Segundo um estudo brasileiro, o uso do medicamento tofacitinibe, da Pfizer, reduziu em 37% o risco de morte e de falência respiratória em pacientes hospitalizados por causa da Covid-19.
Publicado nesta quarta-feira (16) na revista médica The New England Journal of Medicine, o estudo foi realizado pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, vinculado ao Hospital Israelita Albert Einstein, em parceria com a Pfizer, no Brasil. As informações são da colunista da Folha Mônica Bergamo.
Atualmente, o medicamento é indicado para o tratamento de artrite reumatoide, artrite psoriásica e retocolite ulcerativa e é comercializado como Xeljanz.
O estudo foi realizado com um grupo de 289 pacientes adultos internados em 15 centros de tratamento em diversos locais do país. Segundo os resultados obtidos, houve menor incidência de óbitos ou falência respiratória por causa da Covid-19 entre pacientes que receberam o medicamento, 18.1%, em comparação aos que receberam o placebo, 29.0%.
Otavio Berwanger, médico e coordenador do estudo, explicou que o fármaco foi utilizado no segundo estágio da evolução da doença -- que sucede a manifestação dos primeiros sintomas. Ele ocorre quando o sistema imunológico começa a produzir uma intensa resposta inflamatória, sendo neste ponto em que órgãos como o pulmão e os rins são lesionados.
"O sistema imune é ativado ao entrar em contato com o vírus. Só que, em alguns pacientes, essa ativação vai além da conta. É aí que a gente tem uma 'tempestade inflamatória'", explicou o médico.
"O tofacitinibe age modulando o seu sistema imunológico para prevenir que você faça essa tempestade. Se usado no momento apropriado, ele evita a lesão do pulmão, mas principalmente a falência respiratória [quando há necessidade de ventilação mecânica] e óbitos", explicou Berwanger.
Vale salientar que o medicamento foi utilizado apenas depois da internação dos pacientes, que testaram positivo para o novo coronavírus por meio do teste RT-PCR e que apresentavam pneumonia em razão do vírus. Mesmo com o tofacitinibe, os pacientes continuaram utilizando corticoides. Desta forma, o tratamento padrão adotado não sofreu interferência.
"Não é cura, não é bala de prata, não é o que vai resolver tudo. Soluções mágicas não encontram respaldo na ciência. Mas 37% de redução no contexto que a gente está é muito importante", comemora o médico Berwanger. “É um paciente que sai mais cedo do hospital, uma família que não perde um ente, é um leito de UTI desocupado, um paciente que pode ser desenvolvido para a sociedade recuperado."
Apesar de ser um medicamento de alto custo, o Xeljanz é disponibilizado pelo SUS.