, uma vez que Ministério da Saúde , estado do Rio e município não informam mais a idade dos pacientes e mortos pela doença.

As crianças com Covid severa mergulham na realidade mais dura do coronavírus. Se veem doentes, arrancadas do mundo e cercadas por equipamentos, médicos e enfermeiras em trajes de proteção. Nada ali remete à infância, a despeito dos esforços da equipe de saúde para explicar o inexplicável a pacientes que mal começaram a vida e enfrentam a pior pandemia em um século.

— Crianças não são imunes à Covid-19. Os casos na infância são menos numerosos, mas podem ser extremamente graves e precisamos estar atentos. Em especial agora, quando entramos no período do ano de maior incidência de doenças respiratórias, uma combinação perigosa — alerta Raquel Zeitel, chefe da UTI pediátrica do Pedro Ernesto.

Perigo subestimado

Saudável até há poucos dias e sem doenças preexistentes, Noah foi operado às pressas de uma apendicite em 2 de junho, no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, após sentir fortes dores abdominais.

Ele não apresenta qualquer um dos sintomas mais frequentes da Covid-19, como falta de ar e tosse. Mas os exames de tomografia feitos para a cirurgia do apêndice revelaram que os pulmões do menino estão comprometidos e apresentam o chamado padrão de vidro fosco, característico da Covid-19, que confere à imagem um aspecto embaçado. Um teste de anticorpos confirmou que ele está com o coronavírus.

Como seu quadro continuou grave após a cirurgia, o menino foi transferido para o Pedro Ernesto, que dispõe de uma das poucas UTIs pediátricas de Covid-19 do estado.

— A história de Noah é como a de outras crianças com Covid-19, surpreendente. É um erro muito grave subestimar o vírus . Me preocupo muito quando se fala em reabrir as escolas. Ainda não é o momento — adverte a doutora Raquel.

Com dores fortes, apesar dos anestésicos, Noah não perdia o sorriso e ouvia com atenção o que lhe diziam os médicos em seu primeiro dia de internação. Reclamava apenas de uma injeção mais dolorosa.

— Ele se assustou com os equipamentos. Não contei que estava com Covid-19 para que não ficasse mais nervoso — diz a mãe de Noah, Thamires Soares, de 25 anos.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!