mãos sendo lavadas em pia
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Saiba quando a higienização excessiva das mãos pode virar um sinal preocupante


A escritora Katherine Salles, 24, tinha oito anos quando foi diagnosticada com Transtorno Obsessivo Compulsivo ( TOC ). No entanto, foi quando a  pandemia do novo coronavírus começou, que ela passou a levar a doença a sério e buscou ajuda médica.


Para consultar seu psiquiatra, Katherine precisou deixar o isolamento social e usar o transporte público. Na estação do metrô, ela teve uma crise de dissociação de realidade relacionada ao medo da contaminação. “Achei que tivesse colocado a mão nos olhos e no nariz, mas não tinha”, explica.

Quando precisa sair de casa, a escritora deixa um lembrete no celular para se certificar de que não tocou os olhos para evitar outra crise. “Na pandemia eu conheci o meu transtorno como nunca tinha conhecido”, diz.

Segundo o psiquiatra Ygor Czovny, a “nova realidade” diante do novo coronavírus pode ser um gatilho para pacientes diagnosticados com TOC, já que a sensação de medo e ansiedade pode desbloquear circuitos mentais que desencadeiam hábitos repetitivos.

Essas ações trazem ao indivíduo uma falsa percepção de alívio. “A pessoa vai criando uma rotina baseada nesse medo de que algo vai acontecer e entra nesse circuito para tentar controlar tudo, o que gera sofrimento”, explica Czovny.

Ao contrário do que a pessoa que tem o transtorno pensa, quanto mais o hábito é repetido, mais a sensação de desproteção aumenta.

TOC em tempos de pandemia

Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, a preocupação com a higienização das mãos e da casa foram redobrados. No entanto, é importante não caracterizar esses novos comportamentos como TOC .

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas 2% a 3% da população mundial é diagnosticada com o transtorno.

“Pessoas que adquiriram o hábito de se cuidar, lavar as mãos , se higienizar e usar máscara não têm TOC. Se o comportamento estiver trazendo alívio é uma medida que faz sentido”, explica o psiquiatra. Algo se torna TOC quando o comportamento é compulsivo e prejudicial no cotidiano.

O médico afirma que é preciso ter cuidado para não confundir o que é uma mania ou um hábito motivado por TOC. Ao contrário de hábitos comuns, ações motivadas pelo transtorno são capazes de trazer grandes prejuízos no dia a dia do paciente.

Gatilho do medo

Mesmo que o TOC seja caracterizado por repetições, o padrão de comportamento em si não é o que faz com que uma pessoa tenha o transtorno, mas sim os pensamentos intrusivos.

“A mente é invadida por pensamentos que disparam a ansiedade, a angústia e o medo também em cenários em que não temos controle”, diz o doutor.

Esses pensamentos podem levar os pacientes a sentirem taquicardia, sudorese, suor, insônia e sentir dificuldade em desempenhar funções no dia a dia ou manter relações. Outras consequências são a dificuldade de se relacionar, falta de foco, disfuncionalidade e perda de interesse em atividades que antes o indivíduo gostava.

Desenvolvi TOC na pandemia?

Czovny afirma que o novo coronavírus pode ser um gatilho para que alguém possa se enquadrar no grupo de pessoas com TOC. No entanto, a pandemia pode causar esse efeito em pessoas que já possuíam esses circuitos mentais em tempos normais, mas que foram acesos só agora.

O psiquiatra alerta que é importante frisar que o TOC geralmente vem acompanhado de outras esferas de transtornos mentais, como depressão , ansiedade generalizada, insônia crônica e compulsão alimentar.

A melhor maneira de entender se existe TOC ou não é buscando atendimento médico.

Tratamento

Além de terapia e, se necessário, uso de medicação controlada, Czovny explica que existem maneiras de amenizar o sofrimento causado pelo TOC.

É importante que o paciente faça atividades em que sinta bem-estar, já que isso gera sensação de segurança e se torna um ponto de equilíbrio. Mas o mais importante é falar sobre o assunto.

É uma maneira de fazer com que o próprio indivíduo compreenda a carga emocional diante da doença. “Fazer o que gera bem-estar e sensação de segurança pode ser um antídoto pro TOC .”

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