Quase cinco meses após o primeiro registro de contágio pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) no Brasil, boa parte das cidades, a exemplo de São Paulo, se movimentam para promover a reabertura de setores como shoppings, comércio de rua, bares, restaurantes, academias e salões de beleza — mesmo sem uma diminuição na curva epidemiológica e no número de infecções e óbitos pela doença.
De acordo com o Dr. Daniel Junger, infectologista especialista em Virologia Clínica e Doenças Infecciosas pela Fiocruz, a angústia dos meses acumulados em isolamento tem levado a uma ansiedade que gera uma sensação de já termos passado pelo pior. No entanto, segundo ele, é necessário entender que os cuidados devem ser mantidos. Se possível, redobrados.
"Esse misto de desejo inconsciente, otimismo e necessidade de reatar hábitos — tanto sociais quanto econômicos — tem levado a população, de uma forma geral, a dar menos importância às recomendações", alerta o médico.
Segundo o epidemiologista José Geraldo Leite, para reduzir os danos dessas 'saidinhas' e ter a mínima proteção necessária são necessários dois cuidados principais: utilizar sempre a máscara e dar preferência a lugares ventilados.
"Para qualquer vírus, e isso vale também para o Sars-Cov-2, ambientes fechados são muito mais transmissores. Para muitos, isso é a principal razão da maior ocorrência durante o inverno, já que as pessoas tendem a ficar em lugar fechado. Então, janela aberta e ambiente bem ventilado colaboram com a diminuição de ataque destas viroses respiratórias", explica o médico.
"Quanto às máscaras, é importante que todos estejam utilizando, só assim teremos bom impacto. No caso de passar muito tempo fora de casa, ter sempre uma máscara reserva é uma boa estratégia, pois se a máscara umedecer ela perde a função protetora", sugere o epidemiologista.
"Bolhas sociais"
Em alguns países, houve a recomendação para a estretégia chamada de bolha social, ou "bolha de contato" que, basicamente, consiste em encontrar apenas sempre as mesmas pessoas, criando uma rotina de contato exclusivo com determinado grupo. Deste modo, as pessoas que fazem parte dessa bolha não podem fazer parte de outra.
Segundo o infectologista Daniel Junger, essa estratégia pode ser uma boa forma de reduzir os riscos de contágio.
"Quanto menos contato tivermos com diferentes pessoas, menor o risco. Caso os contatos possam ser de alguma forma “controlados”, ou seja, menor diversidade e pessoas com quem possamos ter uma certa noção do seu estado de saúde e hábitos, isso pode impactar na diminuição do risco de cada um dos envolvidos na bolha", afirma.
A opinião é compartilhada também por José Geraldo. "É uma situação razoávelmente simples, mas é muito importante que todos daquele grupo estejam limitando seus contatos a esse grupo, porque se um membro não restringe, ele pode acabar trazendo o vírus. Quanto mais restringirmos, menor é a probabilidade da infecção", complementa.
Comércio, Bares, restaurantes, academias, salões de beleza, atividades físicas... saiba reduzir o risco de contágio em cada situação
Ir às compras em Shoppings ou comércio de rua?
Em São Paulo, os shoppings tiveram permissão para retomar o funcionamento no dia 1º de julho.
Os estabelecimentos podem funcionar por 6 horas diárias e 40% da capacidade reduzida.
De acordo com José Geraldo, é importante estar atento e priorizar os estabelecimentos que estão respeitando corretamente o protocolo que possibilitou a reabertura. Vale lembrar que, na capital paulista, foi criado um canal para denunciar aglomerações e pessoas sem máscaras em estabelecimentos através do número telefone 0800 771 3541.
De acordo com Daniel Junger, infectologista da Fiocruz, as recomendações nesse tipo de ambiente são as que costumamos sempre ouvir. No entanto, deve-se evitar idas "desnecessárias". "Caso tenha que frequentar esses ambientes, mantenha sempre a distância mínima de 1,5m, de preferência 2m, e higienize as mãos com frequência com álcool em gel ou água e sabão."
Bares e restaurantes
Em São Paulo, para possibilitar a reabertura destes serviços, foi elaborado um plano do governo junto à vigilância sanitária com medidas que incluem a reabertura com apenas com 40% da ocupação máxima dos estabelecimentos, funcionamento até às 17h e obrigatoriedade do uso de máscaras.
Porém, por se tratar de ambientes em que a premissa, em grande parte das vezes, é socializar, o número de situações de risco acaba sendo maior. Práticas como dividir a bebida no mesmo copo com outras pessoas, por exemplo, devem ser extintas.
Outra dificuldade nesse tipo de ambiente é continuar utilizando a máscara de forma eficaz, uma vez que é impossível beber ou comer com o equipamento posicionado da maneira correta.
"Mantenha a distância preconizada, evite aglomerações e ambientes muito cheios. Também não toque em superfícies de uso comum e nem compartilhe utensílios como copos e talheres. A higienizização, claro, deve ser frequente", recomenda o Daniel Junger. "Atenção extra para os fumantes [que têm a necessidade de abaixar ou tirar a máscara com mais frequência]. Ao sair para fumar, mesmo que esteja em local aberto, continua sendo necessário o diatânciamento de no mínimo um metro e meio. Compartilhar o cigarro, nem pensar.", recomenda Junger.
Exercício físico: Academias ou parques públicos?
De acordo com o epidemiologista José Geraldo Leite, o risco de transmissibilidade da doença é muito maior em locais pequenos, fechados e mal ventilados e, por isso, neste momento, se exercitar em praças e parques abertos é mais recomendado do que em academias.
Ainda assim, epidemiologista recomenda, se possível, o uso de máscaras, já que a transmissão do vírus também pode se dar pelo ar, segundo confirmou a Organização Mundial da Saúde.
"Em práticas de esportes coletivos, é comum que esportistas se aglomerem depois das atividades, sem máscara. Isso deve ser sempre evitado", reforça Daniel Junger.
"Além das máscaras , esteja sempre atento à higiene das mãos e dos objetos", alerta Daniel. O médico recomenda que que os equipamentos e os bancos sejam higienizados pelo usuário antes e depois da utilização. O distanciamento de pelo menos um metro e meio também é essencial.
Salões de beleza
Os salões e barbearias também fazem parte da fase 3 - amarela de reabertura do setor de serviços previsto pelo governo de São Paulo.
Um dos desafios desse estabelecimento quando ao risco de transmissão é a proximidade que exige os serviços de cabelereiro, esteticista e manicure.
De acordo com o infectologista, para reduzir os riscos de contaminação, "não há como fugir da necessidade do uso de máscara", tanto por parte dos consumidores quando dos funcionários dos salões.
Além disso, Daniel reforça que "é imprescindível que haja circulação de ar através de portas ou janelas, uma vez que ambientes climatizados com ar condicionado podem favorecer a propagação do vírus", alerta.
"Os funcionários também devem ser cuidados do ponto de vista da higienização, fazendo a limpeza regular do chão e de todos os equipamentos e bancadas com água sanitária e álcool 70", completa José Geraldo.