"A única coisa que eu posso dizer é que você faça o tratamento e desejo sorte." De acordo com o técnico de manutenção Magno Gomes, de 40 anos, essas foram as palavras do médico que o atendeu quando procurou, pela segunda vez, uma unidade de saúde para tratar a Covid-19 . Magno - que é hipertenso e possuía indicativo de sintomas graves, foi considerado "jovem demais" para tratar a doença no hospital - critica o tratamento que recebeu dos profissionais de saúde.
"Eu me prevenia, usava máscara conforme a mídia manda . Tomei todos os cuidados, mas sequer percebi quando fui infectado. Você só chega a conclusão de que pegou [Covid-19] quando se vê de cama. É muito rápido", recorda o técnico de manutenção. Ele conta que, ao perceber os primeiros sintomas da doença, buscou tratamento no Pronto-socorro central de Barueri. "A médica que me atendeu falou que, possivelmente, os sintomas que eu estava sentindo seriam coronavírus, mas não fizeram nenhum teste", diz.
A consulta ocorreu no dia 7 de junho, uma semana antes do anúncio oficial feito pela secretaria de saúde de São Paulo sobre a recomendação de testes em pacientes com sintomas leves. Após receber orientações de isolamento e repouso absoluto, além da receita de antibiótico e antialérgico para tratar os sintomas, Magno voltou para casa. Três dias depois, porém, o paciente voltou a buscar a unidade com novos sintomas: falta de ar e efeitos colaterais causados pela medicação indicada. "A doença começou a evoluir e eu precisei voltar ao hospital", diz.
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“Na segunda vez que o fui no Pronto-socorro Central de Barueri eu fui atendido pela mesma médica que tinha me consultado anteriormente. Por causa do meu quadro ela me encaminhou para um outro médico. Esse médico mediu a minha saturação e disse que eu tinha uma leve alteração nos pulmões ", conta Magno, que realizou o teste para a doença apenas na segunda visita ao hospital. "Apesar disso, o médico disse que eu era forte e muito novo para ser internado, mesmo depois de eu ter avisado para ele que sou hipertenso, o que me coloca dentro do grupo de risco."
De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde para o tratamento de Covid-19, os pacientes que apresentam sintomas graves “deverão ser direcionados para serviços de saúde adequados para internação”. O julgamento sobre a gravidade dos sintomas de cada paciente, porém, são responsabilidade do profissional de saúde encarregado pelo atendimento.
Apesar da preocupação com a própria saúde, o técnico de manutenção reforça que contava, para além da atenção básica, com um tratamento humanizado por parte do profissional da linha de frente o que, segundo ele, não ocorreu. "O que mais me surpreendeu foi a maneira que o médico se comportou", diz. "Ele ainda me disse ‘Essa doença não tem cura, não tem vacina. A única coisa que eu posso dizer a você é que você faça o tratamento e se você escapar dessa, boa sorte'. Na hora eu fiquei chocado", relata.
Por meio da assessoria de comunicação, a secretaria municipal de saúde de Barueri confrimou a ocorrência do atendimento na data e locais apontados pelo paciente, mas reforçou que “o protocolo seguido na unidade de saúde obedece as indicações do Ministério da Saúde, que indica que sintomas iniciais leves devem ser medicados e tratados em casa”.
Ainda segundo a nota, Barueri dispõe de 48 leitos de UTI
e 127 leitos intermediários para Covid-19. No boletim do dia 17 de junho a Unidade de Terapia Intensiva contava com 41 leitos ocupados e os intermediários com 100 leitos ocupados.
Paciente também critica aglomeração em unidade de saúde
Além do tratamento considerado inadequado, Magno ainda registrou preocupação com a forma como os pacientes são alocados na sala de espera das unidades de saúde. “Além de o tempo para atendimento ser longo, se você estiver com um quadro de evolução de Covid-19 e dentro do saguão, vai contaminar quem não tem a doença”, diz.
“Ninguém se importou em me tirar dali, me isolar em algum lugar”, reclama o homem, que conta ter esperado mais de uma hora e meia entre o momento da triagem e o atendimento com o médico. Durante esse tempo, Magno diz ter permanecido ao lado de pessoas sem sintomas da doença. “Encontrei uma pessoa com dengue, outra com pressão alta. Todo mundo estava perto de mim”, relata.