O programa internacional para garantir acesso igualitário às vacinas contra a covid-19 está com um déficit de 140 milhões de doses por causa da crise de covid-19 na Índia.
O Instituto Serum, na Índia, maior fornecedor do Covax, não entregou nenhuma das doses planejadas desde que as exportações foram suspensas em março.
O Covax é o consórcio formado para distribuir vacinas para países de renda média e baixa que não conseguiram fazer acordos para comprar um número suficiente de imunizantes. O Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância, é quem distribui as vacinas do consórcio.
O fundo está pedindo aos líderes das nações do G7 e dos Estados da União Europeia que compartilhem suas doses. Eles devem se encontrar no Reino Unido no mês que vem.
O Unicef afirma que juntos, esse grupo de países poderia doar cerca de 153 milhões de doses, ao mesmo tempo em que poderiam cumprir seus compromissos de vacinar suas próprias populações.
'Uma grande preocupação'
O Instituto Serum deveria fornecer cerca de metade dos dois bilhões de vacinas encomendadas para o Covax este ano, mas não houve remessas para março, abril ou maio. O déficit deve aumentar para 190 milhões de doses até o final de junho.
"Infelizmente, simplesmente não sabemos quando o próximo conjunto de doses vai se materializar", disse Gian Gandhi, coordenador de suprimentos do Unicef no Covax.
"Nossa esperança é que as coisas voltem aos trilhos, mas a situação na Índia é incerta... e há uma grande preocupação."
O Unicef está convocando os países do G7 - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, bem como a União Europeia - a doarem seus suprimentos excedentes com urgência.
Alguns países, como o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, já compraram o suficiente para vacinar sua população várias vezes.
Em fevereiro, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, prometeu doar a maior parte do excedente do Reino Unido aos países mais pobres, mas até agora não deu um prazo específico. A situação é semelhante nos Estados Unidos. Até o momento, a França é o único país do G7 que doou doses diante da crise na Índia.
O Unicef disse que os países ricos do G7 podem reduzir o déficit de vacinas para os países mais pobres, doando 20% de seus suprimentos em junho, julho e agosto. Isso liberaria cerca de 153 milhões de doses para o Covax.
A França prometeu meio milhão de doses até meados de junho. A Bélgica, por sua vez, prometeu 100 mil de seu suprimento doméstico nas próximas semanas.
Espanha, Suécia e Emirados Árabes Unidos são alguns dos poucos outros que prometeram compartilhar seus suprimentos agora.
Há sérias preocupações de que o que aconteceu na Índia possa ocorrer também em outros países - tanto próximos quanto distantes da região.
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"Os casos estão explodindo e os sistemas de saúde estão em uma situação difícil em países como Nepal, Sri Lanka e Maldivas... e também na Argentina e no Brasil", disse a diretora do Unicef, Henrietta Fore. "O custo para crianças e famílias será incalculável."
Dilema da vacina
Os países da África são alguns dos mais dependentes das doses do esquema Covax.
Mas, como em muitas partes do mundo, também tem havido hesitação em relação ao recebimento da vacina entre algumas comunidades. Outro grande desafio é colocar fisicamente as doses nos braços das pessoas - tudo isso requer que os profissionais de saúde sejam especialmente treinados e os frascos sejam transportados para partes distantes de países onde a infraestrutura pode ser limitada.
Algumas nações estão agora enfrentando a perspectiva de decidir se darão uma segunda dose aos mais vulneráveis que já receberam uma vacina ou se continuarão vacinando mais pessoas conforme planejado, na esperança de que os próximos carregamentos cheguem em breve.
"Estamos em uma situação em que os profissionais de saúde e profissionais de linha de frente em muitos países da África ainda não foram vacinados", disse Gian Gandhi. "E, ainda assim, os países de renda mais alta estão vacinando populações de baixo risco, como adolescentes."
Nações como Ruanda, Senegal e Gana já estão usando algumas de suas últimas doses restantes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Covax na África
- Sete países da África usaram quase 100% de suas doses de Covax, como Botswana, Gana, Ruanda e Senegal
- Quênia e Malaui usaram quase 90% de suas doses de Covax
- Cabo Verde e Gâmbia usaram 60% das doses de Covax
- 1,3 milhão de doses foram redistribuídas da República Democrática do Congo para outras partes da África porque o país não poderá usar todas antes de sua data de validade em junho
Fonte: OMS
"Nos sensibilizamos com a situação na Índia", diz Richard Mihigo, que chefia o programa de vacinação e desenvolvimento de vacinas da OMS na África.
"A maioria de nossas [18 milhões] doses de Covax até agora veio da Índia."
"Acho que é muito importante [manter] a promessa global de solidariedade dos países que têm vacinas suficientes - distribuí-las e compartilhá-las porque, a menos que interrompamos a transmissão em todos os lugares, será muito difícil acabar com esta pandemia, mesmo em lugares onde as pessoas foram totalmente vacinadas."
O que é Covax?
- O objetivo é distribuir dois bilhões de doses da vacina contra a covid-19 até o final de 2021
- Nenhum país receberá vacinas para mais de 20% de sua população antes que todos os países tenham vacinado pelo menos 20% da população
- O consórcio já despachou cerca de 60 milhões de doses para 122 participantes
- É uma associação pública-privada entre a OMS, a Aliança de Vacinas (Gavi) e a Coalizão para as Inovações no Preparo para Epidemias (Cepi)
- O Unicef é o principal parceiro de entrega
Novos acordos com diferentes fornecedores e fabricantes de vacinas estão em andamento para tentar colocar o esquema do Covax de volta no rumo, mas nenhum desses acordos ajudará a preencher o déficit da Índia nas próximas semanas.
A única maneira de preencher o vazio para os países mais pobres agora é a doação de parte dos suprimentos pelos países mais ricos.
"Temos emitido repetidas advertências sobre os riscos de baixar a guarda e deixar países de baixa e média renda sem acesso equitativo a vacinas, testes e medicamentos", disse Fore.
"Estamos preocupados que o aumento das mortes na Índia seja um precursor do que acontecerá se esses avisos permanecerem ignorados. Quanto mais tempo o vírus continua a se espalhar sem controle, maior o risco de surgirem variantes mais letais ou contagiosas."
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