sabiá
Fabio Motta/Agência O Globo
Com apenas 5 casos registrados em 30 anos, ainda não é certo se o vírus sabiá pode ser transmitido por humanos

O Brasil presenciou o nascimento de novas pandemias, como Sars, Mers e Ebola, com certo distanciamento nos últimos 40 anos. Elas são originárias de China, Arábia Saudita e Congo, mas não conseguiram cruzar o Atlântico como a Covid-19 . O que poucos sabem é que um vírus tupiniquim surgiu em Cotia, área nobre de Sâo Paulo, e preocupou as autoridades brasileiras nos anos 90. Conhecido como sabiá, ela é causador de uma febre hemorrágica letal. 

Em 2020, a doença voltou a preocupar especialistas após o falecimento de um homem na região de Sorocaba (SP). Confira a trajetória do vírus brasileiro que intrigou os especialistas.

O vírus brasileiro

Registros da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical apontam que uma mulher de 25 anos manifestou sintomas de febre amarela, porém com níveis hemorrágicos anormais, em meados de 1990. Ela teria contraído a doença no Jardim Sabiá, bairro de Cotia que acabou batizando o  arenavírus .

Segundo o blog do Dr. Drauzio Varella, além da moça que veio a falecer, outras três pessoas se contaminaram com o vírus brasileiro proveniente do excremento de roedores silvestres: dois funcionários de um laboratório que fazia pesquisas sobre a doença e um trabalhador rural do interior de São Paulo, em meados de 1999.

"Após a primeira morte, o vírus foi extraído e enviado para o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), onde dois funcionários se contaminaram", explica o microbiólogo Dr. Atila Iamarino, no podcast Xadrez Verbal. "Decidiram parar de mexer com este vírus aqui no Brasil, e ele foi enviado para o laboratório de virologia da Universidade de Yale".

Apesar da sequência de casos, não há registros de que o vírus sabiá tenha linhas de contaminação entre seres humanos. Todas as vítimas contraíram a doença a partir de contato direto com excremento de roedores ou vazamento de laboratório.

As características do arenavírus

Arenavírus
C. S. Goldsmith
Arenavírus atacando células em imagem de microscópio

Os vírus da família Arenaviridae podem ser encontrados em todas as partes do mundo, mas são mais frequentes na África, Caribe e na América do Sul. Um arenavírus chamado Machupo preocupou as autoridades bolivianas em 2019, após causar febre hemorrágica em pacientes que tiveram contato com urina de roedores. Este pode ser transmitido entre seres humanos. Antes disso, em 1997, um arenavírus chamado Allpahuayo foi catalogado no Peru.

Os arenavírus são parecidos com o novo coronavírus, porém, têm o formato oval. Eles são cobertos por uma membrana lipídica que facilita sua entrada em células humanas, bem como o Sars-CoV-2 e seus “spikes” - a camada externa que protege o vírus como “espinhos” e faz a conexão com as células humanas para infectá-las. 

Apesar da maioria dos arenavírus conhecidos serem provenientes de roedores e seus excrementos, há um tipo que, assim como o novo coronavírus, é transmitido pelo morcego. Trata-se do vírus tacaribe, causador da febre hemorrágica do Caribe. Nenhum humano contaminado desenvolveu quadros graves da doença.

Caso de sabiá vírus em 2020

O arenavírus brasileiro sabiá voltou a preocupar as autoridades brasileiras em janeiro de 2020, quando um homem de 52 anos, morador de Sorocaba (SP), faleceu após o agravamento de uma febre hemorrágica

Segundo o Hospital Albert Einstein, que fez o levantamento genético do agente infeccioso, não se trata do mesmo sabiá vírus que causou a morte da mulher que se contaminou em Cotia nos anos 90. Esta é uma vertente nova, da mesma família, que compartilha 88% do material genético do vírus misterioso.

Pelos casos isolados, pouco se sabe sobre a transmissão do sabiá. Ainda não há conclusões sobre a possibilidade deste arenavírus ser transmitido entre pessoas, como o vírus causador da febre hemorrágica boliviana. Certo até o momento é que familiares, amigos e pessoas próximas ao homem que faleceu em Sorocaba não manifestaram qualquer sintoma. 

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